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Mancha bacteriana exige manejo diferenciado no pimentão

Jean de Oliveira Souza

Engenheiro agrônomo, pós-doutorando em Agronomia-Melhoramento Vegetal no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (CCA/UFPB)

jsoliveira1@hotmail.com

Crédito Shutterstock
Crédito Shutterstock

O cultivo de pimentão (Capsicumannuum L.) ocupa posição de destaque na produção agrícola, pois é explorado intensivamente em todo o território nacional. Ele está entre as dez hortaliças mais importantes do mercado brasileiro, sendo uma culturaque, devido ao curto período para o início da produção, apresenta retorno rápido dos investimentos, e por isso é largamente explorada por pequenos e médios horticultores.

Apesar de ser cultivada nas diversas fronteiras agrícolas brasileiras, as perdasna produção e a baixa produtividade têm sido reportadas como um dos entraves na exploração dessa hortaliça.

Entre os fatores que contribuem para a baixa produtividade e as perdas produtivas estão os problemas fitossanitários, dentre eles as bacterioses do pimentão.

A mancha-bacteriana é uma das mais importantes nas condições de produção do Brasil. Os danos em produtividade são decorrentes da ineficácia de produtos químicos, como fungicidas cúpricos e antibióticos agrícolas utilizados.

A bactéria Xanthomonassp., agente causal da doença, tem acentuada variabilidade, existindo quatro grupos distintos:X. campestrispv.vesicatoria;X. vesicatoria; X. perforans e X. gardneri. Porém, Xanthomonascampestrispv. Vesicatoria é considerada a espécie mais comum em pimentão.

O patógeno pode ser disseminado por sementes, e é capaz de reduzir sensivelmente a produção pela depreciação que ocasiona ao fruto, inviabilizando a sua comercialização.

O ataque

A bactéria pode atacar qualquer órgão aéreo da planta, em qualquer estádio de desenvolvimento. Pode causar danos foliares enormes sobre certas condições ambientais, tanto em ambiente protegido quanto no campo, acarretando perda da produção e qualidade dos frutos.

No canteiro, a doença provoca a queda de folhas novas, o que atrasa o desenvolvimento da planta. Contudo, essas plantas podem se recuperar no campo se as condições de umidade não forem elevadas.

No campo, os sintomas iniciais nas folhas são pequenas manchas, de 2 a 4 mm de diâmetro, com aspecto encharcado que, ao crescerem, se tornam pardas e depois necrosam, podendo atingir até 1 cm.

As lesões podem ocorrer em grande número e, nesse caso, as folhas caem com facilidade. Nos frutos, as lesões são deprimidas, esbranquiçadas, irregulares e circundadas por um halo castanho escuro. Também, nos frutos as lesões podem ocorrer em grande número e, embora não causem sua queda, o patógeno pode alcançar o interior e infectar as sementes.

Temperatura e umidade elevadas são as condições mais favoráveis à ocorrência da doença, a qual, em regiões serranas, é mais severa em sementeiras e viveiros. A faixa de temperatura ideal para a ocorrência da doença sob umidade elevada varia de 25 a 28ºC.

Os principais responsáveis pela disseminação da doença em uma lavoura de pimentão são a água de chuva ou irrigação e partículas de solo carregadas pelo vento. A utilização de mudas infectadas tem sido a forma mais comum de introdução da doença em áreas não contaminadas.

 As bacterioses são os principais problemas fitossanitários - Crédito Shutterstock
As bacterioses são os principais problemas fitossanitários – Crédito Shutterstock

Controle

No campo, a mancha-bacteriana é de difícil controle, devido, principalmente, à baixa eficiência dos antibióticos e à predominância de estirpes resistentes ao sulfato de estreptomicina e aos produtos à base de cobre.

Apesar de serem recomendados no início da ocorrência da doença, os antibióticos contribuem para a seleção de populações resistentes, para o aumento do risco de contaminação ambiental e do consumidor e para o aumento do custo de produção.

Uma alternativa eficiente é o uso de cultivares de pimentão com resistência.A resistência genética é desejada, uma vez que reduz a contaminação do ambiente e dos alimentos pelo uso de agrotóxicos.

Pimentão mais resistente

Embora não exista, atualmente, cultivares de pimentão com nível adequado de resistência à murcha-bacteriana, a busca tem sido uma prioridade em vários programas de melhoramento.

Com o objetivo de se obter cultivares de C. annuum resistentes à mancha-bacteriana, experimentos têm sido conduzidos em diferentes instituições. A Embrapa possui um banco de germoplasma com 650 acessos de Capsicum spp.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) desenvolve, desde 1976, um programa de melhoramento genético do pimentão visando incorporar resistência a esse patógeno. Na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), diversos trabalhos já foram realizados objetivando o desenvolvimento de C. annuum resistentes à mancha-bacteriana, identificando vários genótipos como fontes de resistência.

Contudo, como ainda não existem disponíveis no mercado cultivares de pimentão resistente à mancha-bacteriana, a melhor maneira de controlar a doença é pela prevenção, que deve incluir o uso de sementes e mudas sadias, obtidas a partir de lavouras livres da doença, e a rotação de culturas, evitando solanáceas.

A rotação de culturas é recomendada, já que a bactéria não apresenta boa sobrevivência nos restos culturais. Esses cuidados são essenciais para a redução da doença.

Essa matéria você encontra na edição de abril 2016  da revista Campo & Negócios Hortifrúti. Adquira já a sua.

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