Adeney de Freitas Bueno
Pesquisador em Manejo Integrado de Pragas da Embrapa Soja
Entre os percevejos que podem atacar a soja, aqueles que sugam as vagens estão entre as principais pragas da cultura. Esses insetos podem ser de várias espécies que ocorrem juntas ou isoladamente. Entre elas o percevejo-marrom é a espécie mais importante devido a sua abundância e distribuição em todo o país.
Ao atacar as vagens, ocasionam a perda de peso do grão, além de abrir porta para microrganismos que comprometem a qualidade do produto colhido. Ataques em vagens em início de formação podem também levar ao abortamento das mesmas.
É importante salientar que essa praga só causa dano econômico à soja quando seu ataque ocorre no período reprodutivo da cultura, ou seja, quando a mesma apresenta vagens. A presença de percevejos em estádios precoces da cultura isto é, quando a planta ainda não iniciou a formação das vagens,pode ocorrer, entretanto, sem qualquer prejuízo à produtividade da lavoura.
Danos
Existe um grupo grande de lagartas que pode atacar a cultura da soja. Entre elas a lagarta-da-soja e a lagarta falsa-medideirasão as espécies mais comuns e importantes. Elas se alimentam das folhas dasoja, causando o desfolhamento, que reduz a capacidade fotossintética da planta.
Quando essa desfolha for superior a 30% durante o período vegetativo do desenvolvimento da lavoura (antes do surgimento das flores) ou superior a 15% durante o período reprodutivo do desenvolvimento da lavoura (após o surgimento das flores), a capacidade fotossintética é reduzida ao ponto de faltar “alimento“ para a planta, o que compromete seu desenvolvimento e, consequentemente, sua produtividade.
Existem também outras lagartas, como aquelas do grupo das lagartas-das-vagens, e dasHeliothinae, que além de desfolharem a planta de soja, podem também atacar as vagens, reduzindo diretamente a produtividade, além de abrir caminho para fungos e outros patógenos que reduzem a qualidade dos grãos produzidos.
Controle efetivo
O manejo integrado de pragas da soja (MIP-Soja) preconiza que a soja, mesmo as cultivares modernas, têm uma tolerância ao ataque de pragas antes de ter sua produtividade ameaçada.
Assim, infestações de insetos-pragas são toleráveis até um determinado nível (nível de dano econômico), sem que haja qualquer redução econômica da produtividade. Portanto, a aplicação de inseticidas é apenas justificável quando a população de pragas for igual ou superior aos níveis de ação (NA), que representa o momento certopara o controle ser realizado.
Qualquer aplicação de inseticida antes do nível de ação ser atingido é um desperdÃcio de dinheiro, além de propiciar a seleção de populações de insetos resistentes aos inseticidas, o que pode comprometer a eficácia e a longevidade do produto.
Assim, o combate a esses males deve ser sempre realizado com o MIP, que pode ser resumido em:
- a) Dividir a área cultivada em talhões homogêneos quanto a:
– Época de semeadura
– Cultivar
– Características de fertilidade de solo, etc.
Embora o tamanho de cada talhão dependa de cada caso, 100 hadeve ser considerado como tamanho máximo. Em caso de áreas maiores, a recomendação é a divisão em talhões menores, para que a precisão do monitoramento não seja comprometida.
- b) Fazer o monitoramento de pragas em cada talhão seguindo os passos detalhados na figura abaixo:
Passos 1 e 2: Posição do pano entre as linhas de soja;
Passo 3: Agitação de apenas uma linha da cultura por amostragem; e
Passo 4: Posição para contagem dos insetos que ficaram sobre o pano-de-batida.
Quanto mais pontos de amostragem forem realizados por talhão, maior será a precisão dos resultados obtidos, entretanto, é preciso realizar, no mÃnimo, 10 pontos de amostragem para talhões entre 31 a 100 ha.
- c) Anotar a infestação de cada espécie de praga separadamente em um formulário adaptado para a realidade de cada região.
- d) Calcular a média da infestação de cada praga por amostragem (1 pano-de-batida = 1 metro), dividindo o total de cada praga observada pelo número de pontos amostrados.
- e) Tomar a decisão correta de manejo:
– Compare a infestação média de cada praga no talhão com o nível de ação recomendado pela pesquisa. Somente quando a população média das pragas for igual ou maior que o “nível de ação“, justifica-se a aplicação de medidas de controle.
– Não utilize preventivamente os inseticidas (em populações baixas de insetos ou na ausência das pragas). Prejuízos econômicos ocorrem apenas quando a população de pragas ultrapassa o nível de dano econômico, que é superior ao nível de ação, determinado a partir de resultados obtidos pela pesquisa.
– A opção por inseticidas eficientes e mais seletivos aos insetos benéficos (inimigos naturais) auxilia na manutenção do equilíbrio no agro-ecossistema e é parte fundamental das estratégias de MIP.