Neste dia 28 de março o Moinho Sete Irmãos realizou o 5º Encontro de Produtores de Trigo de Minas Gerais,em Uberlândia (MG). “Este já é um evento tradicional para nós, e procuramos levar ao produtor o que há de melhor em informações sobre a semente para se trabalhar, a expectativa de comercialização dessa produção, o cenário mundial de trigo, além de dados técnicos e comerciais que possam melhorar o resultado do produtor e,consequentemente, a relação do moinho com ele“, diz José Flávio Neves Mohallem, presidente do Moinho Sete Irmãos.
O evento teve como público os produtores locais e técnicos da área, reunindo 50 visitantes, e só não foi maior em virtude da safra agrícola de soja, que tomou o tempo no campo.
Palestras
O Encontro foi aberto com uma palestra que focou informações sobre o Moinho e o período que ele está atravessando. “Estamos reestruturando e implantando novos projetos. Depois trouxemos a parte de comercialização nacional e internacional de trigo, dada por um profissional da região de Minas Gerais. Também trouxemos um técnico da Embrapa que falou sobre as várias soluções que podem ser aplicadas no Estado, mostrando a performance e resultados de cultivares“, pontua José Flávio.
Durante o evento foram apresentadas, ainda, as necessidades do Moinho em relação à qualidade do trigo, expondo a demanda e o sincronismo necessário entre o produtor de trigo e a indústria.
Por último, foi feita uma visita técnica ao Moinho para apresentar todo o processo de produção. O evento tem o intuito de fomentar a produção de trigo local, confirmando a viabilidade do segmento e também aproximar o produtor ao Moinho Sete Irmãos, uma empresa segura e estruturada, com mais de 60 anos de mercado, que garante a compra da produção local. “Mostramos a eles que estamos em uma posição firme de compra, crescendo nossa produção e a demanda por trigo“, define o empresário.
Novos projetos
O Moinho Sete Irmãos revitalizou a imagem de sua marca mais expressiva, a Lunar, criando uma nova linguagem visual e mudança das embalagens, e está agora fazendo um trabalho comercial mais forte, atuando em outras regiões de maneira devidamente para aumentar sua produção.
“Desde o final de 2017 estamos trabalhando com três turnos no Moinho, o que está nos levando a recordes mensais de produção e, evidentemente, de vendas. Estamos crescendo e atuando em áreas como estocagem e expedição, com projetos mais ousados na reestruturação do parque fabril. Estimamos um tempo de dois anos para ser concluÃdo, mas já estamos na fase de estudo e entendimento deste projeto“, revela José Flávio, que se mostra focado na melhoria de relacionamento, criando novos modelos de atendimento a seus clientes.
Números
O Moinho Sete Irmãos compra uma média de 70 mil toneladas de trigo por ano. O obstáculo tem sido a concentração da safra na região em dois ou três meses, um produto de ótima qualidade, mas que é escasso no resto do ano. “Isso é ruim porque não conseguimos comprar o ano inteiro, o que gostarÃamos, já que o trigo da região é de ótima qualidade“, lamenta José Flávio.
A solução proposta tem sido uma comercialização diferenciada, que permita uma maior participação de produção no Triângulo Mineiro, com estocagem e financiamento da safra. O investimento em armazenagem pode ser feito pelo produtor ou pelo Moinho Sete Irmãos – este último já projeta para este ano aumentar sua estrutura de estocagem.
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Cenário tritÃcola
Luiz Carlos Pacheco, consultor de Mercados Agrícolas, palestrou sobre a situação do trigo no cenário mundial do Mercosul e do Brasil para a próxima safra. “A situação está satisfatória. O preço do trigo já subiu bastante e não tem previsão de parar. Por outro lado, a tendência do milho é cair, e da soja de se manter alta neste ano. Essas tendências se justificam porque acabou o trigo no País. No ano passado consumimos onze toneladas de trigo, e produzimos só quatro delas. Tivemos que comprar trigo argentino a R$900,00, valor que poderia ser pago ao produtor brasileiro“, avalia.
Como a próxima safra de trigo brasileiro só estará disponível no mês de outubro, até lá o especialista prevê aumento de preço. Diante disso, o conselho é que os produtores invistam nesta cultura, principalmente os mineiros, que plantam e colhem mais cedo, que terão sua produção para venda em um mês em que o preço está muito alto.
“No final de julho/início de agosto o preço estará alto e não haverá trigo brasileiro. Como estamos em um ano de eleição, o dólar tende a subir (na verdade já está mais alto) encarecendo ainda mais os produtos importados, como o próprio trigo. O custo variável é em torno de R$40,00, e vende-se o trigo por quase R$70,00, o que representa grandes lucros para o produtor. O que falta em Minas Gerais é a cultura do plantio de trigo e o conhecimento em torno dele. Meu conselho é para que o produtor procure um agrônomo, porque plantar trigo é altamente lucrativo no Cerrado, onde a qualidade é excelente, do tipo canadense, e o plantio é próximo aos centros de consumo, fazendo a logÃstica de distribuição ficar barata“, pontua Luiz Carlos.
Vocação para trigo
A produção de trigo tem que acontecer em um período de chuvas, ou por meio de irrigação, mas a produtividade local é alta, em torno de 240 mil toneladas de trigo em cerca de 80 mil hectares. Para dar uma idéia, Luiz Carlos diz que o Paraná produz 3,5 milhões de toneladas. “Para a capacidade de moinhos que o Estado tem, Minas poderia e deveria produzir 400 mil toneladas. Nesse ano talvez chegue aos 300 mil, mas ainda será necessário comprar 100 mil toneladas de outros Estados, deixando uma lacuna para ser suprida“.
Ainda segundo ele, o trigo mineiro é o melhor do mundo, devido às excelentes condições do solo e ao nível de horas de exposição ao sol, que é maior do que no Rio Grande do Sul e no Paraná, os maiores produtores do Brasil. “A fotossíntese melhora o nível de proteÃna do trigo e, consequentemente, sua qualidade. O elemento favorável dessa região é o clima constante“, explica o especialista.
Para Luiz Carlos, o Brasil só vai adquirir autossuficiência em trigo quando produzir para exportação, mas para isso a produção tem que ser em grande volume, e a região que tem vocação para tal é o Sudeste e Centro-Oeste, e não o Sul, como se pensa. “O Centro-Oeste ainda vai se tornar um grande player e exportador mundial de trigo“, prevê.
Genética
Márcio Só e Silva é engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Trigo, e durante o evento abordou, em sua palestra, as cultivares de trigo indicadas para Minas Gerais, com o momento mais apropriado de plantio de cada uma, desde a época, adubação, tratos culturais, até a colheita.
“O trigo é uma cultura técnica e economicamente viável em Minas Gerais, e o pacote tecnológico já existe, faltando apenas disseminação de conhecimento. Já há disponível um agrupamento que permite o plantio mais cedo (final de fevereiro e início de março), mais tolerante à brusone, principal doença da região, a qual é extremamente destrutiva. Mas, temos cultivares, como a TBIO Sintonia, introduzido pela Biotrigo, que tem se comportado bem nesses plantios do cedo. Trata-se de um material mais tardio, que leva mais tempo para espigar, e por isso pode ser plantado mais cedo“, aponta.
Já os materiais da Embrapa, por a BRS 264, BRS 394 e BRS 404 entram numa sequência de época de plantio, as duas primeiras em abril, quando o risco de brusone é menor, e a última na segunda quinzena de março. “Conforme a sensibilidade do material à brusone, atrasa-se o plantio para diminuir o risco de ocorrência da doença nos plantios em sequeiro. No irrigado tem-se todas as oportunidades, e os materiais da Embrapa se ajustam melhor por uma questão de custo-benefÃcio, mostrando-se bem precoces, de cultivo rápido“, diz Márcio Só.
Analisando do ponto de vista técnico e econômico, ele afirma que o trigo BRS 394 é uma variedade nova que produz com menos de 115 dias, economizando água, o que é um grande benefÃcio. “O produtor precisa estar ciente que, para o trigo irrigado, quanto maior o ciclo da cultura, mais água se gasta. Essa é a estratégia para posicionar as cultivares no cultivo irrigado. Estratégia mais econômica do que técnica, porque nessa época a brusone diminui“, ressalta. A partir de maio o risco de chuvas diminui.
Ainda sobre a BRS 394, embora tenha sido lançada há dois anos, poucos produtores a conhecem. Trata-se de um material com nível de produtividade bem superior e excelente qualidade de panificação, sendo, ao mesmo tempo, precoce. “O produtor tem possibilidade de trabalhar no cultivo irrigado e colher 130 sacas por hectare“, afirma o especialista.
Segregação de cultivares
Os moinhos se reúnem anualmente para auxiliar o produtor no que diz respeito ao que segregar, ou seja, quais conjuntos de cultivares colocar no silo, com características qualitativas diferentes. “O BRS 264, por exemplo, é um material que não se mistura com nenhum outro. Esse destaque precisa ser feito. O moinho, quando quer esse tipo de produto, precisa dele segregado e puro, enquanto outros podem ser misturados por características qualitativas semelhantes. Esse é o ponto fundamental para o agricultor saber, porque ele pode estragar ou diminuir a liquidez do seu produto se misturar cultivares de grupos qualitativos diferentes“, explica Márcio Só.
Minas possui um armazenamento diferente do Sul, com o uso de silo bolsa, que facilita a segregação, bastando escrever em cada silo o que há dentro dele. Depois, o próprio moinho faz a mistura de acordo com sua necessidade.
Qualidade em primeiro plano
Ana Maria Braga, bióloga e técnica em alimentos, palestrou sobre a classificação de sementes para plantio, apontando um direcionamento para os produtores. “A produção de trigo em Minas Gerais está crescendo. A qualidade é excelente, mas o volume ainda pode ser maior. Portanto, essa é a hora de investir“, finaliza.