José Braz Matiello
Iran B. Ferreira
Ana Carolina R. Paiva
Engenheiros agrônomos da Fundação Procafé
O suprimento de micronutrientes ao cafeeiro é feito, em sua maior parte, por via foliar, pela pulverização de zinco e cobre, já que via solo esses nutrientes não se aprofundam e são limitados com facilidade em terrenos mais argilosos. Para o boro, embora a aplicação via solo seja a mais adequada, aproveita-se sua combinação, em coquetéis de sais na calda, ou mesmo adubos foliares formulados, também na sua aplicação via foliar.
A absorção dos micronutrientes pelas folhas do cafeeiro é influenciada por fatores externos e internos, como a tecnologia de aplicação, a luz, a temperatura, a umidade, a idade das folhas e seu estado nutricional. Na primeira fase da absorção ocorre a penetração cuticular, passiva, e depois a absorção celular, ativa.
A umidade da cutÃcula é citada, no geral, como uma condição que favorece a absorção de nutrientes via foliar. No entanto, não se conhece, para o cafeeiro, a importância do processo de absorção continuada, por efeito de novo molhamento foliar posterior ao secamento das gotas pulverizadas sobre a folhagem.
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Pesquisa
Com o objetivo de estudar o efeito da renovação de umidade na folhagem, simulando o efeito de orvalho ou de chuva fina, após dias da aplicação dos principais micronutrientes em cafeeiros foi conduzido um ensaio no período de janeiro a março de 2015, no laboratório da Fazenda Experimental da Fundação Procafé, em Varginha (MG).
Foram ensaiados três tratamentos, sendo a testemunha, sem aplicação dos micronutrientes e mais dois aplicados com micronutrientes, sendo um com e outro sem a simulação posterior de orvalho na folhagem.
As aplicações foram efetuadas com equipamento pulverizador uniforme, sobre mudas de café com seis pares de folhas, as quais foram mantidas em ambiente interno, sob condições controladas. Cada tratamento constou de 15 mudas. As concentrações e produtos usados na calda pulverizada foramsulfato de zinco a 0,5%, ácido bórico a 0,5% e oxicloreto de cobre a 0,4%.
No tratamento com simulação de orvalho aplicou-se pulverização com água destilada, em gotas bem finas, duas vezes, no primeiro e segundo dia após a pulverização dos micronutrientes.
Uma semana depois foram coletadas folhas das mudas, recebendo a lavagem da superfície com detergente usual e, em seguida, foram secas e analisadas quanto ao conteúdo de zinco, boro e cobre, no laboratório de análise foliar da Fundação Procafé, com a metodologia usual de análise foliar do cafeeiro.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise estatÃstica com a comparação das médias pelo teste de ScotKnot.
Resultados
Na tabela 1 estão dispostos os resultados das análises foliares quanto aos teores de zinco, boro e cobre, sob efeito dos três tratamentos ensaiados.
A análise estatÃstica mostrou diferenças significativas na absorção dosmicronutrientes, com superioridade para o tratamento onde se simulou a ocorrência de orvalho posteriormente às pulverizações com a calda dos micronutrientes.
Para o zinco e boro essa superioridade do tratamento 2 foi significativa e para o cobre, apesar do nível foliar ser maior, não houve significância estatÃstica, talvez por se tratar de um produto de lenta liberação.
Tabela 1– NÃveis de micronutrientes em folhas de cafeeiros sob efeito de tratamentos com e sem simulação de orvalhamento. Varginha (MG), 2015
Tratamentos | Resultados de análise de folhas, em mg/kg | ||
Zinco | Boro | Cobre | |
1-Testemunha | 25,50c | 65,22b | 15,75b |
2- Com simulação deorvalho | 181,75a | 76,72a | 389,50a |
3-Sem simulação de orvalho | 101,00b | 69,17b | 269,25a |
CV % | 19,89 | 5,28 | 4,.09 |
Estes resultados reforçam a influência do efeito de molhação da superfície foliar, da cutÃcula das folhas, como fator de melhoria na absorção foliar, também para o caso do cafeeiro. Nessa condição, agora observada, pode-se concluir que as novas molhações com água, simulando uma situação de orvalho ou de chuva fina que venha a ocorrer após a aplicação da calda com micronutrientes, tornam a aplicação mais eficiente.