Marcio Funchal
Administrador de empresas, mestre em administração estratégica e especialista em planejamento e gerenciamento estratégico
O Tratado TranspacÃfico (TPP, do inglês trans-pacific partnership agreement) representa um acordo comercial com 12 países: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Cingapura, Estados Unidos e Vietnã. Juntos, esses países representam 39% do PIB mundial (só os Estados Unidos e Japão, respectivamente 1ª e 3ª nações mais ricas do mundo, equivalem a 31%).
Em termos mundiais, esse acordo comercial tem a finalidade de desenvolver o comércio de mercadorias entre seus integrantes, mediante a redução drástica de barreiras alfandegárias, padronização de processos de propriedade intelectual, obrigações trabalhistas e gestão ambiental, entre vários outros aspectos de uniformização de condições de competição. Alguns chamam este tipo de acordo de “desvio de comércio“, pois a intenção é tornar mais barata a troca de mercadorias e serviços entre os países do Tratado.
E o Brasil?
Com o Brasil preso ao “paquidérmico“ Mercosul, as grandes nações têm “˜costurado’ acordos comerciais cada vez mais estruturados para abertura e manutenção de seus mercados de comércio internacional. Cabe então analisar: que riscos o TPP traz às exportações de grãos e cereais brasileiros?
A Figura 1 mostra que cerca de 13% da produção mundial de grãos e cereais são destinados ao comércio internacional. Já a Figura 2 mostra que o Brasil é um player relativamente influente em termos de produção mundial: é responsável por cerca de 5% de toda a produção mundial de grãos e cereais. O restante da produção mundial pode ser dividido em outras duas partes: quase 25% por países integrantes do TPP e o restante (cerca de 70%) por países não participantes do Tratado.
Olhando agora pelo aspecto do fluxo de mercadorias, a Figura 3 mostra que os países integrantes do TPP possuem relevância relativa no cenário global: os 12 países do Tratado respondem por cerca de 17% do montante de importações mundiais.
Na Figura 4 é possível ver quais são os produtos florestais mais comercializados mundialmente. Comparativamente, a Figura 5 demonstra que a pauta de exportações brasileiras é distinta da pauta mundial, uma vez que o Brasil é fortemente dependente do envio de soja ao exterior.
Esse cenário de comércio mostra, de modo simplista, que o maior mercado consumidor internacional de grãos e cereais é representado por países que não pertencem ao TPP. Por esse aspecto, isso se torna um fator de redução de risco ao Brasil, uma vez que, no médio prazo, ele será menos afetado por um avanço no comércio de grãos e cereais entre os países do TPP (poderia haver redução de market share brasileiro nestes mercados, em especial).
Análise macro
Para ampliar essa análise, a Tabela 1 mostra os principais destinos das exportações brasileiras de grãos e cereais. Foram montadas duas listas: o quadro da esquerda mostra a lista completa de parceiros comerciais do Brasil; o quadro à direita relaciona as nossas exportações apenas para os países membros do TPP.
Os números mostram que dos 10 maiores importadores de grãos e cereais do Brasil, apenas dois pertencem ao TPP (Japão e Vietnã). Juntos, estes dois países representam somente 7% das exportações nacionais de grãos e cereais. Já o maior importador de produtos do Brasil (China) representa, sozinho, quase 50% do volume total exportado desse tipo de produto.
Considerando o montante de exportações de grãos e cereais do Brasil, as direcionadas aos países do TPP somam algo pouco superior a 10% do volume remetido ao exterior (Figura 6).
Sendo assim, é factÃvel afirmar que o Brasil corre risco potencial baixo, no médio prazo, de perda de mercados consumidores internacionais, considerando a sua atual pauta de exportação de grãos e cereais. Isso é resultado dos seguintes fatores:
- Os países integrantes do Tratado representam menos de 20% das importações mundiais de grãos e cereais. Dos 10 maiores parceiros comerciais de produtos florestais do Brasil (que representam cerca de 80% do volume total exportado pelo país), dois pertencem ao TPP (Japão e Vietnã). Estes dois países, sozinhos, são destino de apenas 7% das exportações brasileiras de grãos e cereais. Assim, somente por estes aspectos, é esperado que o Brasil tenha poucas dificuldades para manter o market share atual para seus produtos florestais, por um eventual fortalecimento do comércio entre os países membros do TPP.