Nanotecnologia verde provoca revolução sustentável na agriculturaÂ
A nanotecnologia pode ser compreendida como uma ciência e tecnologia relacionada à matéria na sua escala atômica. Para melhor compreensão, temos que ter em mente que se pudéssemos decompor qualquer objeto como, por exemplo, uma caneta, chegarÃamos a uma estrutura básica na sua composição – o átomo. Com a nanotecnologia, estudos têm buscado justamente desenvolver o processo contrário, ou seja, construir a caneta a partir da manipulação de átomos.
Considerando as possibilidades esperadas dessa tecnologia, Nilson Matheus Mattioni, professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade de Santa Maria diz que o seu desenvolvimento está ainda no início, embora o conceito e as primeiras ideias sobre o assunto tenham sido apresentadas na década de 60 e a emergência de pesquisas nanotecnológicas na década de 80.
Aplicação na agricultura
A nanotecnologia pode ter uma grande contribuição para a agricultura mundial, sendo isso esperado para as próximas décadas. “É difícil imaginar até onde os estudos e as pesquisas nanotecnológicas podem chegar, mas é fácil imaginar que soluções para importantes problemas que hoje assolam a agricultura mundial vão derivar da nanotecnologia“, acredita Nilson Mattioni.
As soluções a que ele se refere podem ser simples, como a produção do princÃpio ativo de fungicidas, inseticidas e herbicidas mais seletivos e muito mais eficientes do que dispomos hoje, passando por processos mais completos, como a alteração de plantas, a fim de torná-las mais eficientes na utilização de luz, água e mais produtivas.
O conhecimento e os resultados produzidos com a nanotecnologia também podem aperfeiçoar ainda mais a biotecnologia, sendo essa associação, na opinião do professor, a grande geradora de produtos e soluções inovadoras para a agricultura nas próximas décadas. “Isso porque temos que partir do pressuposto que a nanotecnologia vai ser a grande criadora de substâncias, moléculas, estruturas e partículas. Essas serão criadas para substituir similares que hoje utilizamos, ou que as plantas utilizam para torná-las mais eficiente“, acrescenta.
Como exemplo do exposto por Nilson Mattioni, podemos imaginar um cloroplasto presente na folha de uma planta realizando fotossíntese hoje. Ele possui capacidade de absorver a luz e transformá-la em energia para ser utilizada pela planta. Com a nanotecnologia, é possível desenvolver uma estrutura com maior capacidade para absorção de luz.
Então, será produzido um “novo cloroplasto” com essa estrutura que será mais eficiente no processo fotossintético, o qual estará fora da planta. É aà que entra a biotecnologia, a fim de inserir no DNA da “planta do futuro” genes com capacidade para produzir esse “novo cloroplasto”, e assim resultar em uma planta com capacidade fotossintética maior.
“Claro que existem vários fatores que precisam ser ajustados para que isso seja viável, porém, é uma forma de compreendermos a dimensão dos avanços que essa tecnologia pode gerar para a agricultura“, esclarece o especialista.
Setores já beneficiados
No Brasil, pesquisadores desenvolveram um papel-filme protetor para frutas, que aumenta o tempo de comercialização do produto, além de ser comestível. No caso da maçã, o tempo de conservação aumenta de 25 dias a um mês na prateleira e pode durar até um ano em condições de refrigeração.
Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto, médica veterinária, mestre e pesquisadora do Polo Centro Oeste Paulista/APTA, ressalta que no Brasil ocorre perda de 30% da produção de frutas em geral durante a colheita e pós-colheita. Ela destaca, ainda, que a nanotecnologia pode reforçar a resistência de materiais plásticos biodegradáveis, feitos a partir de materiais como amido de milho e fibras de coco.
Já, no setor pecuário, cientistas estão aprimorando um sistema de diagnóstico de doenças que será mais rápido do que os convencional e poderá liberar o remédio de forma controlada no organismo do animal por meio de partículas “inteligentes“.
Quanto aos insumos, Fernanda informa que encontra-se em avaliação a aplicação de fertilizantes e nutrientes de forma controlada no solo através de nanopartículas. Essas substâncias serão liberadas de acordo com a necessidade da planta gerando ganhos para o meio ambiente e para o agricultor.
Estuda-se, também, a criação de nanopartículas que aceleram as reações químicas na fase de decomposição dos resíduos de defensivos no meio ambiente. “Vê-se, portanto, que apesar da nanociência ser uma tecnologia ainda recente no setor agropecuário, espera-se no futuro produzir alimentos, com maior qualidade e valor nutricional e menor quantidade de insumos, em sistemas de produção mais eficientes e sustentáveis economicamente e ambientalmente“, avalia a pesquisadora.
O que esperar
Partindo de princÃpio que, para o desenvolvimento de qualquer pesquisa nanotecnológica se fazem necessários muitos recursos, infere-se que as culturas de maior importância econômica tenham esses benefícios primeiro. “Na verdade, podemos esperar o que ocorre com a transgenia atualmente, sendo essa mais aplicada a culturas como o milho, soja e algodão. Tudo é uma questão de potencial de retorno econômico com a adoção da tecnologia a ser desenvolvida, justamente como tem sido observado na atualidade“, compara Mattioni.