Leandro Luiz Marcuzzo
Fitopatologista e professor do Instituto Federal Catarinense (IFC)/Campus Rio do Sul
A mistura em tanque é definida como a associação de agrotóxicos e afins no tanque do equipamento aplicador, imediatamente antes da pulverização, e foi regulamentada pelo decreto Nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que traz em seu artigo 1°, inciso XXV, a definição desse procedimento como: “Mistura em tanque é a associação de agrotóxicos e afins no tanque do equipamento aplicador, imediatamente antes da aplicação“.
A situação atual, baseada na Instrução Normativa Nº 46 SDA / MAPA ““ 26.07.2002 “determina a retirada dos rótulos das recomendações de Mistura em Tanque“ e Carta ANDEF/SINDAG/AENDA ao MAPA ““ 13.08.2002 “Solicitam regulamentação urgente das misturas em tanque“, sendo estes os últimos documentos publicados acerca desse tema.
A aplicação conjunta de inseticidas e fungicidas atualmente é proibida pela legislação brasileira, porém, elas são realizadas com grande frequência.
Na prática
A mistura de agrotóxicos ou afins em tanque normalmente feita pelo produtor rural tem como objetivo a redução de custos, do número de entradas na área, de combustÃvel e do volume de água, a menor compactação do solo, o menor tempo de exposição do trabalhador rural ao agrotóxico e o melhor manejo e prevenção da resistência de pragas.
No entendimento da Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos (AENDA) (2011), a mistura em tanque não é proibida e pode ser praticada pelo agricultor, sob sua responsabilidade. No entanto, é preciso entender que qualquer agrotóxico só pode ser receitado por um profissional legalmente habilitado, e os produtos só poderão ser prescritos com observância das recomendações de uso aprovadas em rótulo e bula, conforme estabelece o Decreto 4.074/02.
Assim, mesmo que a mistura em tanque não seja proibida, não pode ser prescrita em uma receita agronômica, pois o profissional que recomendar isso estará infringido a legislação e sofrerá as medidas cabÃveis da fiscalização de defesa sanitária vegetais.
Riscos
A prática de mistura em tanque pode resultar em três situações diferentes:
ÃœEfeito aditivo: quando a eficiência do produto é similar ou igual à aplicação de ambos individualmente;
ÃœEfeito sinérgico: quando um produto aumenta a eficiência do outro por meio da mistura;
ÃœEfeito antagônico: quando um produto interfere negativamente na eficiência do outro.
No entanto,a incompatibilidade de um princÃpio ativo com outro pode causar a ineficácia do produto sobre o alvo e não efetuar o controle desejado, bem como comprometer o equipamento aplicador pelo entupimento de bicos devido à precipitação ou cristalização do princÃpio ativo.
Segundo Leite & Uemura alguns princÃpios ativos que não podem ser misturados:
PrincÃpio ativo | Grupo | Modo de ação | Incompatibilidade |
Enxofre | Enxofre elementar | Contato | Caldas oleosas |
Captan | Dicarboximida | Contato | Produtos alcalinos |
Cimoxanil +
Famoxadona |
Acetamida + oxazolidinadiona | Contato | Produtos alcalinos |
Clorotalonil | Isoftalonitrila | Contato | Óleos em geral |
Clorotalonil | Isoftalonitrila | Contato | Óleos em geral |
Ditianona | Quinona | Contato | Produtos alcalinos e óleo mineral |
Enxofre | Inorgânico | Contato | Produtos à base de óleo |
Famoxadona + mancozebe |
Oxazolidinadiona + ditiocarbamato |
Contato | Produtos alcalinos |
Folpet | Dicarboximida | Contato | Produtos alcalinos |
Mancozebe | Ditiocarbamato | Contato | Produtos alcalinos |
Mancozebe + oxicloreto de cobre |
Ditiocarbamato+
Inorgânico |
Contato | Produtos alcalinos |
Oxicloreto de cobre | Inorgânico | Contato | Calda sulfocálcica e carbamatos, dicloram, carbamatos e cloropropi |
Azoxistrobina | Estrobirulina | Sistêmico | Óleos em geral |
Fosetil | Fosfonato | Sistêmico | Óxido cuproso, fertilizantes foliares MAP e DAP |
Cimoxanil+
Mancozebe |
Acetamida +
Ditiocarbamato |
Sistêmico | Produtos de reação alcalina |
Ciproconazol | Triazol | Sistêmico | Sulfato de zinco e manganês |
Fenarimol | Pirimidinil carbinol | Sistêmico | Produtos alcalinos |
Tiofanato metÃlico |
Benzimidazol | Sistêmico | Cúpricos e produtos alcalinos |
Clorotalonil + tiofanatto metÃlico |
Isoftalonitrila + benzimidazol |
Sistêmico e contato | Óleo mineral |
Clorotalonil + tiofanatto metÃlico |
Isoftalonitrila + benzimidazol |
Sistêmico e contato | Óleo mineral |
Dimetomorfe | Morfolina | Sistêmico e contato | Produtos alcalinos |