Rubens Augusto de Miranda
Pesquisador da área de Economia Agrícola da Embrapa Milho e Sorgo
Após colher uma safra recorde de milho em 2016/17, 97,8 milhões de toneladas nas estimativas da Conab, um resultado natural e esperado seria uma retração em 2017/18. Isso porque aumentos acentuados na oferta não costumam vir acompanhados por crescimentos equivalentes no consumo, resultando numa produção excedente que impacta negativamente os preços.
Após um ano, tais expectativas relativas à área plantada se confirmaram em 2017/18. Segundo a Conab, a área plantada e a produção na primeira safra reduziram, respectivamente, 383,5 mil ha (7,2%) e 3,67 milhões de toneladas (12,1%).
Também ocorreu uma redução da área plantada na safrinha em 533,4 mil ha (4,4%), mas a redução da produção ainda foi exacerbada pelos problemas climáticos amplamente noticiados. Assim, a segunda safra, nas atuais estimativas, terá uma queda de 9,16 milhões de toneladas (13,6%). Somados os resultados das duas safras, a redução da produção de milho em 2017/18 será próxima de 13 milhões de toneladas.
O comportamento dos preços
Ao longo do último ano, os preços do milho no Brasil persistiram em se comportar em desacordo com as expectativas. Com a colheita da safra recorde de milho em 2016/17, o excedente do grão, a despeito da quantidade recorde exportada (próximo de 31 milhões de toneladas), elevou os estoques de passagem em 10,76 milhões de toneladas. Os estoques de milho passaram de 6,95 milhões de toneladas para 17,71 milhões de toneladas, um patamar jamais visto. Em outras palavras, sobrou muito milho no País ao final da safra 2016/17.
Neste cenário, a sabedoria convencional aponta para uma expectativa de queda nos preços no decorrer da safra seguinte. Entretanto, não foi o que vimos. As cotações médias da saca de milho no Brasil entre agosto do ano passado e maio deste ano subiram sistematicamente mês a mês, resultando no aumento de 62% dos preços no período.
A despeito da “sobra“ de milho na safra 2016/17, o desempenho espetacular das exportações do cereal no segundo semestre, com 26 milhões de toneladas embarcados, contribuiu para a sucessiva melhora nas cotações.
Outro fator que contribuiu para a sustentação dos preços foi a diminuição da produção no atual ano agrícola. Contudo, a safrinha de milho de 2018 iniciou com alguns problemas relativos ao ciclo da soja. O excesso de chuvas durante o período de semeadura e de colheita atrasou o ciclo da oleaginosa em algumas das principais regiões produtoras do País, com a perda da janela ideal de plantio. O resultado prático é que muitos produtores optaram por não plantar o milho no inverno, reduzindo a área plantada de cereal na segunda safra.
Após a colheita da safra verão e início do plantio da safrinha de 2018, diversos relatos apontavam para a recusa da negociação do milho pelos produtores, para a obtenção de melhores preços. Neste quadro com produtores evitando negociar, o milho abundante no País não estava sendo amplamente ofertado, favorecendo a manutenção dos aumentos nas cotações.
Essa percepção dos produtores vendendo o milho a conta-gotas (sempre abaixo das necessidades do mercado) e sustentando a alta dos preços foi reforçada ao longo do primeiro semestre. Alguns analistas apontam que o comportamento de muitos produtores em segurar as negociações jogou um papel fundamental no aumento das cotações do cereal.
Para o segundo semestre, é preciso prestar atenção no desenrolar das crises atuais. A greve dos caminhoneiros afetou as principais cadeias produtivas do milho com efeitos duradouros. Informações indicam que a recuperação do ciclo de produção pode levar até seis meses para o setor de suÃnos e quase dois meses para as aves.