Renato Passos Brandão
Gerente especialista em Nutrição Vegetal
Raphael Bianco R. L. Rodrigues
Gerente técnico de São Paulo e Sul de Minas
Apesar dos problemas polÃtico-econômicos dos últimos anos, a cana-de-açúcar ainda é uma das principais culturas do agronegócio nacional. O Brasil é o maior produtor mundial e na safra 2018/19 a área cultivada com cana-de-açúcar está estimada em 8,61 milhões de hectares.
A região centro-sul possui aproximadamente 90% da área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil e o Estado de São Paulo é responsável por 60%, seguido pelos Estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul (Conab, 2018).
A produtividade da cana-de-açúcar na safra 2018/19 está prevista para 72 t/ha. É considerada relativamente baixa em comparação ao potencial genético das atuais variedades de cana. Um dos fatores que vem contribuindo para a baixa produtividade da cana-de-açúcar é a expansão da cultura para áreas com solos de baixa fertilidade e as condições climáticas desfavoráveis nas últimas safras em determinadas fases da cultura ““ veranicos.
Além disso, a produção de açúcar por hectare também está aquém do potencial da cultura, reflexo em baixo ATR ““ açúcar total recuperável.
O objetivo deste artigo é abordar a importância dos micronutrientes na cultura da cana-de-açúcar.
Nutrição x produtividade da cana-de-açúcar
A nutrição é um dos fatores de produção que mais afeta a produtividade das culturas. Experimentos de longa duração realizados na Estação Experimental de Rothamsted, na Inglaterra, verificaram que a adubação equilibrada das culturas produtoras de grãos é responsável por incrementos de 40% na produtividade.
A adubação com macronutrientes é uma realidade na cultura da cana-de-açúcar, sendo fornecidos via fertilizantes, gesso agrícola e calcário dolomÃtico. Recentemente, com o sistema de cultivo da cana crua, ocorreu aumento nas doses de nitrogênio na soqueira da cana.
Entretanto, em relação aos micronutrientes, ainda persistem dúvidas. Em muitas situações, as respostas da cana-de-açúcar aos micronutrientes têm sido baixas ou nulas, causando uma descrença na utilização destes nutrientes em escala comercial. Entretanto, há um grande potencial de resposta ao boro e zinco e em determinados solos e sistemas de produção, ao cobre, manganês e molibdênio.
O que são micronutrientes?
Os micronutrientes, também denominados de elementos-traços ou elementos menores, são os elementos químicos essenciais ao desenvolvimento das plantas, requeridos em pequenas quantidades pela cana-de-açúcar na ordem de g/ha (Tabela 1).
Tabela 1. Extração e exportação de micronutrientes para a produção de 100 t de colmos de cana (Orlando Filho, 1983)
Partes da planta | B | Cu | Fe | Mn | Zn |
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – g – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – | |||||
Colmos | 149 | 234 | 1.393 | 1.052 | 369 |
Folhas | 86 | 105 | 5.525 | 1.420 | 223 |
Total | 235 | 339 | 6.918 | 2.472 | 592 |
Isso, no entanto, não implica de forma nenhuma em uma função secundária. A deficiência dos micronutrientes nas culturas pode causar sérios problemas ao metabolismo das plantas, comprometendo a produtividade agrícola.
Basicamente, os micronutrientes, exceto o boro e o cloro, atuam como catalisadores ou ativadores das reações enzimáticas. Sem os micronutrientes atuando como “arranque“, o sistema enzimático nas plantas seria simplesmente uma massa inerte de proteínas (Gupta, 2001).
Atualmente, oito elementos químicos são classificados como micronutrientes: boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), nÃquel (Ni) e zinco (Zn). Em 1986 o nÃquel foi o último elemento químico reconhecido como essencial às plantas e classificado como micronutriente. É componente da urease, enzima que catalisa a reação da ureia [CO(NH2)2] Ã amônia (NH3) e gás carbônico (CO2), conforme equação a seguir (Marschner, 1986).
CO(NH2)2 + H2O → 2NH3 + CO2
Segundo Marschner (1995), a lista de micronutrientes tende a aumentar, considerando o avanço da tecnologia de detecção, bem como a possibilidade de utilização de produtos cada vez mais puros quimicamente em investigações de essencialidade.