Carlos Antonio dos Santos
Engenheiroagrônomo e doutorando em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Caio Soares Diniz
Graduando em Agronomia pela UFRRJ
Margarida Goréte Ferreira do Carmo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora na UFRRJ
A presença de pragas e doenças que ameaçam o desenvolvimento do tomate faz com que os pés da fruta sejam alvo de grande volume de defensivos agrícolas nos cultivos convencionais. Porém, o sistema orgânico permite realizar preparo do solo, plantio, condução da planta, controle de pragas e doenças, frutificação, colheita e beneficiamento sem maiores problemas, desde que o produtor esteja bem orientado.
A produção de tomate em sistemas convencionais normalmente é feita com aplicação sistemática de agrotóxicos (inseticidas, acaricidas, fungicidas, bactericidas) para controle de um grande número de pragas e doenças que atacam a cultura.
Estas elevadas e frequentes aplicações elevam o custo de produção, afetam o equilíbrio biológico do sistema e contaminam o meio ambiente, os frutos e os trabalhadores. Cientes deste quadro, muitos consumidores têm optado pelo tomate orgânico, ou seja, produzido sob manejo orgânico, em que o manejo deve seguir uma legislação específica e rigorosa que inclui a proibição do uso de agrotóxicos.
O tomate orgânico é um dos produtos mais procurados pelos consumidores e tem um alto valor no mercado. Este segmento tem também trabalhado com frutos não convencionais de tomate, como pequenos e coloridos, do grupo cereja, além de tomate italiano.
Cultivo
O cultivo de tomate orgânico pode ser feito tanto em condições de campo como em casa devegetação, dependendo do nível tecnológico e capacidade de investimento do produtor. O cultivo em ambiente protegido, em casa devegetação, tem como vantagens a maior proteção das plantas das adversidades climáticas e uma maior facilidade no manejo fitossanitário.
Em ambos os casos, a qualidade física, quÃmica e biológica do solo é fator essencial para cultivos bem sucedidos. A análise da fertilidade do solo é importante para nortear as recomendações quanto à necessidade de correção de acidez, feita por meio de aplicação de calcário, e de adição de fontes de macronutrientes como fósforo, potássio, cálcio, magnésio.
Outro item essencial é o enriquecimento do solo com matéria orgânica, seja por meio de aplicação de compostos orgânicos ou adubos verdes. Práticas que levam à diversificação do sistema, como rotação com outras culturas, uso de cercas vivas, manutenção de cobertura morta no solo e cultivo de outras espécies também são práticas importantes para o manejo orgânico do tomateiro.
Cuidados
Na adubação verde podem ser utilizadas plantas leguminosas como a mucuna, crotalária e ervilhaca, e de gramÃneas como milheto e aveia-preta. As espécies recomendadas variam em função da região de plantio e da estação do ano.
O corte e a leve incorporação destas ou apenas o corte deve ser feito no início da floração e previamente ao transplantio do tomateiro. Diferentemente da agricultura convencional, nos cultivos orgânicos somente se faz uso de fertilizantes minerais de origem natural e de baixa solubilidade, como por exemplo, os fosfatos naturais, os calcários e os pós de rocha moÃdos, conforme as IN’s 46/2011 e 17/2014.
De igual forma, poderão ser utilizados estercos de animais, desde que compostados, tortas como a de mamona, e compostos orgânicos incluindo os do tipo Bokashi. Deve-se dar preferência aos produtos e resíduos obtidos na própria propriedade.
A procedência da água e o manejo adequado da irrigação também devem ser observados. Cuidados especiais devem ser dados a todos os detalhes do processo produtivo, especialmente no que se refere ao manejo de pragas e doenças.
Manejo de doenças
O manejo fitossanitário na produção de tomate orgânico deve ser visto de forma sistêmica e considerando as diferentes interações entre as plantas, o ambiente e o próprio patógeno. O manejo adequado do solo e da cultura e a adoção de medidas de caráter preventivo podem facilitar o controle das doenças e amenizar as perdas.
Estas medidas incluem rotação com culturas não hospedeiras de patógenos que causam doenças no tomateiro, cultivo distante de outras lavouras de tomate ou outra solanácea, manejo adequado do solo, uso de sementes e mudas sadias e de qualidade, plantios não adensados e condução vertical das plantas, uso de água de qualidade e isenta de contaminação e manejo correto da irrigação, evitando excessos, períodos prolongados de molhamento foliar e escoamentos superficiais de água.
Fundamental também é priorizar cultivares adaptadas e resistentes às principais doenças da cultura. Caso necessário, algumas medidas pontuais de controle podem ser adotadas, como a aplicação de produtos que tenham ação fungicida, como extratos de plantas e óleos essenciais.
Em situações específicas, e dependendo da certificadora, poderá também ser utilizada a calda bordalesa, produto que tem o cobre como princÃpio ativo. Esta e outras caldas são de uso restrito e devem ser aplicadas, desde que obedecendo o limite de até 06kg/ha/ano de cobre.