Johnny Rodrigues Soares
Doutor em Agricultura Tropical e Subtropical – Instituto Agronômico (IAC)
Leandro Carolino Gonzaga
Mestrando em Agricultura Tropical e Subtropical – Instituto Agronômico (IAC)
A recomendação de adubação nitrogenada para a cultura da batata no Brasil varia de 80 a 190 kg/ha de nitrogênio (N); dependendo da região, clima e teor de matéria orgânica no solo. Em todas as recomendações é sugerido que a aplicação de N seja parcelada a fim de evitar os danos do excesso de fertilizante no início do desenvolvimento da cultura e as perdas de N, como por exemplo, lixiviação de nitrato.
Recomenda-se aplicar metade ou 1/3 da dose total no plantio e o restante em cobertura, antes da operação de amontoa, aproximadamente 30 dias após o plantio. A aplicação de N em cobertura exige uma operação de maquinário a mais e gastos.
Outra forma de parcelar o N é pela aplicação de fertilizantes de liberação lenta ou controlada. Neste caso, só é recomendado aplicar produtos que liberem o N no momento em que a cultura necessite. A maior demanda do N pela batata ocorre no período de 20 a 45 dias após o plantio, no qual 50% do N total são absorvidos. Nos primeiros 20 dias ocorre a absorção de 25% e os demais 25% de 45 até 80 dias após o plantio. Assim, o fertilizante deve mostrar liberação do N de forma semelhante.
Adubação inteligente
Os fertilizantes de liberação lenta ou controlada são produtos que têm na base o adubo comum, como ureia, por exemplo, e são recobertos por camadas de polímeros, enxofre ou outras substâncias de baixa solubilidade que estendem a sua liberação no solo em um período mais longo que as fontes convencionais.
A liberação do nutriente ocorre em função de uma ampla variedade de mecanismos físicos, químicos e biológicos, como qualidade e espessura do material de recobrimento, temperatura, umidade e atividade de microrganismos no solo. Assim, além do material a liberação do nutriente irá depender das condições climáticas e do solo.
Esses fertilizantes de liberação lenta/controlada podem ter um ou mais nutrientes para as plantas, porém, o foco é a base de N, visto que este é o nutriente requerido em maior quantidade para a maioria das culturas e sua perda causa danos econômicos e ambientais.
Muitos desses fertilizantes se encontram em fase de aprimoramento, e o amplo uso deles pode reduzir as perdas de N por volatilização de amônia e lixiviação de nitrato, substituir a necessidade de parcelamento, proporcionar melhor aproveitamento desse nutriente pelas plantas, e possivelmente aumentar a produtividade e volume de batata extra.
Estudos
Em diversos estudos realizados em condições controladas de laboratório no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foram avaliados fertilizantes à base de ureia com recobrimento de enxofre e/ou polímeros.
Alguns produtos foram bastante eficientes, mostraram liberação lenta, e assim reduziram em grande parte a perda de nitrogênio por volatilização de amônia. Porém, outros produtos não mostraram resultados positivos, devido às falhas no recobrimento ou à composição do material de recobrimento, e tiveram o mesmo comportamento que a ureia comum.
Um produto de sucesso à base de ureia testado no centro de solos do IAC mostrou liberação de N de forma gradual, sendo que 50% do N foram liberados em 15 dias e o restante em 30 dias após a aplicação no solo. Essa liberação gradual do N reduziu a perda por volatilização de amônia.
Tratando-se da cultura da batata, conforme já dito, a adubação nitrogenada consiste no parcelamento em duas vezes da dose recomendada, no plantio e na pré-amontoa. Assim, este produto seria adequado, pois liberaria o N no período de maior demanda da planta, semelhante ao parcelamento. Dessa forma, com o uso do fertilizante de liberação controlada não seria necessário fazer adubação de cobertura.
Vantagens para a batata
Dados da literatura mostram que o parcelamento do N ou o uso de fertilizantes de liberação lenta/controlada aumentam a produtividade da cultura da batata, comparando à aplicação do N total no plantio usando uma fonte convencional. Foram reportados aumentos de 8 a 20% na produtividade de tubérculos, que representaram de 5 a 12 t/ha a mais pelo uso de fertilizantes de liberação lenta/controlada ou parcelamento do N em comparação à aplicação de uma fonte convencional apenas no plantio.
Além disso, tratando-se da ureia não seria necessário incorporar o fertilizante ao solo a fim de reduzir a perda de N por volatilização de amônia. Outro aspecto que vem sido debatido atualmente é que esses fertilizantes de liberação controlada podem reduzir a emissão de gases do efeito estufa, além de diminuir a lixiviação de nitrato.