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Monitorando e aprendendo o manejo das pragas do morangueiro

Mireli Trombin de Souza

Maria Aparecida Cassilha Zawadneak

mazawa@ufpr.br

Laboratório de Entomologia Agrícola- Universidade Federal do Paraná (UFPR)

 

Crédito José Salazar Júnior
Crédito José Salazar Júnior

Desde o transplante das mudas até a colheita, muitos artrópodes e moluscos estão associados ao cultivo do morangueiro. Os organismos fitófagos podem se tornar pragas, causando danos econômicos ao morangueiro.

O crescimento populacional de uma espécie-praga depende de vários fatores, tais como a presença de inimigos naturais, as condições climáticas, a região de cultivo, a cultivar, a qualidade nutricional e o estádio fenológico de desenvolvimento das plantas.

Contudo, quando adotadas boas estratégias de manejo, é possível evitar a ocorrência de infestações prejudiciais ao cultivo. Nesse sentido, a maneira mais eficiente e econômica de prevenir os danos é a inspeção periódica da lavoura. Assim, é possível detectar a presença tanto das pragas quanto de inimigos naturais no início da infestação.

Sintoma de pulgão do colo - Crédito José Salazar Júnior
Sintoma de pulgão do colo – Crédito José Salazar Júnior

Figura 1. Ocorrência de pragas principais e secundárias que devem ser monitoradas em cada estádio fenológico do morangueiro

            Estádios fenológicos do morangueiro         
  Ácaros Afídeos Tripes Lagartas Broca-do-morango Drosófila da asa manchada Lesma/caracol
Folhas desenvolvidas       x      
Aparecimento do órgão floral   x   x      
Floração x x x x      
Frutos verdes x x x x x x  
Frutos maduros x x   x x x x

Pragas principais

Pragas secundárias

Monitoramento

 

 Foto 03

Lagartas de duponcheliafovealis infectados por beauveriabassiana
Lagartas de duponcheliafovealis infectados por beauveriabassiana

O monitoramento semanal de pragas pode ser realizado por meio de observações visuais das diferentes partes das plantas (coroa/ raízes, folhas, flores e frutos), pela ocorrência de sintomas, ou ainda com auxílio de armadilhas específicas para cada espécie.

Com essas informações, associadas ao conhecimento da bioecologia das espécies, pode-se estimar com precisão as épocas mais favoráveis à ocorrência das pragas, a densidade populacional das mesmas e intervir com métodos de controle menos impactantes, evitandoprejuízos econômicos.

 

Agentes de controle biológico -joaninha e ácaro predador - Crédito Maria Aparecida Cassilha
Agentes de controle biológico -joaninha e ácaro predador – Crédito Maria Aparecida Cassilha

 

Tabela 1. Artrópodes e moluscos-pragas associados à cultura do morangueiro

Nome Científico/ comum
Tetranychusurticae/Ácaro-rajado

Descrição e bioecologia: o ciclo de vida é compreendido em cinco estágios: ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto. O período de incubação é cerca de 3,5 dias e o ninfal é de 5 dias. A duração do período de ovo-adulto é de aproximadamente de 10 a 15 dias a 25 ºC. As fêmeas e os machos são facilmente reconhecidos pela presença de manchas escuras no dorso do seu corpo.

Danos e sintomas: a colonização de adultos e formas imaturas é preferencialmente na parte inferior das folhas, formando grande quantidade de teias. Além das teias, a presença de manchas cloróticas nas folhas, que se tornam avermelhadas ou bronzeadas, pode auxiliar na identificação dessa praga.

Phytonemuspallidus/ Ácaro-do-enfezamento

Descrição e bioecologia: o ciclo de vida (ovo-adulto) completa-se, em média, em duas semanas. O período de incubação dos ovos varia de 03 a 13 dias; as ninfas se alimentam de 01 a 04 dias e os adultos levam, para sua emergência, de 02 a 07 dias. Os ovos são grandes e translúcidos, e as formas jovens de coloração branco-brilhante. Fêmeas e machos são de uma coloração que varia de castanho-claro a alaranjado-rosáceo.

Danos e sintomas: provocam o enrugamento na face superior das folhas, deixando-as mais escuras. Em infestações severas, as folhas mais novas não se abrem completamente e ficam atrofiadas, resultando em uma massa compacta no centro (região da coroa) da planta. As folhas, flores e frutos ficam bronzeados, podendo murchar e cair.

Chaetosiphonfragaefollie Aphisforbesi/ Afídeos

Descrição e bioecologia: Reproduzem por partenogênese, isto é, originam ninfas que se transformarão em fêmeas, não havendo a necessidade de cópula do macho. Os afídeos podem ser ápteros (sem asas) ou alados (alados).

Chaetosiphonfragaefolii: A duração média do ciclo biológico (ninfa-adulto) é de 19 dias a 25 ºC. Vivem em colônias na face inferior das folhas.

Aphisforbesi: Formam colônias na região da coroa e nos pecíolos das folhas. Vivem em protocooperação com as formigas (Solenopsissp.). A duração média do ciclo de vida (ninfa-adulto) é de 18 dias.

Danos e sintomas: ocasionam danos diretos por meio da sucção da seiva de plantas e ao secretar o honeydew, que favorece o desenvolvimento de fumagina (Capnodiumsp.). Os danos indiretos ocorrem pelas transmissões de viroses às plantas.

Frankiniellaoccidentalis/ Tripes

Descrição e bioecologia: A duração média do ciclo de vida (ovo-adulto) é de aproximadamente 14 dias a 25 ºC.

Danos e sintomas: são decorrentes da alimentação nos estames e no receptáculo floral, deixando-os com coloração amarronzada. Nos frutos verdes e maduros provocam manchas bronzeadas ao redor dos aquênios.

Spodoptera spp.,Helicoverpa spp. eDuponcheliafovealis/lagartas

Descrição e bioecologia: adultos de noctuideos – Spodoptera spp. eHelicoverpa spp. As lagartas ficam escondidas durante o dia e são encontradas em reboleiras na lavoura. O ciclo biológico (ovo-adulto) é em média de 30 a 40 dias. Os adultos têm hábitos noturnos.

Danos e sintomas: As lagartas causam desfolha, diminuindo a taxa fotossintética das plantas. As lagartas podem, também, atacar flores e frutos, e, ainda, broquear o caule (coroa) próximo ao solo.

Lobiopainsularis/ Broca-do-morango

Descrição e bioecologia: os adultos medem em torno de 08 mm de comprimento; são de coloração marrom e dorso manchado de tons mais escuros e amarelados. As pupas são brancas e ocorrem no solo. A duração média do ciclo de vida (ovo-adulto) é de 37 dias a 25 °C.

Danos e sintomas: as larvas e os adultos se alimentam preferencialmente de frutos maduros.

Drosophilasuzukii/drosófila-da-asa-manchada (DAM)

Descrição e bioecologia: os machos (3 mm) são menores que as fêmeas (4 mm) em comprimento e se caracterizam pela presença de dois “pentes“ na tíbia das pernas anteriores e duas manchas nas asas anteriores. As fêmeas não apresentam manchas nas asas e são identificadas pelo ovipositor serrilhado. Os ovos possuem em suas extremidades um par de espiráculo respiratório. As larvas (6 mm) são de coloração branca (figura 8b) enquanto que, as pupas são cilíndricas e possuem os espiráculos nas suas extremidades. O ciclo de vida (ovo-adulto) é em média de 11 dias a 22º C.

Danos e sintomas: são decorrentes das perfurações na superfície dos frutos e na formação de galerias no seu interior. Os frutos infestados podem atrair outras drosófilas.

Deroceraslaeve/ Lesma e Bradybaemasimilaris/caracol;outros.

Descrição e bioecologia: Os moluscos são de hábito noturno, corpo mole, pegajoso e bastante flexível. Na locomoção, secretam um muco de coloração prateada. A duração da fase imatura é em média de quatro meses. As fêmeas depositam de 300 a 500 ovos durante o seu ciclo de vida. Os ovos são translúcidos e depositados em locais protegidos (sob o mulching, ou plástico dos slabs próximos à coroa, ou material vegetal senescente).

Danos e sintomas: as formas jovens e adultas alimentam-se principalmente de frutos maduros.

 

Sintomas do ácaro-do-enfezamento - Crédito Maria Aparecida Cassilha
Sintomas do ácaro-do-enfezamento – Crédito Maria Aparecida Cassilha

 

Tabela 2. Artrópodes e moluscos-pragas associados à cultura do morangueiro e estratégias para o monitoramento e manejo

 

Nome Comum

Monitoramento

Caminhar pela lavoura, parando a cada 10 metros

(amostrar 20 plantas/ ha)

 

Manejo

Ácaro-rajado

 

 

Coletar um folíolo, contar número de ácaros com auxílio de lupa (20x de aumento).Delimitar os focos de infestação, marcando o local com sintoma de ataque. – Utilizar mudas sadias.

– Contagem de até uma média de < 5 ácaros por folíolo = Liberar ácaros predadores (Phytoseilusmacropilis e Neoseiluscalifornicus) como agentes de controle biológico, sendo 01 frasco para 2.000 plantas ““ sem teias e 01 frasco para 700 plantas – com teias (PROMIP, 2017).

– Conservar os inimigos naturais presentes no cultivo evitando o emprego de inseticidas piretroides.

– Para níveis de infestação maior, fazer o controle priorizando os de menor impacto ““ Azadiractina a cada sete dias; Beauveriabassiana.

Ácaro-do-enfezamento Com auxílio de uma lupa (20x de aumento), analisando as folhas centrais perto da coroa. Direcionar o monitoramento para plantas que apresentam desenvolvimento anormal, coloração mais escura e folhas retorcidas.

Delimitar os focos de infestação.

– Utilizar mudas sadias.

– Erradicar as plantas atacadas.

– Ácaros predadores diminuem a população, mas não erradicam.

– Os acaricidas registrados para o morangueiro são pouco eficazes no controle da espécie.

Afídeos Observar a parte inferior das folhas, e indiretamente a presença de formigas que se associam às colônias de pulgões.

Usar armadilhas adesivas cromotrópicas amarelas ou armadilhas amarelas do tipo “˜Moericke’ com água (1,5 L) e detergente (2mL).

– Preservar os inimigos naturais, principalmente parasitoides.

– Usar armadilhas adesivas cromotrópicas amarelas em maior quantidade para captura massal.

– Adotar medidas de controle quando for observado 5% de plantas infestadas.

– Controle químico utilizando ingredientes ativos com diferentes modos de ação, conforme registro para o morangueiro, priorizando os de menor impacto ““ Azadiractina a cada sete dias; Beauveriabassiana.

Tripes Realizar o monitoramento semanal no cultivo batendo as flores sobre uma superfície branca para verificar a presença dos tripes.

Usar armadilhas adesivas cromotrópicas azuis.

– Eliminação das plantas hospedeiras próximas do cultivo.

– Usar armadilhas adesivas cromotrópicas azuis em maior quantidade para captura massal.

– Recomenda-se realizar o controle quando for encontrado em média > 5 tripes por flor em 50% das flores amostradas.

– Controle químico utilizando ingrediente ativo, conforme registro para o morangueiro.

Lagartas Usar armadilhas luminosas para captura de adultos.

O controle deve ser realizado quando for capturar adultos ou houver presença de 2% de frutos danificados.

– Controle biológico (liberação de Trichogrammapretiosum parasitoides de ovos, aplicação de Bacillusthurigiensis para controle de lagartas de primeiros instares).

– Armadilhas luminosas para captura de adultos.

– Controle químico, conforme registro para o morangueiro, aplicado ao entardecer.

Broca-do-morango Usar armadilhas “˜pittfall’ (tipo pote de margarina com a tampa perfurada, enterrado no interior do canteiro) iscadas com suco de morango) a cada 10 m ou por meio de análise dos frutos danificados. – Eliminação dos frutos danificados e refugados (sobremaduros) deixados no interior do canteiro.

– Reduzir o intervalo de colheita evitando deixar frutos maduros na planta.

– Empregar iscas tóxicas (300 mL de suco de morango + inseticida) no interior de armadilhas “˜pit fall’.

– Controle químico utilizando ingredientes ativos com diferentes modos de ação, conforme registro para o morangueiro (observar período de carência).

Drósofila-asa-manchada (DAM) Usar armadilhas com atrativo alimentar iscadas com vinagre de maçã ou mistura de fermento biológico 20g + açúcar 50 g em 01 litro de água. – Eliminação de folhas velhas para arejamento e de frutos danificados e refugados (sobremaduros) deixados no interior do canteiro.

– Reduzir o intervalo de colheita, evitando deixar frutos maduros na planta.

Lesma e caracol Durante o caminhamento na lavoura, observar a presença de muco secretado recentemente pelos moluscos. Observar sob o mulching ou dentro do slabs próximo à coroa a presença de ovos, formas jovens ou adultos. Marcar a área com infestação. – Iscas granuladas à base de fosfato de ferro (FePO4) (Ferramol®).

– Distribuir cal ou cinza em volta dos canteiros infestados.

Essa matéria completa você encontra na edição de maio de 2018 da Revista Campo & Negócios Hortifrúti. Adquira o seu exemplar para leitura completa.

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