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sábado, novembro 23, 2024
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O uso de mulchings biodegradáveis na agricultura moderna

 

Alessandro Lavandeira Mangetti

Engenheiro Agrônomo com graduação na ESALQ/USP

 

Créditos Divulgação
Créditos Divulgação

O desenvolvimento do polietileno-PE (polímero derivado de uma fonte não renovável, que é o Petróleo) na forma de uma película para ser usado na cobertura do solo na produção agrícola revolucionou o sistema de produção, bem como a rentabilidade de diversos tipos de culturas.

Atualmente, são essenciais para o sucesso de uma cultura, no entanto, a utilização desses filmes pode causar impactos ambientais significativos, principalmente após o ciclo da cultura.

 A necessidade de retirar esses filmes do solo ao final de cada ciclo da maioria das culturas afim de que os mesmos sejam eliminados ou direcionados para o processo de reciclagem é uma problemática muito grande. Leva tempo e tem altos custos com mão de obra, máquinas e transporte até as unidades recicladoras.

A reciclagem desses filmes é muito difícil, já que apenas uma pequena parte de todo o montante originado na agricultura pode ser reutilizada em função da presença de resíduos químicos (agrotóxicos). Além disso, é onerosa, pois requer investimentos no transporte até centros de reciclagem.

Por essa razão, a grande parte desses materiais é levada a aterros sanitários (estima-se que 10% de todo o lixo plástico nos aterros são provenientes da agricultura), condição que pode levar centenas de anos para que tais materiais se decomponham. Além disso, a presença desses plásticos também prejudica a decomposição de materiais degradáveis biologicamente, isso quando o empresário rural não “queima“ os mesmos, promovendo um impacto ao ambiente muito grande.

Então, como fazer?

O processo de retirar o mulching do solo no fim de cada cultura deve ser feito com muita responsabilidade e requer tempo, custos de mão de obra e/ou uso de máquinas, sendo que na maioria das vezes pedaços dos filmes ficam no solo e são incorporados, pela grande dificuldade de retirá-los perfeitamente, novamente causando impacto ambiental.

Para empresários rurais que comercializam seus produtos no mercado internacional (exportação), principalmente para os mercados norte-americano e europeu, como é o caso de muitas empresas produtoras de melão no nordeste brasileiro, essa problemática é muito grande, já que certificadoras internacionais estão atentas aos cuidados ambientais e fazem constantemente fiscalizações em seus fornecedores para constatação de que realmente há uma produção sustentável.

Esse caminho certamente será seguido por muitas redes de hipermercados e empresas de comercialização na compra de alguns alimentos, tais como: morangos, tomates, pimentões, hortaliças folhosas, entre outros, já que o consumo de alimentos pelos consumidores finais provenientes de uma produção sustentável ganha força a cada ano.

Por essa razão, a busca por alternativas ambientalmente corretas, quando comparadas ao uso de filmes à base de polietileno (polímero petroquímico), é crescente e o número de pesquisas de órgãos governamentais e empresas privadas interessadas em desenvolver filmes biodegradáveis para uso na agricultura vem crescendo mundialmente. Países como Israel, Portugal, Espanha e França são exemplos na pesquisa e desenvolvimento de biomulchings.

Os mulchings biodegradáveis são sustentáveis e trazem retorno positivo para o produtor - Créditos Divulgação
Os mulchings biodegradáveis são sustentáveis e trazem retorno positivo para o produtor – Créditos Divulgação

Do que é feito?

As principais matérias-primas para a fabricação de películas biodegradáveis, ou dos chamados bioplásticos, são as fontes de carbono renovável, geralmente um carboidrato derivado de cana-de-açúcar, milho, batata, trigo ou beterraba, ou então de óleos vegetais, tais como soja, mamona e girassol.

Entende-se como um plástico biodegradável aquele que sofre biodegradação (processo em que a degradação resulta da ação natural de microrganismos, tais como fungos, bactérias, ou mesmo algas) e que cumprem determinadas normas mundiais (de acordo com essas normas deve ser comprovada a biodegradação completa em menos de seis meses).

Segundo a norma europeia EN 13432, a compostagem de um material deve cumprir alguns requisitos:

  • Ø Biodegradabilidade: a biodegradabilidade do filme é determinada pela medição da conversão metabólica em dióxido de carbono. Deve-se ter 90% do valor obtido pela referência (celulose) para que o material seja considerado biodegradável.
  • Ø Desintegradabilidade: avalia a fragmentação e a perda de visibilidade no composto final. Os resíduos do material em teste com dimensões superiores a 2 mm são considerados não desintegrados, e essa fração deve ser inferior a 10%.

Problema resolvido

Portanto, o biomulching, ou mulching biodegradável, pode ser incorporado ao solo juntamente com os restos da cultura, resolvendo os problemas de contaminação dos solos, como o que acontece com os mulchings derivados de polímeros à base de petróleo (polietileno (PE)), bem como os custos de mão de obra para a retirada dos mesmos do solo e para o encaminhamento a centros de recolhimento autorizados.

O agricultor vai economizar tempo e reduzir custos. O biomulching tem um valor inicial mais elevado quando comparado ao mulching convencional de PE, porém, o empresário rural deve fazer uma análise de custo/benefício, levando em conta não somente esse investimento inicial, mas também os custos de remoção, reciclagem e eliminação, além de considerar os impactos ambientais que deixam de ser ocasionados.

Desafios

Um dos maiores desafios de pesquisadores e empresas envolvidas no desenvolvimento e comercialização do mulching biodegradável é produzir um material com propriedades mecânicas similares aos dos plásticos convencionais, com biodegradabilidade controlada, já que as condições edafoclimáticas na produção agrícola, como presença de água (proveniente dos sistemas de irrigação), microrganismos e temperatura (calor) são favoráveis ao início do processo de biodegradação antes do fim do ciclo da cultura, o que pode levar o mulching a ter uma degradação precoce, perdendo sua característica mecânica e reduzindo o seu desempenho.

Sendo, assim o biomulching deve ter a sua biodegradação controlada, de forma que suas propriedades não sofram mudanças durante sua vida útil, mas que possa se decompor de forma acelerada no fim do processo.

Para tanto, a escolha correta do mulching biodegradável deve levar em conta alguns fatores afim de que tenha sua eficiência maximizada: ter conhecimento da fisiologia de cada tipo de cultura, bem como das condições edafoclimáticas da região, afim de que o biomulching seja implantado de forma eficiente, escolhendo tanto a espessura como formulações adequadas a cada tipo de cultura e região a ser aplicado.

Essa matéria você encontra na edição de julho da revista Campo & Negócios Hortifrúti. Adquira a sua.

 

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