Renato Passos Brandão
Gestor Agronômico do Grupo Vittia
Walmir Magalhães
Gerente Técnico Café do Grupo Vittia
Crédito Acácio José Dianin
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café e possui uma das melhores e mais avançadas tecnologias para a sua produção. A demanda de cafés especiais no mercado mundial vem crescendo em proporções superiores que os cafés comuns, indicando a preferência dos consumidores por bebidas de melhor qualidade.
Entretanto, o café brasileiro é reconhecido no mercado internacional como um produto de qualidade inferior, enquanto países como Colômbia, Costa Rica, Guatemala e Quênia são reconhecidos pela produção de café com melhor qualidade.
A qualidade da bebida do café está relacionada à qualidade intrÃnseca dos grãos, expressando tudo que eles possuem em termos de compostos químicos, que, após a torra, irão proporcionar aroma, sabor, acidez, doçura e amargor à bebida.
Entretanto, existe um diferencial no custo de produção dos cafés especiais em relação aos comuns da ordem de 11 a 20%. Há, também, um diferencial de preço, variável de 20 a 40%, podendo chegar a 100% em alguns lotes de café.
Fatores que influenciam a qualidade da bebida do café
A qualidade da bebida do café é influenciada por inúmeros fatores, dentre os quais, genéticos, ambientais, manejo nutricional, incidência de pragas e doenças e os procedimentos na colheita e pós-colheita e suas interações. O foco deste artigo é a influência da nutrição com magnésio e boro na qualidade da bebida do café.
Magnésio e qualidade da bebida do café
Nos solos tropicais, o magnésio é o terceiro cátion mais abundante no complexo de troca, após o cálcio e hidrogênio. O fluxo de massa é o principal mecanismo de transporte do magnésio para as raízes do cafeeiro, sendo absorvido na forma iônica de Mg2+.
A absorção do magnésio pelo cafeeiro é inibida pela presença de cálcio e potássio em altas concentrações, mas principalmente pelo potássio. Isso ocorre porque o magnésio e o potássio são transportados pelos mesmos carregadores de membrana e o potássio tem preferência por apresentar menor raio de hidratação, com prejuízo para a absorção do magnésio.
O teor adequado de magnésio no solo situa-se entre 10 e 15 mmolc/dm3 e a relação do Mg/K no solo mais adequado ao cafeeiro varia de 03 e 06. O excesso de potássio nos solos induz a deficiência de magnésio no cafeeiro, prejudicando a qualidade da bebida. O fornecimento do magnésio no solo restabelece o equilíbrio com o potássio, melhorando a qualidade da bebida do café.
O magnésio é o nutriente que ativa o maior número de enzimas no cafeeiro, dentre as quais as enzimas relacionadas à síntese de carboidratos, que atuam na síntese de proteínas. O magnésio é necessário para a transferência de energia aos aminoácidos, por meio das enzimas fosforilativas.
O baixo suprimento de magnésio do solo ao cafeeiro reduz a fotossíntese, causando diminuição na síntese de fotoassimilados e comprometendo o fluxo de carboidratos das folhas para os grãos, prejudicando a produtividade, a granação e aqualidade dos grãos do café.
Boro e a qualidade do café
Nos solos tropicais, normalmente o teor de boro é muito baixo. É um elemento químico muito solúvel em água e os minerais contendo o boro possuem baixa dureza. O fluxo de massa é o principal mecanismo de transporte do boro para as raízes do cafeeiro, sendo absorvido na forma de ácido bórico (H3BO3).
A matéria orgânica é a principal fonte natural de boro ao cafeeiro e a sua disponibilidade é afetada pelo pH do solo. A maior disponibilidade do boro ao cafeeiro ocorre na faixa de pH entre 05 e 07. O teor de boro no solo deve estar entre 1,0 e 1,5 mmolc/dm3.
O boro está diretamente envolvido com o metabolismo do cálcio, atuando na formação das paredes celulares, na produção de celulose e lignina, conferindo maior tolerância do cafeeiro às pragas e doenças.
Está envolvido na translocação dos açúcares, atuando no transporte das folhas para os demais órgãos do cafeeiro, inclusive para os grãos. A deficiência de boro desorganiza os vasos condutores do cafeeiro, reduzindo a translocação dos açúcares para os grãos e resultando em morte das raízes do cafeeiro, prejudicando a absorção de água e nutrientes.
O boro afeta diretamente a qualidade da bebida porque tem efeito positivo nos teores de sacarose, trigonelina, cafeína, glicose e atividade da enzima polifenoloxidase (PPO).