Rafael Tadeu de Assis
Engenheiro agrônomo, mestre e professor do curso de Agronomia do Centro Universitário de Araxá (Uniaraxá)
Fernando Simoni Bacileri
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia na Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
A indústria de fertilizantes enfrenta um desafio contÃnuo na melhoraria de seus produtos para aumentar a eficácia da utilização dos nutrientes e para minimizar qualquer possível impacto ambiental adverso. Isto é feito por meio da melhoria de fertilizantes já em uso, ou pelo desenvolvimento de novos tipos de adubos específicos.
Os fertilizantes organominerais são produtos originados da mistura física de fontes orgânicas com nutrientes minerais. De uma forma simplificada, podemos dizer que fertilizante organomineral é a mistura ou combinação de fertilizante orgânico com fertilizante mineral (N P K), ou mesmo dizer que são adubos orgânicos enriquecidos com nutrientes minerais.
Sua produção é realizada partindo-se de uma ou mais matérias-primas orgânicas e a elas acrescentando-se macronutrientes primários e secundários, bem como micronutrientes, segundo as fórmulas e especificações desejadas.
Opções
As matérias-primas orgânicas podem ser as mais diversas, desde dejetos de animais, como os de suÃnos e aves, até compostagens de diversos materiais, como o lodo de esgoto e lixo domiciliar, subprodutos da indústria sucroalcooleira, restos da agricultura, como casca de arroz, de café, entre outros.
Além destas opções para compor a parte orgânica, também tem se utilizado materiais sedimentares como a turfa, lignito e leonardita, porém, estas últimas opções têm como limitante o custo e a pouca abundância em território nacional.
A fração mineral dos fertilizantes organominerais é proveniente de diversas fontes tradicionais de fertilizantes químicos que contêm os nutrientes essenciais ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Entretanto, as fontes convencionais comumente utilizadas na agricultura, como ureia, superfosfato simples e o cloreto de potássio, se aplicadas apenas na forma mineral, estão mais sujeitas a perdas no solo por volatilização, lixiviação, escoamento superficial ou adsorção com as argilas do solo.
As perdas dependem do tipo de solo (especialmente textura), local (pluviosidade), época de aplicação, tipo de adubo e sistema de cultivo (convencional ou direto), mas, de modo geral, a aplicação antes da fase de maior demanda das culturas resulta em maiores perdas.
Vantagens dos organominerais
Em relação às vantagens do fertilizante organomineral comparado ao uso de resíduos in natura, a primeira vantagem é que nos organominerais as fontes orgânicas passam por compostagem, eliminando água e tornando o adubo mais concentrado.
Além disso, observa-se uma redução significativa das perdas de nitrogênio pelo uso de fertilizante organomineral em relação à aplicação superficial de resíduos de suÃnos e aves, uma vez que o enterrio ou injeção do resíduo no sulco de plantio reduz a volatilização de amônia.
Nessa mesma lógica, o uso de fertilizantes organominerais reduz as emissões de gases de efeito estufa, representando ganhos ambientais em relação ao uso dos resíduos in natura. Comparativamente aos fertilizantes minerais, ainda faltam experimentos de campo de longa duração que permitam avaliar com maior precisão a eficiência relativa desse tipo de fertilizantes.
Os principais benefícios esperados pela utilização de fertilizantes organominerais são em relação à eficiência no fornecimento de fósforo (P). Teoricamente, espera-se maior eficiência em relação ao fornecimento de P, em função da presença de grande quantidade de ânions orgânicos nos grânulos de fertilizantes organominerais.
Estes ânions orgânicos competem pelos sÃtios de adsorção de P, abundantes em solos tropicais, reduzindo momentaneamente a fixação desse nutriente, favorecendo a absorção pelas plantas. Espera-se ainda, aumento da atividade microbiana no entorno da área de aplicação do fertilizante organomineral devido ao fornecimento de energia para os microrganismos pela matéria orgânica contida no fertilizante.
Efeitos adicionais sobre o crescimento de raízes, promovidos por compostos orgânicos presentes no fertilizante organomineral podem ocorrer, e essa é uma linha de pesquisa que merece especial atenção por parte dos órgãos de pesquisa.
EquilÃbrio nutricional
Com o uso dos fertilizantes organominerais é possível ter uma adubação mais equilibrada devido aos mecanismos de disponibilização dos elementos no solo. Os compostos orgânicos apresentam decomposição e mineralização lenta, e assim fornecem os nutrientes às plantas de maneira gradual durante os diferentes estádios de desenvolvimento, enquanto que a fração mineral disponibiliza os nutrientes rapidamente, atendendo as necessidades nutricionais imediatas das culturas.
Outra vantagem do uso de fertilizantes organominerais é que no processo de fabricação, a mistura entre material orgânico e mineral permite colocar em um único grânulo todos nutrientes para suprir a necessidade das plantas, e com isso podem-se realizar adubações e distribuir os nutrientes de forma mais homogênea nas áreas, o que é muito interessante, especialmente para micronutrientes que são exigidos em pequenas quantidades, e por isso são difÃceis de serem aplicados.
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