A pitaya é um fruto de alto valor agregado, e vem avançando nas prateleiras de mercados exigentes em qualidade, como o de frutas diferenciadas e orgânicas
Não há levantamento preciso sobre as áreas cultivadas com pitaya no Brasil, mas sabe-se que existem cultivos comerciais em todas as regiões brasileiras, com destaque para o Centro-Oeste (principalmente Goiás e Distrito Federal), Sudeste (principalmente São Paulo) e Sul (principalmente em Santa Catarina).
Segundo Fábio GelapeFaleiro, pesquisador da Embrapa Cerrados na área de Genética e Melhoramento, apitaya é um fruto de alto valor agregado que atinge um mercado exigente em qualidade, incluindo o nicho de frutas orgânicas.
Â
A fruta
A pitaya é uma Cactaceae, sendo conhecida mundialmente como “Dragon Fruit”, ou Fruta-do-Dragão. Sua polpa é rica em fibras com excelentes qualidades digestivas e de baixo teor calórico.
Fábio Faleiro conta que, no Brasil,esta tem sido considerada uma fruta exótica, apesar de serem encontradas espécies de pitaya nativas em várias regiões, principalmente no Cerrado e Caatinga.
Os frutos apresentam diferentes cores e formas, dependendo da espécie, indo de tons de vermelho ao amarelo e a polpa apresentando coloração roxa, vermelha ou branca. As flores são hermafroditas, eretas, vistosas e abrem à noite, orientadas pela luz da lua ou do sol do início ou do final do dia.
Â
Tipos de pitaya
As pitayas pertencem à família Cactaceae, que apresenta aproximadamente 84 gêneros e 1.400 espécies nativas das Américas. Os frutos das pitayas podem apresentar características diversificadas de acordo com a espécie, dentre as quais podem ser citadas Hylocereusundatus (frutos com casca vermelha e polpa branca), Hylocereuscostaricensis (frutos com casca vermelha e polpa vermelha), Selenicereusmegalanthus (frutos com casca amarela com espinhos e polpa branca) e Selenicereussetaceus (frutoscom casca vermelha com espinhos e polpa branca).
Â
Exigências de cultivo
As espécies de pitaya normalmente são adaptadas a ambientes extremamente quentes ou áridos, apresentando ampla variação anatômica dos frutos e capacidade fisiológica de conservar água.
Embora seja tolerante a clima quente e seco, as condições ideais para o desenvolvimento das pitayas são temperaturas tropicais de 18 a 26°C e pluviosidade média anual acima de 1.200 mm, ou seja, plantações comerciais de pitaya exigem um adequado sistema de irrigação, quando as chuvas são insuficientes ou mal distribuÃdas ao longo do ano.
As mudas
Ao contrário do que se imagina, além da exigência hÃdrica as pitayas necessitam de adequado suprimento de macro e micronutrientes, principalmente nitrogênio e potássio, que podem ser fornecidos às plantas por meio da adubação orgânica e/ou mineral.
Fábio Faleiro conta que as pitayas normalmente se adaptam bem a diferentes tipos de solo, desde que seja feita a devida correção da acidez e fertilidade. Os solos que oferecem melhores condições para o desenvolvimento do cultivo são aqueles de pH entre 5,5 e 6,5 e não compactados, ricos em matéria orgânica, bem drenados e de textura arenosa e areno-argilosa.
“Um ponto importante para o sucesso de um pomar de pitaya é o material genético utilizado. No momento, ainda não há cultivares geneticamente melhoradas registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O que os produtores têm feito é a produção de mudas a partir de material propagativo de pomares comerciais. O método mais utilizado para produção das mudas é a propagação vegetativa (estacas), utilizando cladódios de diferentes tamanhos (10 a 80 cm). Cladódios maiores levam à produção de mudas mais vigorosas e que iniciam a produção mais cedo.As mudas podem ser produzidas em sacos plásticos em viveiro, embora o plantio direto dos cladódios no campo também possa ser feito“, explica o pesquisador da Embrapa.
Exigências edafoclimáticas
A pitaya é uma espécie que apresenta algumas exigências edafoclimáticas, produzindo de maneira satisfatória com precipitações que variam de 600 a 1.500 mm anuais, sendo a fase reprodutiva a mais dependente de água, pois previne a perda de frutos por abortamento.
José Darlan alerta que a temperatura também exerce efeito intenso sobre o seu crescimento e desenvolvimento. A faixa satisfatória para o desenvolvimento da planta e boa produção está em torno de 18 a 26°C. “Entretanto, há algumas regiões produzindo satisfatoriamente em climas mais amenos e também em outras com temperaturas mais elevadas. Em áreas com histórico de ocorrência de geadas há citações de injúrias nas plantas, portanto,estas devem ser evitadas“, recomenda.
Â
Planejamento e implantação do pomar
O sucesso na implantação de um pomar se resume principalmente ao bom planejamento. A pitaya, por ser uma planta considerada perene, permanecerá um longo período no campo. Dessa forma, alguns pontos básicos devem ser observados e executados com muita cautela.
Ellison Rosario de Oliveira, doutorando na UFLA, sugere alguns pontos que são cruciais para obter sucesso no cultivo da pitaya: condições edafoclimáticas propÃcias para o bom desenvolvimento das plantas, menor distância entre o local de implantação da cultura e o mercado consumidor, escolher espécies adequadas ao mercado consumidor, tipo de suporte, sistema de condução, espaçamento, tratos culturais, obtenção de mudas de qualidade e, principalmente, a viabilidade econômica.
Â
Adubação de cobertura
A adubação de cobertura pode ser feita a partir de 60 dias após o plantio, sendo geralmente aplicados 50 gramas de sulfato de amônio e 50 gramas de cloreto de potássio, procedimento que deve ser repetido a cada 90 dias. A adubação fosfatada, por outro lado,deve ser repetida a cada seis meses.
A localização dos adubos de cobertura deve ser feita num cÃrculo com aproximadamente 30 cm de raio em torno da planta. Após o plantio das mudas surgem as brotações laterais, que devem ser retiradas, deixando somente um cladódio, o mais vigoroso e mais próximo ao ápice da planta.
Â
Podas
Outra prática cultural importante é o uso das podas, que são práticas essenciais para a condução, formação e produção das plantas de pitaya. “Por meio das podas as plantas são conduzidas no tutor. Quando elas atingem o suporte, são realizadas podas para emissão de brotações laterais. As podas de produção aumentam a brotação de novos cladódios na planta e, consequentemente, levam à produção de mais flores e frutos“, justifica Fábio Faleiro.
Tratos culturais
Os tratos culturais no cultivo da pitaya se resumem, principalmente, ao controle de plantas invasoras, retirada de brotações, controle de doenças, podas e polinização manual.
Segundo Miriã Cristina Pereira Fagundes, pós-doutoranda da Universidade Federal de São João Del Rei, o manejo de plantas invasoras é essencial, pois evita a competição com a cultura principal por água, luz e nutrientes. Além disso, as plantas invasoras podem servir como fonte de inóculo de doenças e até de alimentos atrativos para algumas espécies de formigas cortadeiras, sendo assim mais uma ameaça à pitaya.
O sistema de condução da planta, como suporte e espaçamento, influenciam em um ambiente positivo ou negativo de proliferação. Os métodos mais utilizados para o controle de invasoras são o mecânico por roçadeiras costais e capina manual com utilização de enxadas.
Â
Colheita e pós-colheita
A colheita das frutas ocorre quando essas atingem características organolépticas desejáveis pelo consumidor, ou seja, a máxima maturação. Deniete Soares Magalhães, pós-doutoranda na UFLA, explica que a maturação completa dos frutos ocorre de 30 a 40 dias após a abertura e polinização das flores, período ideal para a colheita.
Durante essa fase o epicarpo adquire coloração rosa ou vermelho e amarelo intensos, dependendo da espécie cultivada. Por ser um fruto tropical, em condições ambientais deteriora-se facilmente, não excedendo o período de 10 dias após a colheita.
O armazenamento em ambientes com baixas temperaturas, variando de 08 a 13°C, possibilita que a vida útil das frutas possa ser estendida até os 25 dias. Em contrapartida, pontua a especialista, temperaturas extremamente baixas, em torno de 02 e 08ºC, prolongam a vida útil e as características organolépticas, mas com riscos de injúrias.
Mercado e perspectivas
O professor José Darlan destaca que o mercado de frutas de pitaya é indefinido, atípico e ainda inconstante. “Por ser uma fruta nova e atrativa, sua grande aceitação no mercado está favorecendo preços compensadores. Esporadicamente são encontrados no mercado frutos de pitaya amarela de polpa branca, vermelha de polpa vermelha e vermelha de polpa branca, cada uma delas com preferências específicas, de acordo com a região e o local de comercialização. Há uma tendência de preferência recaindo sobre as frutas vermelhas de polpa vermelha e amarelas de polpa branca. Contudo, em regiões específicas, as vermelhas de polpa branca também apresentam aceitação expressiva“, detalha.
Segundo ele, é crucial que o interessado em iniciar a atividade tenha um conhecimento mÃnimo da situação do mercado para ter sucesso no seu empreendimento. De maneira geral, no Sudeste os frutos são ofertados em maior quantidade no período correspondente aos meses de dezembro a abril, portanto, deve-se atentar que aquelas frutas produzidas fora desse intervalo terão maior valor de mercado.
Â
Perspectivas de rentabilidade
A rentabilidade da pitaya depende muito do nível tecnológico adotado no pomar, o que vai impactar na sua maior produtividade e qualidade dos frutos. Assim como os preços recebidos pela fruta, o custo de implantação é bastante variável, dependente de fatores como a região inserida, sistema de sustentação ou condução das plantas, espaçamento, espécie a ser cultivada, tratos culturais implementados, disponibilidade de material na propriedade, irrigação e mão de obra. Portanto, Verônica Andrade dos Santos, pós-doutoranda na UFLA, estima os custos de implantação de um hectare da cultura entre R$ 10.000,00 a R$ 30.000,00, ou até mais, dependentes dos fatores acima descritos.