Edison RyoitiSujii
Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Os insetos conhecidos como tripes (Thysanoptera) apresentam uma diversidade estimada em mais de cinco mil espécies, sendo que cerca de 100 delas são consideradas pragas de plantas cultivadas.
A maioria das espécies se alimenta de plantas, sugando a seiva das flores, folhas e frutos. Algumas espécies podem se alimentar de fungos e outras são predadoras de ácaros e outros insetos.
Geralmente, vivem na face inferior das folhas, brotos, flores e sob a casca de árvores. Os tripes são de difícil constatação nas lavouras recém-plantadas, mas podem ser facilmente encontrados nas inflorescências de várias plantas.
Suas populações costumam aumentar nos períodos mais secos e sem chuvas, sendo que temperaturas mais altas aceleram seu desenvolvimento.
Sintomas
Os adultos e as formas jovens (ninfas) do inseto raspam e sugam os tecidos da face inferior das folhas e das flores, causando o aparecimento de pontos prateados que podem variar de branco a pardo.
Na progressão da infestação surgem áreas mais extensas estriadas ou descoloridas e prateadas, sendo que as folhas ficam mais duras e quebradiças. Podem também causar deformação dos frutos, quando atacam as flores, e o encarquilhamento das brotações novas.
Prejuízos
Os tripes causam descoloração das folhas, redução da fotossíntese, deformidades e redução do valor comercial da safra. Diversas hortaliças, como pimenta, tomate e pepino podem ter seus frutos deformados ou abortados quando atacados jovens ou durante a floração pelo inseto.
Brotações novas e folhas dessas plantas, além de outras, como cebola e alho, são especialmente suscetÃveis ao ataque do inseto. No entanto, o principal dano causado por tripes são os tospovírus, que podem causar viroses nas plantas.
A virose mais conhecida desse grupo nas hortaliças é o vira-cabeça, que se destaca no tomate, alface e pimentão. As plantas atacadas pela virose apresentam, inicialmente, as folhas bronzeadas e, posteriormente, o caule com estrias negras, os frutos verdes com manchas amareladas e o broto principal curva-se, daà o nome de vira-cabeça.
Causa maiores danos quando grandes populações migram de outras hospedeiras e infestam lavouras de tomateiro com até 45 dias pós-plantio. Existem pelo menos 20 vírus do grupo tospovírus que infectam plantas cultivadas e são transmitidos por tripes.
Hortaliças atacadas
A grande diversidade de espécies de tripes consideradas praga e seu hábito polÃfago favorecem o ataque desses insetos a muitas espécies de hortaliças. Os gêneros Frankliniella e Thrips são os que possuem mais pragas apresentando respectivamente 41 e quatro espécies no Brasil.
Existem registros de ocorrência de tripes em apiáceas (cenoura, aipo),brássicas (couves e repolho),aliáceas (alho e cebola), cucurbitáceas (pepino, melão, abóboras, melancia), fabáceas (ervilha e feijão-verde ou vagem), solanáceas (tomate, pimentas e pimentão, berinjela e jiló).
Merecem especial destaque os danos diretos causados por tripes em cucurbitáceas e aliáceasreduzindo a produção e a qualidade da safra, além da transmissão de tospovírus em tomate, pimentão e alface, causando pesadas perdas quando a infestação ocorre no início do ciclo dos cultivos.
Controle
O controle químico com inseticidas tem sido a principal forma de combate ao tripes em diversas hortaliças. Entretanto, o uso indiscriminado de inseticidas apresenta diversos problemas, como a elevação do custo de produção, o surgimento de populações de tripes e outras pragas resistentes aos produtos utilizados, ressurgência da praga, erupção de pragas secundárias, eliminação de organismos benéficos (inimigos naturais), poluição do ambiente agrícola e seu entorno, intoxicação de produtores e resíduos tóxicos nas hortaliças acima do tolerável, colocando em risco a saúde dos consumidores.
Assim, técnicas alternativas de controle devem ser conhecidas e consideradas pelos agricultores em um sistema de manejo integrado da praga.
Destacam-se, entre os métodos alternativos, o uso de produtos biológicos, como extratos vegetais como o neem e bioinseticidas à base de microrganismos, como os fungos Beauveriabassiana, já disponível na forma comercial, e Verticilliumlecanii, que apresenta bom potencial de controle.
O uso de armadilhas de coloração azul e amarela na forma de bandejas com água e placas adesivas, além de ajudar no monitoramento do inseto também reduz as populações iniciais que colonizam novas áreas de plantio.
Outras práticas agronômicas preventivas, como o uso de variedades resistentes a viroses e menos suscetÃveis ao inseto, plantios em talhões distantes ou isolados por barreiras de outras plantas hospedeiras de tripes, produção de mudas protegidas com telados anti-tripes, rotação de culturas e plantio concentrado de plantas suscetÃveis, evitando o escalonamento, policultivo e uso de inseticidas somente quando constatadas populações da praga visando proteger o controle biológico natural da praga por predadores e parasitoides devem ser adotadas para minimizar os problemas.
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