Autores
Italo Marlone Gomes Sampaio
Engenheiro agrônomo, mestre em fitotecnia e doutorando em Agronomia – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
italofito@gmail.com
Sérgio Antonio Lopes de Gusmão
Mário Lopes da Silva Júnior
Professores – UFRA
Ricardo Falesi Palha de Moraes Bittencourt
Graduando em Agronomia – UFRA
Raimundo Renato de Freitas Wanzeler
Engenheiro agrônomo – UFRA
A família Asteraceae (compositae) apresenta algumas espécies cultivadas com grande aceitação mundial. Por outro lado, a família agrupa espécies com pouca expressão econômica, um grupo conhecido como hortaliças não tradicionais, em que a produção e comercialização limitam-se a mercados locais.
Neste panorama encontra-se a espécie do jambu (Acmella oleraceae (L.) R.K Jansen), uma planta da Amazônia brasileira, sendo sua ocorrência também relatada na África e Ásia. Essa hortaliça obteve grande evidência na região norte do Brasil, especificamente no Estado do Pará, onde foi introduzida com expressiva importância na cultura e gastronomia da região, tornando pratos como o tacacá patrimônio cultural imaterial da cidade de Belém.
Seu sucesso está relacionado a uma característica única sentida ao ingerir partes da planta, como folha, caule ou inflorescência, caracterizando-se pela sensação de formigamento que, posteriormente, torna a região afetada dormente.
Tal efeito está relacionado a um composto bioativo chamado de espilantol que, devido a sua comprovada ação analgésica e anestésica, vem sendo explorado na elaboração de produtos pela indústria de fármacos e cosmética. Além de sua apreciação na culinária, tendo em vista sua ação anestésica, a espécie possui utilização também como planta medicinal por povos tradicionais da Amazônia.
Formas de utilização
O uso mais conhecido do jambu é como componente importante no preparo de pratos típicos da culinária regional nortista, como o pato no tucupi e o tacacá. Além destes, o arroz paraense e a pizza de jambu são alguns dos produtos que estão sendo cada vez mais apreciados pelos consumidores locais e turistas.
Outra forma de utilização que tem conquistado o consumidor e garantido sucesso ao produto são as bebidas artesanais, produzidas a partir das inflorescências, como é o caso do licor e a cachaça de jambu. Em adição, a espécie apresenta aptidão como planta medicinal na região Amazônica, sendo usada no preparo de infusões para o tratamento de malária, anemia, dispepsia, estomatite e inflamações da boca, dentes e garganta, dentre outros.
Ademais, em algumas regiões do Brasil seu plantio ocorre em unidades produtivas que possuem o objetivo prioritário do estudo e exploração de compostos bioativos presentes na espécie.
Características botânicas da espécie
O jambu é uma planta de porte herbáceo, com altura variável entre 30 a 40 cm, ramificada e semicarnosa. Sua raiz é axial e apresenta intenso enraizamento secundário, podendo atingir cerca de 20 cm de profundidade. Além disso, possui folhas simples, cartáceas e opostas, com flores hermafroditas e dispostas em capítulos (inflorescência) e frutos tipo aquênio.
Produção de mudas
O jambu pode ser propagado de forma sexuada ou assexuada. Contudo, a propagação por sementes apresenta maior eficiência. Em condições favoráveis, a germinação ocorre dois dias após a semeadura, e a emergência de quatro a cinco dias.
Vale ressaltar que as sementes de jambu não são comercializadas – o que se observa é que nas regiões produtoras parte da área cultivada é reservada para a produção de sementes. A produção de mudas pode ser feita em canteiro previamente adubado com composto (sementeira). Outra forma prática da formação de mudas é por meio da utilização de recipiente (bandeja) e de substrato.
O substrato utilizado para a produção das mudas pode ser produzido nas propriedades ou via substratos comerciais. Independente do sistema de produção de mudas, a elevada densidade de semeadura, entre oito a dez sementes, é uma prática comum. Isto está relacionado à forma de comercialização do jambu, que ocorre em maços.
Assim sendo, o desbaste não é necessário. Aos 25 dias após a germinação ocorre o transplantio para a área definitiva, de preferência ao final da tarde.
Sistemas de produção
9 Cultivo convencional: todos os procedimentos citados anteriormente aplicam-se ao cultivo da cultura de forma tradicional ou convencional, desde a produção de mudas até a colheita. A principal característica deste sistema é a possibilidade de uso de adubos com solubilidade elevada, principalmente no que se refere a fontes nitrogenadas.
9 Produção orgânica: o cultivo de jambu no sistema orgânico obedece às mesmas técnicas utilizadas para a produção no sistema convencional. Contudo, os insumos utilizados devem estar de acordo com a legislação para a produção de alimentos orgânicos. Princípios como compostagem, rotação de culturas, cobertura morta no solo, adubos orgânicos e manejo preventivo de pragas e doenças são algumas das práticas que podem ser empregadas na produção de jambu orgânico.
9 Sistema hidropônico: o jambu tem grande adaptação aos sistemas de cultivo hidropônico, uma vez que a espécie é encontrada em condição de crescimento espontâneo em áreas alagadas. Indica-se o uso do método NFT (Nutrient Film Tecnnique), o qual proporciona plantas com alto rendimento de folhagem, ramos mais tenros, maior longevidade pós-colheita e qualidade de folhas, possibilitando ainda vários cortes sem reduzir a qualidade do produto. As principais desvantagens do sistema estão no alto custo de implantação e no conhecimento técnico que o produtor deverá ter. Alguns fatores primordiais para o sucesso do sistema são: pH e condutividade elétrica da solução nutritiva, que devem variar entre 5,5 a 6,5 e 1,6 a 2,0 mS cm-1, respectivamente; qualidade da água e o controle da temperatura na solução nutritiva.
Plantio
Na Amazônia o plantio do jambu pode ser feito durante o ano todo, principalmente quando se adota o cultivo protegido para o controle do excesso de chuvas da região. A cultura do jambu se adapta a diversos tipos de solos, e apresenta ótimo crescimento quando cultivado com adubação orgânica.
Dessa forma, recomenda-se, na adubação de base, a aplicação de 2,0 a 3,0 kg m-2 de composto orgânico ou cama de aviário, sendo incorporado até 10 cm de profundidade. Outras fontes de adubo orgânico podem ser utilizadas, devendo ser considerada a concentração dos nutrientes para evitar quantidades excessivas ou falta dos elementos.
O espaçamento pode ser de 20 x 20 cm ou de 25 x 25 cm entre grupos de plantas obtidas por meio da semeadura em bandejas. Vale lembrar que o espaçamento adotado influenciará na emissão de ramos laterais nas plantas. Quando é feito transplantio de mudas, utilizando-se uma planta por cova de plantio, o espaçamento passa a ser de 5,0 cm x 5,0 cm.
Nos primeiros cinco dias após o transplantio, recomenda-se que seja dada atenção especial à umidade do solo, que deve ser mantido próximo à capacidade de campo, podendo a irrigação ser parcelada pelo menos duas vezes ao dia.
Manejo fitossanitário
O cultivo do jambu apresenta alguns riscos que precisam ser neutralizados para não comprometer a produção nem a qualidade do produto. Para a cultura do jambu, não há nenhum agrotóxico registrado. Portanto, o manejo fitossanitário deverá ser feito de forma alternativa.
São identificados como promotores de perdas os pulgões (espécies diversas), paquinha (Neocurtilla hexadactyla (Perty)), caramujos e lesmas diversas, mosca minadora (Liriomyza spp.), e ácaros de espécies variadas. Dois fungos podem prejudicar o cultivo: a ferrugem (Puccinia sp) e o carvão (Thecaphora sp.)
Colheita
A colheita do jambu inicia-se entre 50 a 60 dias após a semeadura, período este que coincide com a fase de floração da cultura, dependendo das condições ideais de cultivo. Nesta fase as plantas possuem elevado teor de espilantol nas folhas e ramos, ponto este que se configura uma um indicador de qualidade para a espécie.
O jambu pode ser colhido por arranquio ou por corte de ramos. O produto é comercializado em forma de maços com aproximadamente 150 a 200 gramas. Quando se visa apenas a produção de inflorescência, a colheita pode ser realizada entre 70 a 90 dias após a semeadura, semanalmente, podendo estender-se por várias semanas, dependendo do sistema de cultivo, condições nutricionais e fitossanitárias da planta. Em média, a produtividade de inflorescência é de 1,0 kg por m2.
Considerações finais
Tendo em vista o crescente interesse internacional pelo sabor exótico e pela potencialidade de uso na indústria, o jambu deverá ter um forte crescimento em área plantada e produção nos próximos anos. É um impacto positivo na economia da Amazônia, pois além de não contribuir para o desmatamento, gera empregos diretos e indiretos, o que favorece a manutenção de uma economia sustentável desejada para a região.