Autores
Jade Cristynne Franco Bezerra
jadefranco9@gmail.com
Ernandes Macedo da Cunha Neto
netomacedo878@gmail.com
Engenheiros florestais – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Paragominas (PA)
Débora Monteiro Gouveia
Mestre em Ciências de Florestas Tropicais – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus (AM)
deboramgouveia@yahoo.com.br
Os plantios florestais desempenham um papel de extrema importância do ponto de vista econômico, social e ambiental, não apenas no Brasil, mas em diversos países onde espécies exóticas de rápido crescimento foram introduzidas.
Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores de florestas plantadas no mundo, composta principalmente por pinus e eucalipto, destinadas principalmente à produção de celulose, papel, painéis, carvão, entre outros milhares de subprodutos, totalizando uma área de 7,84 milhões de hectares, sendo responsável por mais de 90% de madeira produzida para fins industriais (IBA, 2017).
A floresta plantada
Para realizar a implantação de uma floresta, diversos fatores devem ser avaliados. Para tanto, em primeira instância deve ser realizada uma análise de mercado no local onde pretende-se instalar o povoamento. Nesta fase, diversos fatores devem ser avaliados, dentre eles o objetivo do plantio florestal e o mercado consumidor, pois somente assim será possível determinar os passos subsequentes.
Para que o empreendimento tenha mais chances de obter sucesso, faz-se necessário planejar cada passo, desde o sítio de implantação até a venda da madeira. Assim, o planejamento se divide em duas etapas – o macro e o microplanejamento.
O macroplanejamento é importante, pois leva em consideração todas as vantagens que o município traz para a implantação de um reflorestamento, tais como hospitais, proximidade da área de venda da madeira, incentivos fiscais, preço de terra, malha rodoviária, entre outros.
Já o microplanejamento considera as técnicas de preparo da área, maquinário que será utilizado, escolha da espécie, quantidade de indivíduos, aquisição de mudas, manejo e o objetivo do plantio, etc.
Dessa forma, o sítio florestal será escolhido com base nas vantagens que este trará ao produtor, principalmente no que tange a proximidade com o mercado consumidor. Já a escolha da espécie está interligada ao objetivo do povoamento (para fins de celulose; carvão; serraria; laminados, etc.) e também a necessidade do consumidor, bem como a disponibilidade e qualidade das mudas no município próximo ao povoamento.
Produtores não habituados com esse tipo de cadeia produtiva podem se sentir desestimulados, pois o retorno financeiro pode ocorrer muito tempo após a implantação, entretanto, quando adequadamente manejadas, podem obter múltiplos produtos e atingir diferentes mercados, possibilitando a versatilidade da venda de seus produtos.
Restauração de APPs e RLs
Tornou-se comum os reflorestamentos comerciais se instalarem em áreas alteradas e/ou degradadas, em razão da necessidade de recuperar essas áreas, o que atrela a sustentabilidade a esta atividade. Assim, a implantação florestal impactou positivamente a recomposição de biomas, por meio de técnicas tais como os plantios em mosaicos, que se caracterizam como diferentes estágios de crescimento florestal.
Além disso, áreas plantadas podem servir como habitat para animais, plantas e microrganismos, pelas colheitas que deixam rastros de maquinário em florestas plantadas em direção às florestas nativas, induzindo a migração da fauna, entre eles, inimigos naturais de pragas, dispersores de sementes e agentes polinizadores.
A presença de cascas, galhos e folhas enriquece e conserva o solo, dessa forma contribuindo para o manejo da fauna e restauração da flora, recuperando áreas degradadas, protegendo as nascentes de rios e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
Essas áreas, quando adequadamente manejadas, podem recuperar a Reserva Legal e até mesmo as Áreas de Preservação Permanente (APP’s) onde o empreendimento está instalado.
Manejo
Manejar corretamente o povoamento florestal é de extrema importância, pois somente assim este terá sucesso. Primeiramente recomenda-se que seja realizado o reconhecimento da área, ou seja, fazer o levantamento do histórico da área; a topografia; o clima; vias de acesso e até mesmo a possibilidade de expansão.
Assim, caso necessário, deve ser realizada a limpeza da área (após obtenção da licença no órgão competente) seguida da identificação, mapeamento e combate às formigas cortadeiras, com vistas à redução dos danos ao povoamento. Por conseguinte, deve ser realizada a análise do solo para correção deste com as técnicas de fertilidade.
Ainda, deve ser realizada a calagem 60 dias antes do plantio para a correção da acidez do solo. Em seguida são empregadas as técnicas de preparo do solo. Para tanto, o cultivo mínimo é recomendável para essa fase, a fim de evitar a compactação do solo e alterações nas características físico-químicas deste. Dessa forma, a área deve passar pelo processo de subsolagem a uma profundidade de 40 cm até 60 cm.
A próxima fase consiste na abertura de “bacias”, nas quais as mudas serão plantadas, sempre com uma distância fixa entre estas, formando um plantio em linhas. Assim, o solo está pronto para receber a muda, que por sua vez, após implantada, será adubada em covetas laterais com um fertilizante à base de NPK.
Um fator importante a ser determinado é a época de plantio das mudas, devido às condições climáticas do local (chuvas, geadas, estiagem. etc). É indicado que as mudas sejam implantadas no período chuvoso, visando redução dos custos com a irrigação.
Além disso, para um bom desempenho é necessário o emprego dos tratos silviculturais, tais como o controle de pragas e doenças, poda e desbaste, dentre outros, que juntos permitem o aumento da produtividade da floresta.
Também é importante avaliar as origens do material genético que será utilizado, que preferencialmente seja proveniente de melhoramento genético, proporcionando melhor desenvolvimento, qualidade da madeira e resistência a pragas, pois mudas de qualidade promovem o sucesso da implantação.
Em campo
Quando bem manejadas, as florestas se desenvolvem rapidamente, podendo atingir um incremento médio anual (IMA) de até 65 m³/ha/ano, dependendo da espécie e da idade do povoamento. Em contrapartida, um manejo inadequado pode trazer inúmeros danos, o que, consequentemente, levará a prejuízos.
Os principais danos de um manejo incorreto estão relacionados à morte dos indivíduos, podendo esta ser ocasionada por diversos fatores: plantio incorreto; subsolagem insuficiente; material genético inapropriado para as condições climáticas da área; doenças; pragas; afogamento de coleto; falta de irrigação; mudas de baixa qualidade; ausência ou manejo incorreto dos tratos silviculturais; falta de fertilização, etc.
A maioria dos casos de manejo incorreto está vinculada a um planejamento ruim. Há alguns relatos de espécies morrendo em uma determinada área devido ao material genético que foi implantado não se adaptar bem às condições climáticas da região do povoamento, sendo a escolha do material genético um ponto importante no planejamento do empreendimento. Portanto, a base do sucesso do povoamento florestal é o planejamento, pois somente a partir de então será possível manejar a floresta corretamente.
O acompanhamento da floresta
Para verificar se o povoamento florestal está tendo êxito, é necessário que periodicamente seja realizado o inventário florestal, pelo qual serão medidas algumas árvores dos talhões da floresta, permitindo que a mensuração anual das mesmas árvores obtenha o crescimento em volume do povoamento como um todo.
Neste processo, são instaladas unidades amostrais (parcelas) em pontos aleatórios dos talhões, para que sejam coletadas as variáveis dendrométricas (da árvore): DAP (diâmetro da árvore a 1,30 metros do solo) e altura. A partir dessas variáveis é estimado o volume das parcelas e do povoamento. Assim o silvicultor poderá planejar as técnicas de manejo (adubação, poda, desbaste, etc.) que serão empregadas, bem como a quantidade de produto que será comercializado.
Pesquisas
Décadas de investimento em pesquisa e melhoramento genético levaram ao aumento da produtividade das florestas plantadas, que produzem cada vez mais madeira na mesma área cultivada. Os plantios são realizados de forma sucessiva nas mesmas áreas, com a adoção de técnicas de manejo adequadas, e a produtividade se mantém.
Um plantio realizado com mudas de boa qualidade, de clones produtivos e adaptados à região, em espaçamento e em solo preparado de forma apropriada, seguido de cuidados com a fertilização e o controle de matocompetição e formigas cortadeiras, resulta em altas produtividades de madeira.
Sem errar
Alguns erros são muito frequentes na implantação de plantio, como: utilização de solo muito compactado, fazendo com que a muda se desenvolva inicialmente e depois pare de crescer; plantio deixando as raízes de fora do solo, ocasionando ressecamento e morte; plantio enterrando parte radicular e mais o tronco da muda (morte por “sufocamento”); colocação de adubo em contato direto com as raízes das mudas, provocando morte por salinização excessiva das raízes; além da escolha do material genético que não esteja adaptado às condições edafoclimáticas locais e monocultivos de culturas, o que favorece a adaptabilidade de pragas e vulnerabilidade do plantio.
A prática de alternância de culturas melhora o aproveitamento da fertilidade do solo pelo aprofundamento diferenciado das raízes. Isto é, melhora a drenagem, diversidade biológica e o controle de pragas. A adubação da terra é uma das formas de melhorar suas características, estimular os processos na infiltração e retenção da água e ainda otimizar a fertilidade do solo.
Além disso, é importante ressaltar que ter um bom sistema de irrigação contribui para a melhora da qualidade do plantio, evita a salinização do solo, o que o torna improdutivo e, ainda mais, impede o desperdício de recursos hídricos.
Custo x benefício
Os custos de produção de plantios florestais comerciais dependem de uma diversidade de situações, como, por exemplo, do nível tecnológico (nível de produtividade); do objetivo da produção, da escala de produção (nível empresarial ou pequeno produtor); das técnicas de manejo (operações mecanizadas ou uso de mão de obra); da fertilidade do solo e da necessidade de controle de pragas; da densidade de plantas por hectare; e do tipo de solo (plano, ondulado ou acidentado), entre outras situações.
Deve-se frisar que os plantios geram benefícios ecológicos (controle da erosão, sequestro de carbono, etc.) e aumentam a oferta desta madeira legalizada e sustentável, principalmente com espécies nativas de valor econômico. Assim, diminui a pressão sobre as florestas naturais e gera-se lucro ao empreendimento.