A Embrapa está criando protocolos de produção de frutas orgânicas em escala comercial e as frutas que apresentaram resultados mais rápidos foram o abacaxi e maracujá, com produtividades superiores e maior qualidade
Sistemas orgânicos de produção de diferentes frutas estão sendo construÃdos de forma pioneira pela Embrapa com base em experimentos instalados na Chapada Diamantina (BA). Todos são resultados de um projeto realizado em parceria com a empresa Bioenergia Orgânicos, no MunicÃpio de Lençóis, que experimenta soluções para a produção de orgânicos em larga escala, algo ainda difícil de fazer.
A Embrapa está elaborando protocolos de produção usando a estratégia de geração e validação simultânea dos resultados. Os resultados do primeiro ciclo de produção mostram níveis de produtividade superiores ao convencional.
Duas culturas apresentaram resultados mais rápidos: a do abacaxi e a do maracujá. No caso do abacaxi, o trabalho desenvolve um sistema de produção para duas cultivares: a Pérola, a mais plantada no País, e a BRS Imperial, desenvolvida pela Embrapa, cuja principal característica é a resistência à fusariose, mais importante doença da cultura, que chega a causar 100% de perdas da lavoura.
Outra vantagem da variedade é não conter espinhos na coroa e na folha, o que facilita o manejo e reduz custos e riscos de acidentes.
Mais qualidade
A qualidade dos frutos tem surpreendido a equipe. No caso do abacaxi Pérola, a média de peso ficou entre 1,6 kg e 2 kg. “É difícil até no plantio convencional apresentar essa média. Entendemos também que o clima da região, tropical semiúmido, propicia um bom desenvolvimento da cultura”, avalia o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) Tullio de Pádua.
“Como não tÃnhamos nenhuma informação sobre produção de abacaxi em sistema orgânico, inicialmente fizemos trabalhos para definir densidade de plantio, adubação e manejo de cobertura do solo para as duas variedades”, conta Tullio.
E os primeiros resultados, segundo ele, são positivos, principalmente pelo fato de ter havido poucos problemas com a fusariose no Pérola. “O controle dessa doença é necessário e um desafio maior no sistema orgânico. Treinamos os funcionários da empresa para fazer o monitoramento constante e eliminar as plantas doentes, como forma de reduzir a disseminação da doença”, conta.
Ajustes
O principal desafio para os cientistas é ajustar constantemente seus conhecimentos de pesquisa com as necessidades de quem está na linha de produção. “Desde o início, quando a proposta foi concebida, sabÃamos que para implantar um projeto dessa magnitude terÃamos de ter a pesquisa como aliada”, afirma Osvaldo Araújo, um dos sócios da Bioenergia, empresa que tem por objetivo final o processamento de polpa integral para abastecer o mercado de suco.
Em meados de 2011, pesquisadores e técnicos especialistas em diversas fruteiras começaram a atuar no convênio, com duração de cinco anos e que poderá ser renovado. A previsão é que a indústria entre em funcionamento em 2016.
Para a Embrapa, a proposta significa a possibilidade de avançar na pesquisa com orgânicos. “Encontramos um parceiro que nos colocou à disposição uma área de 80 hectares para pesquisa, que se tornou a nossa grande estação experimental de fruticultura orgânica [no MunicÃpio de Lençóis], com a infraestrutura disponível e mão de obra”, avalia o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Zilton Cordeiro, coordenador do trabalho.
Segundo ele, associar as pesquisas já considerando a produção pode trazer resultados importantes em um prazo relativamente curto. Entre os vários obstáculos, o especialista destaca os fitossanitários.
A primeira grande batalha foi contra uma cochonilha que acometeu a plantação de acerola. Para o controle, foi utilizada uma estratégia de poda com aplicação de uma calda de sabão. A infestação recuou. Há áreas em que a infestação passou de 25% para 1%. “Uma série de outras questões irá surgir, e as alternativas serão pesquisadas na hora”, diz o pesquisador.
Peso acima da média
Um exemplo de que a produção orgânica se baseia em séries de testes é o trabalho realizado com o BRS Imperial. Diferentemente do que acontece com o Pérola, o BRS Imperial apresenta baixa taxa de florescimento natural, por isso é feita a indução floral. “Temos observado que o abacaxi BRS Imperial parece responder melhor em relação ao peso de fruto a um ciclo vegetativo mais longo. Em vez de 12 meses, que é o padrão, fizemos a indução em 14. A média dessa variedade no sistema convencional é 1,2 kg. Obtivemos frutos acima desse peso médio”, comemora. Ele revela que serão testadas induções com diferentes idades vegetativas para observar a produção.
Inicialmente, os sócios não haviam pensado na alternativa de comercializar frutos in natura, mas, diante da qualidade do produto, hoje eles já consideram essa possibilidade. “Pensamos primeiro apenas no processamento. Mas colocamos como teste esses frutos aqui no mercado local e a aceitação tem sido muito boa. Isso nos fez pensar em trabalhar uma classificação com produtos in natura no mercado”, conta Araújo.
As necessidades de ajustes são constantes. As bases do sistema de produção para o abacaxi e para o maracujá estão sendo finalizadas. “Não temos o sistema de produção perfeito, assim como não há perfeição para o sistema convencional,mas já temos a base”, salienta Zilton.
Inicialmente a área destinada aos experimentos com abacaxi era de um hectare. As mudas produzidas estão sendo transferidas para uma área de dez hectares, já com o objetivo de saÃda comercial. Araújo afirma que serão plantadas agora 300 mil mudas.