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Luciana Marques de Carvalho
Bióloga, doutora em Fitotecnia e pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros
A crescente preocupação mundial com saúde e dieta saudável tem gerado interesse crescente nas plantas medicinais, aromáticas e condimentares. No entanto, a cada dia, mais e mais consumidores têm procurado incluir essas plantas, na forma de chás, sucos ou mesmo como condimento no seu cardápio.
Qualidade das mudas
A obtenção de plantas de qualidade requer a utilização de material propagativo (mudas ou sementes) de qualidade. Para iniciar e implantar cultivos de plantas aromáticas e medicinais é necessário obter uma muda saudável e de qualidade, ou seja, livre de resíduos de agrotóxicos e de metais pesados, que poderiam ser concentrados no processo de secagem e ou no preparo de chás ou extração de óleo essencial, sem contaminação microbiana e com identificação botânica assegurada.
Dentre os requisitos para se obter uma muda de alta qualidade podemos destacar, portanto, primeiramente, a identificação correta da planta de interesse, preferencialmente com indicação do nome cientÃfico.
Não se deve confiar apenas no nome comum ou popular da planta no momento da obtenção da planta, uma vez que existe mais de uma planta, de famílias diferentes, composição quÃmica e aromas diversos com o mesmo nome.
Todas as plantas, além do nome comum, têm um único nome cientÃfico, em latim, que é comum em todos os Estados do Brasil e países do mundo. Assim, são muitas as plantas conhecidas como hortelã, mas nem todas são do gênero Mentha e nesse gênero há ainda muitas espécies de hortelãs.
A erva-doce, também conhecida como funcho, pode ser da espécie Foeniculumvulgare, ou Pimpinela anisum; alecrim pode ser das espécies Rosmarinumofficinalis, Baccharisdracunculifolia, Lippiasidoides, entre outras.
Sistema orgânico
Recomenda-se que a produção de mudas de plantas medicinais e aromáticas seja realizada em sistema orgânico de produção, com o fim de obter mudas sem resíduos tóxicos e com adequado teor dos princÃpios ativos (compostos produzidos e acumulados nas plantas que são os responsáveis pelo aroma e efeito terapêutico) preconizados.
Assim, a área de plantio deve ser, preferencialmente, afastada de áreas com uso intensivo de agrotóxicos. As tecnologias a serem utilizadas deverão ser agroecológicas, compatÃveis com o sistema orgânico de produção.
Nutrição equilibrada e proteção das plantas
Deve-se utilizar substrato adequado nos recipientes utilizados na produção de mudas e /ou solo fértil e com boa drenagem (no caso de iniciar com a produção de plantas matrizes), disponibilidade de água de qualidade para irrigação, manejo adequado da irrigação e adubação, proteção adequada das plantas por meio da adoção de tecnologias agroecológicas de produção e não por meio de produtos.
Não existe produto registrado para o controle de pragas e doenças das plantas aromáticas e medicinais. A proteção das plantas deverá ser realizada, principalmente, por meio de tecnologias que privilegiem a diversificação de espécies vegetais na mesma área, por meio do uso da consorciação de culturas compatÃveis, inclusão de espécies repelentes de pragas no sistema, a conservação do solo por meio de cobertura do solo, rotação de culturas e barreira de vento, entre outras técnicas.
Em situações emergenciais, quando a proteção por meio das tecnologias preventivas não foi suficiente, permite-se o uso de produtos naturais como o óleo de algodão para pulverização das plantas, particularmente as plantas com ataque de pulgão, praga que ataca muitas vezes plantas de erva-doce (Foeniculumvulgare).
Substrato
A qualidade do substrato, local de produção das mudas e o nível de iluminação são fatores fundamentais na obtenção de mudas de qualidade. O substrato é o meio onde ocorre a germinação da semente e desenvolvimento das mudas.
É função do substrato o fornecimento de nutrientes, água e oxigênio, além de servir como suporte para as plantas. As habilidades de retenção de água e aeração são características essenciais ao desenvolvimento do sistema radicular, e consequentemente ao vigor das mudas.
Além dessa característica, o substrato tem que ser isento de microrganismos patogênicos e de sementes de plantas indesejáveis ou daninhas, ser de baixo custo e livre de quaisquer produtos tóxicos.
Um bom substrato permite a retirada da muda do recipiente onde foi formada (bandeja de isopor, saquinho plástico, vaso pequeno, por exemplo) inicialmente com o sistema radicular intacto.