Autores
Ronaldo Machado Junior
ronaldo.juniior@ufv.br
Rebeca Lourenço de Oliveira
rebecalourencoo@gmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres em Fitotecnia e doutorandos em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
A abobrinha italiana (Curcubita pepo L.), planta da família das cucurbitáceas, é uma das 10 hortaliças de maior valor econômico e de maior produção no Brasil, principalmente nas regiões centro e sul do País. Possui um potencial relevante por apresentar um ciclo extremamente curto (45 a 80 dias) e por ser um produto de muita demanda, podendo ser cultivado em campo tanto no verão quanto na primavera.
Em cultivo protegido, além desses períodos, pode-se produzir no outono e inverno, em que o preço do fruto pode triplicar e a produção anual duplicar, dependendo das condições do ano de cultivo. Possui frutos de formato cilíndrico e coloração verde clara com estrias verde escuras. No ponto comercial, suas dimensões variam entre 15 e 20 cm de comprimento e de 4,0 a 6,0 cm de diâmetro, pesando de 200 a 250g.
No Brasil, a abobrinha é muito apreciada pelo seu sabor, sua textura leve e por ser um alimento de baixo valor calórico (100 gramas oferecem cerca de 20 kcal). É um alimento rico em niacina, fonte de vitaminas A e do complexo B, além de ser constituída de potássio, fósforo, cálcio, sódio e magnésio.
Culinária
A abobrinha também possui grande versatilidade na forma de preparo, podendo ser consumida refogada no óleo ou azeite, cozida, em saladas frias, suflê, frita à milanesa, recheada ou como ingrediente em bolos, pizza e pastéis. Seu cozimento é rápido e não é necessário acrescentar água, pois a quantidade de água da abobrinha é suficiente para cozinhá-la.
Além de contar com propriedades benéficas à saúde, seu consumo é indicado por apresentar fácil digestão, capacidade de aliviar enjoos de gravidez e também de regular o trânsito no intestino.
Importância econômica
Segundo uma pesquisa de 2011 da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM), o valor de produção da abobrinha no Brasil (margem bruta do produtor mais os insumos) chega a R$ 361 milhões por ano.
No varejo, o valor passa de R$ 1,8 bilhão por ano. Considerando a média de preços praticados nos últimos anos, o cultivo da abobrinha é uma atividade atrativa que proporciona boa rentabilidade ao produtor. A cultura gera ainda muitos empregos, pois a utilização de mão de obra é intensa, principalmente durante a colheita
Principais regiões produtoras
A abobrinha pode ser cultivada em todo território nacional, sendo que no Norte, Nordeste e em grande parte das regiões sudeste e centro-oeste não importa a época do ano para começar o cultivo. Por outro lado, nos Estados do Sul, onde o frio é mais intenso no inverno, deve-se evitar essa época para o plantio.
Investimento
De acordo com a Emater-DF, o custo operacional total de produção em 2015 foi em torno de R$ 11.500,00 por hectare, com produtividade de 18.000 kg de frutos. A variação estacional do preço médio de abobrinha no mercado atacadista de São Paulo variou de R$ 1,16 por quilo do produto especial a R$ 1,86 por quilo de produto extra, no período de 2011 a 2016 (CEASA-Campinas/SP 2016).
Considerando o preço médio de R$ 1,50 por quilo e produtividade de 18.000 kg, o valor recebido pela venda seria de R$ 27.000,00, neste caso o produtor teria um lucro de R$ 15.500,00 por hectare com a produção de abobrinha italiana, mostrando-se uma atividade atrativa, devido ao baixo custo de implantação e ao rápido retorno financeiro em virtude do ciclo curto da cultura.
Além disso, a comercialização por meio dos programas governamentais (PAA e PNAE) e do próprio mercado consumidor traz para o produtor mais opções comerciais que podem garantir um melhor preço para seu produto e a garantia de compra.
Do plantio à colheita
A abobrinha é propagada por sementes, que podem ser compradas em lojas de produtos agropecuários ou supermercados. Para o plantio de um hectare são necessários de 4,0 a 5,0 kg de sementes.
Deve-se atentar à época do plantio, pois a planta não suporta geadas e baixas temperaturas, sendo a temperatura média ideal para o cultivo de 18°C a 27°C, e a temperatura mínima recomendada para o plantio de 15°C.
O espaçamento e a densidade de plantas vão depender principalmente da cultivar de interesse, sendo recomendado utilizar o espaçamento indicado pela recomendação técnica. Exemplo, para a Caserta, 1 x 0,7 m e para a Clarita e a Clarinda, de 1 x 1,2 m.
Na semeadura o produtor tem à disposição a semeadura dieta, no local definitivo, ou indireta, com a produção de mudas em bandeja, com seu posterior transplantio. Na semeadura direta devem-se colocar três sementes por cova ou distribui-las nos sulcos preparados previamente.
Quando nascerem duas folhas é indicado realizar o desbaste, deixando duas plantas por cova. Se a opção for por mudas oriundas de bandejas, há economia de sementes e a ‘pegada’ da planta tende a ser mais vigorosa. O transplantio para o local definitivo é feito entre 20 e 25 dias após a semeadura, quando a muda estiver com quatro a cinco folhas.
Adubação e correção de solo
A adubação e a calagem devem ser feitas a partir do diagnóstico da análise do solo, para aumentar o índice de saturação em bases para 70%. O pH ideal para a abobrinha oscila entre 6 e 6,5.
Duas semanas antes da semeadura, misture na cova ou sulco de 100 a 150 gramas de formulação NPK 4-14-8, junto com um quilo de esterco bovino curtido. Reduza as medidas pela metade se utilizar NPK 4-30-16 e esterco de aves. Faça ainda a adubação em cobertura na época de floração e frutificação. Use de 3,0 a 5,0 gramas de nitrogênio e de 15 a 25 gramas de sulfato de amônio por cova, ou ainda formulação NPK 20-0-20.
Irrigação
Em períodos de escassez de chuva deve-se fazer irrigações regulares. Caso contrário, em uma semana a produtividade pode ser prejudicada e pode causar deformação de frutos. Plantas novas, solos arenosos e temperaturas elevadas exigem irrigações mais frequentes e em menores quantidades.
Plantas adultas e solos argilosos devem ser irrigados com intervalos mais espaçados, porém, com maior quantidade de água. Evite regas e pulverizações no período da manhã, para não interferir no processo de polinização realizado pelos insetos.
Controle fitossanitário
Deve-se realizar o controle de pragas e doenças sempre que atingirem o índice de danos econômicos, sendo o oídio, viroses, fitófitora e podridão-dos-frutos as principais doenças que ocorrem na plantação. Entre as principais pragas estão vaquinhas, brocas e minador.
A ocorrência de doenças e pragas pode ser reduzida com bom manejo combinado com uso de sementes sadias. O uso de defensivos agrícolas só é recomendado para atividades comerciais e com acompanhamento técnico.
O controle de plantas invasoras pode ser realizado por meio de capina manual ou mecaniza, cobertura do solo (mulching) com filme de polietileno, papel ou material vegetal e mesmo diante da ausência de registro de herbicidas registrados para a cultura. Alguns produtores, por experiência prática, utilizam herbicidas com seletividade conhecida para essa cultura.
Colheita
A colheita pode começar de 45 a 80 dias depois do plantio, ou de cinco a sete dias depois do início da floração, dependendo da cultivar e das condições de cultivo. Recomenda-se realizar duas colheitas por semana, dos frutos com aproximadamente 20 centímetros de comprimento.
Custo-benefício
Uma boa alternativa para quem planeja iniciar ou ampliar a atividade de horticultura é o plantio de abobrinha. Adaptada a uma larga faixa de temperatura, mas sobretudo aos graus mais elevados, essa hortaliça ainda tem a seu favor a aceitação do brasileiro.