Evandro Novaes
PhD e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG)
A escolha do clone de eucalipto influencia não somente a produtividade, como também a qualidade do produto final, o que varia dependendo do uso da madeira. Um clone muito produtivo pode possuir madeira boa para celulose, mas ruim para fins energéticos. Além da produtividade e qualidade da madeira, a escolha do clone também deve estar embasada nas condições edafoclimáticas e na incidência de pragas e doenças da região.
Um clone mal escolhido pode acarretar em danos. Se a madeira não está adequada ao produto final, o produtor pode ter sérios prejuízos, como depreciação do valor da madeira, bem como a perda de clientes potenciais e existentes. Um exemplo disso é o clone GG100, que vinha sendo muito plantado na região centro-oeste para fins energéticos. Porém, este vem sendo substituÃdo devido à relativa baixa densidade de sua madeira, o que reduz o seu poder calorÃfico.
Pior ainda do que o prejuízo acarretado pela qualidade inadequada da madeira é o clone simplesmente crescer muito mal e/ou ter alto Ãndice de mortalidade, se este não for adaptado à região de plantio. Até atingir idade de corte, o eucalipto enfrenta uma série de estresses bióticos (pragas e doenças) e abióticos (seca, geada, etc.).
O estresse hídrico merece destaque, pois é o problema mais comum nas novas áreas em que a eucaliptocultura tem avançado (Centro-Oeste, Norte e Nordeste). Um projeto florestal dificilmente terá sucesso se a escolha do clone não levar em consideração as pragas, doenças e condições climáticas do local de plantio.
Opções
O melhoramento e o desenvolvimento de clones de Eucalyptus no Brasil ocorrem primordialmente no âmbito das grandes empresas florestais do País. Aperam, Fibria, Gerdau, Suzano Papel e Celulose, e Vallourec são algumas das empresas com programas de melhoramento fortes e que acabam, de uma maneira ou de outra, fornecendo os clones que são plantados no Brasil.
A maioria dos produtores da região centro-oeste, por exemplo, vem plantando clones antigos que já perderam a proteção (caÃram em domÃnio público). Em geral, esses clones foram desenvolvidos em locais (Sul e Sudeste) diferentes da região de plantio.
Em Goiás, por exemplo, os clones mais plantados são o I144, I224, VM1, GG100 e o 1528. Àexceção do 1538, todos são clones já existentes há um bom tempo no mercado. A maioria dos clones são de E. urophylla ou híbridos de E. grandis x E. urophylla.
Mais recentemente novas espécies, como E. brassiana, E. tereticornis e E.camaldulensis vêm assumindo importância nas regiões com maior intensidade e incidência de déficit hídrico. Pensando na escassez de clones para a região centro-oeste, estamos conduzindo uma rede com três experimentos para avaliação de mais de 90 clones de Eucalyptus spp. (de várias espécies e híbridos) no Centro e Sudeste de Goiás.
Essa é uma iniciativa da UFG, Suzano e Clonar Resistência a Doenças em parceria de três empresas do Estado: Anglo American, FL Florestal e JP Florestal.
Critérios para escolha do clone ideal
A escolha do clone deve estar embasada no produto final desejado, ou seja, no destino da madeira, bem como nas condições da região em termos de pragas, doenças e estresses abióticos mais comuns na região alvo.
O mÃnimo que o produtor deve fazer é procurar por regiões com condições similares e eucaliptocultura já bem estabelecida. Identificadas essas regiões, seria interessante tentar fazer visitas em viveiros e empresas da região para entender o comportamento dos clones disponíveis e daqueles mais plantados. Outra opção que também sempre recomendo é, no início dos projetos, testar mais de um clone, de preferência de maneira formal com delineamento experimental para análises estatÃsticas adequadas. Isso dilui os riscos e vai agregando conhecimento sobre o comportamento dos clones em suas fazendas.
Manejo
O sucesso de todo plantio florestal depende fundamentalmente do sucesso da implantação e do manejo, principalmente no primeiro ano. Esse sucesso se inicia não só com a escolha do clone, como também com a compra de mudas bem formadas, principalmente com bom volume de raiz.
O ideal é ter um certo conhecimento da reputação do viveiro fornecedor, pois mudas com raízes mal formadas ou mudas velhas diminuem muito o arranque inicial das árvores, prejudicando a produtividade. Outro detalhe importante é realizar o plantio na época certa, idealmente no início do período chuvoso para minimizar os riscos de mortalidade excessiva antes do estabelecimento das mudas.
O plantio com hidrogel vem sendo cada vez mais recomendado para minimizar os problemas com seca. Além disso, no caso de um veranico (seca) nas primeiras semanas após o plantio, é importante que o viveirista tenha acesso a algum sistema de irrigação, como carreta pipa, para não deixar que as mudas morram. Também, não se deve nunca economizar no controle de formigas e da matocompetição.
Não se engane
Outra questão importante, além da escolha do material genético, é o espaçamento. Em regiões onde chove menos, ou onde as chuvas são mal distribuÃdas, é preciso aumentar o espaçamento entre árvores. Espaçamentos mais abertos minimizam a competição entre árvores, diminuindo os riscos de mortalidade.