A madeira é literalmente “pau para toda obra“. Com ela é possível fazer tudo que se faz com o petróleo. Engana-se quem pensa que o seu uso está relacionado ao baixo desenvolvimento social. Tecnologias de alta eficiência de transformação da madeira são de uso comercial, embora ainda existam usos ineficientes em várias áreas de sua aplicação
Nos últimos anos, o setor industrial brasileiro acompanha o aumento das tarifas energéticas. Em muitos casos, as contas pagas dobraram e as polÃticas públicas não mostram sinais concretos de uma possível redução. Desde o final de 2014 e início de 2015, o Brasil vive a pior crise hÃdrica do país, quando os reservatórios chegaram a percentuais alarmantes. Este cenário desfavorável fez com que as indústrias se dessem conta de que são reféns do atual sistema, que tem nas hidrelétricas a principal fonte de energia. Dessa percepção surgiu o interesse pela biomassa, afinal a água não é a única fonte limpa e renovável presente no País.
No Brasil, o uso de madeira para energia está na queima em caldeiras para a geração de energia elétrica e energia térmica (cogeração), geralmente na forma de cavacos ou licor negro, e na produção de carvão vegetal em toras.
Essas aplicações contribuem com 9% da energia primária total gerada no País, conforme dados do Balanço Energético Nacional de 2015, ano base 2014, publicação da EPE/MME.
O diretor-presidente do Instituto de Florestas do Paraná, Benno Henrique Weigert Doetzer, esse Estado tem um consumo anual de madeira em torno de 54 milhões de metros cúbicos. Deste total, cerca de 20 milhões, ou 49%, são utilizados de alguma forma para a geração de energia.
Ainda segundo ele, a produção de madeira específica para fins energéticos é relativamente recente, sendo mais expressiva na última década. Porém, é tradicional e expressivo o aproveitamento de madeira para este fim a partir do uso múltiplo da floresta, ou seja, uma parcela da floresta, normalmente a madeira de menor valor, é utilizada para fins de geração de energia.
Este cenário tende a ser modificado visto a necessidade do aumento da oferta de energia e a pressão sobre seus preços, que obviamente viabilizam empreendimentos no setor. Benno Henrique cita como exemplo uma estimativa que o uso de biomassa florestal é responsável por cerca de 4% da energia elétrica produzida no país, podendo chegar até a 7% em épocas de crise hÃdrica.
Como vantagens do sistema, o especialista lista:
Þ Contribui para minimização do aquecimento global e melhorias do meio ambiente;
Þ É renovável;
Þ Grande geração de empregos e ocupação de mão de obra rural;
Þ Energia com menor custo quando comparado a fontes de combustÃvel fóssil;
Þ Geração distribuÃda (necessita investimentos menores em rede de transmissão).
Como desvantagem, Benno cita que é uma atividade em que a viabilidade ou retorno está sujeita a variações de mercado (preço da energia, insumos, mão de obra e matéria-prima), sendo que estudos preliminares e planejamento são fundamentais para a minimização dos fatores de risco.
Destinos
O principal uso da madeira plantada, segundo José Dilcio Rocha, doutor em Engenharia Mecânica e pesquisador da Embrapa Agroenergia, é a produção de polpa de celulose, que juntamente com o papel, as placas, os pisos laminados e os móveis são os produtos não energéticos. Quantos aos produtos energéticos, há o carvão vegetal (biorredutor de minérios), cogeração, briquetes e pellets.
O Brasil e a bioenergia
No Brasil, a biomassa florestal para gerar energia é usada desde sempre, inicialmente na colonização, quando a floresta nativa suprimida para a construção de cidades e a fronteira agropecuária ofereciam a energia que movia a indústria nacional. “Atualmente, o que vemos é o uso cada vez mais tecnológico no setor de celulose e papel, placas de madeira, cogeração com caldeiras de alta pressão, móveis, pellets e briquetes. A indústria de carvão vegetal ainda carece muito de tecnologia. Esse produto florestal é a base da siderurgia verde, setor com enorme capacidade de mitigar as emissões de gases de efeito estufa e gerar divisas, empregos e renda para o País. As tecnologias eficientes de carbonização existem faltam apenas polÃtica industrial para o segmento com incentivos e créditos“, avalia o pesquisador.
Opções variadas
Para Arnaldo Walter, professor do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, ainda é muito pequena a parcela de geração de eletricidade a partir de madeira e de resíduos de madeira: “em 2014, 0,3% da geração total no Brasil. Portanto, deve ser uma fração muito pequena da madeira que é destinada à geração de eletricidade. E acredito que a geração é principalmente com resíduos de madeira“, pontua.
Na opinião dele, o que é importante no Brasil é a geração de eletricidade com bioamassa residual da cana (bagaço, principalmente) (5,5% da geração total em 2014, e o indicador deve ter chegado a 6%, no mÃnimo, em 2015). Também é relevante a geração com lixÃvia (licor negro), nas indústrias de celulose (1,8% do total em 2014).