Autores
Felipe Augusto Moretti Ferreira Pinto
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e pesquisador da Epagri/Estação Experimental de São Joaquim
felipemoretti113@hotmail.com
Henrique Novaes Medeiros
Graduando em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
hmedeiros@agronomia.ufla.br
O milho (Zea mays) pode ser utilizado de diversas formas, desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia. A alimentação humana, com derivados de milho, constitui fator importante de uso desse cereal em regiões de baixa renda, o que confere ao grão alta importância econômica e social no Brasil.
Devido à expansão do cultivo de soja, durante a década de 1990 o milho foi diminuindo em quantidade de área plantada, entretanto, foi introduzida a técnica de plantio do milho após a colheita da safra de verão, chamada de segunda safra ou safrinha do milho, que ocorre normalmente entre janeiro e abril.
O grande triunfo dessa técnica consiste em utilizar a área em um período antes improdutivo, porém, é necessário traçar um bom planejamento para executar. No ciclo 2000-01 o milho de primeira safra representava cerca de 85%, enquanto o de segunda safra era responsável por apenas 15%. Nas últimas safras o milho de segunda safra foi responsável por cerca de 70% (Conab, 2019).
Segundo dados da Conab, na segunda safra de milho de 2018, os maiores produtores foram os Estados do Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais. Não houve produção de milho safrinha ou segunda safra somente nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espirito Santo, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Produção recorde
No último ano a safrinha bateu recorde de produção, alcançando 70 milhões de toneladas, sendo 31% maior que a do ciclo anterior. Houve aumento de área em 7% e em produtividade de cerca de 22% (Conab, 2019).
A segunda safra, ou safrinha de milho, traz algumas vantagens aos produtores, como expectativa de preço melhor de vendas, devido ao período de entressafra, diminuição dos preços de insumos, baixo investimento e manutenção da proteção do solo em sistema de plantio direto.
Apesar das vantagens, existem riscos envolvidos no cultivo fora de época, pois pode haver déficit hídrico, falta de luminosidade e insolação necessária para a cultura. Entretanto, com o desenvolvimento e uso de tecnologias os produtores têm conseguido atingir níveis semelhantes em relação à produtividade alcançada na produção do milho semeado no verão ou primeira safra.
Por onde começar
Para obter sucesso na segunda safra de milho é necessário realizar um planejamento agrícola minucioso, pois a semeadura deve ocorrer o mais cedo possível para diminuir os riscos. Entretanto, a semeadura está atrelada à colheita do plantio anterior. Além disso é necessário utilizar as tecnologias disponíveis para garantir o sucesso na atividade, tais como realizar o tratamento de sementes, fazer o manejo adequado de pragas e realizar a aplicação preventiva de fungicidas para o controle de doenças.
Normalmente ocorre o plantio de soja e a sucessão com o milho safrinha. Assim, é preciso escolher a soja com a precocidade adequada para que não ocorram atrasos na colheita que irão impactar na semeadura do milho.
Um pequeno atraso na semeadura pode resultar em muitos dias a mais para a planta completar o ciclo. Como esse sistema utilizando soja-milho vem ocorrendo com bastante frequência, é possível antecipar a colheita da soja, optando por variedades mais precoces disponíveis e recomendadas para a região, fazendo a semeadura assim que o período de vazio sanitário for finalizado na região.
Desse modo, a semeadura do milho safrinha será realizada mais cedo, promovendo maior aproveitamento dos recursos e do potencial produtivo dos híbridos. Além disso, deve-se levar em consideração o local que será implantado o plantio, pois dependendo do local não será possível sem a utilização de irrigação.
Híbridos
Deve-se ter atenção aos híbridos que serão cultivados, dando preferência aos superprecoces, principalmente se a região apresentar riscos de geadas ou falta de água no final do ciclo da cultura.
Outro ponto a ser considerado na escolha é que o ciclo do milho de segunda safra se alonga em torno de um mês a mais em relação ao de primeira safra, devido à diminuição de insolação e temperatura. Mesmo seguindo a rigor o planejamento, tem que ser levado em consideração que o milho de segunda safra não irá produzir igual ao milho cultivado na primeira safra, pois não há recursos para que a planta desenvolva altas produtividades, apesar de já existirem híbridos com maior tolerância à seca e menores temperaturas, que apresentam maior potencial produtivo.
Ponto a ponto
Deve ser realizada a análise do solo para verificar se a demanda do milho safrinha será atendida, e em caso negativo é necessário realizar a calagem para correção do solo. Após a correção do solo, deve ser feito o preparo deste, quando o sistema adotado é o convencional.
Sempre é recomendável que o plantio seja realizado em solos com boa fertilidade e com teores de nutrientes em níveis adequados. No plantio é recomendada a realização da adubação com fósforo e potássio. Entre os estádios V6 e V8 é recomendada a adubação de cobertura com nitrogênio, pois nessa fase as plantas demandam esse nutriente para o crescimento vegetativo.
Ainda em relação à escolha dos híbridos é importante considerar materiais com resistência às doenças da região e realizar o manejo integrado de doenças e pragas, além de fazer a adubação nitrogenada.
O controle de plantas daninhas deve ser realizado com a utilização de herbicidas até o estágio V4, pois pode ocorrer competição com o milho, diminuindo a produtividade, mesmo quando se utiliza o plantio direto, o que dificulta o estabelecimento das plantas daninhas.
Em relação às pragas, ocorre menor pressão na segunda safra devido à diminuição de temperatura e umidade, condições que desfavorecem os insetos e acarretam em menor reprodução destes. A sucessão de culturas não deve ser realizada utilizando milho seguido de milho, pois isso favorecerá a sobrevivência de fungos, principalmente os causadores de podridões da espiga, quebramento do colmo e produtores de micotoxinas, como Stenocarpella spp. e Fusarium spp.
O monitoramento de pragas e doenças deve ser constante e realizado ao longo do ciclo, pois apesar das condições serem menos favoráveis, podem ocorrer ataques que resultam em prejuízo se o produtor não tomar medidas para efetuar o manejo adequado.
Colheita na hora certa
Outro ponto importante na safrinha de milho é a colheita, que deve ser realizada o mais próximo do ponto de colheita ideal, para que o milho não seja retirado com muita umidade, exigindo depois secagem para que possa ser armazenado. Tampouco deve ser colhido após o ponto, pois o grão passará a utilizar suas reservas para se manter e isso irá diminuir a quantidade de amido.
Assim, o indicado é que a colheita seja planejada e realizada quando o milho estiver com 18 a 20% de umidade e seja armazenado com 13% de umidade para que não ocorram deteriorações.
No tempo certo
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