Eder de Souza Martins
Geólogo e pesquisador da Embrapa Cerrados
O pó de rocha é um material que causa várias modificações no solo, portanto, tecnicamente, não parece correto incluÃ-lo na classe de fertilizante. Classificá-lo como condicionador do solo parece mais adequado, havendo mesmo uma iniciativa para se criar uma nova classe específica para estes materiais, que seria a classe dos remineralizadores.
Do passado para o futuro
A rochagem (aplicação de pós de rocha no solo) é uma prática antiga e corriqueira, já que praticamente todos os sistemas agrícolas utilizam a calagem, que é a rochagem com calcário. O que se apresenta como um novo desafio é o uso de rochas silicáticas (por exemplo, basaltos, xistos, siltitos, etc.) para a mesma prática.
Sua atuação é diferente daquela dos fertilizantes solúveis. Alguns sistemas de produção, como a produção orgânica certificada, não usa fontes solúveis de nutrientes, portanto, são realizadas com o uso de outras fontes, incluindo pós de rocha.
O uso de rochas moÃdas pode apresentar vários aspectos interessantes, como menor custo, e atuar como condicionador do solo. Como fonte de nutriente para as plantas (fertilizante), as características do pó de rocha são: fonte multi elementar e efeito prolongado por liberação lenta (tamponamento).
Essas características podem ser vistas como vantagem ou desvantagem, dependendo do sistema de produção. Um campo de pesquisa e experimentação ainda em início de exploração é o uso conjugado de pós de rocha e fertilizantes solúveis.
Atenção redobrada
Nem sempre a presença de um elemento na rocha significa que este será disponibilizado no solo e entrará na cadeia alimentar. Por isso, o uso de rochas moÃdas ou pós de rocha requer o estudo também da mineralogia da rocha.
O uso de pó de rocha também pode apresentar algumas desvantagens, como por exemplo, um maior custo de frete por unidade de nutriente, haja vista a diluição do elemento de interesse por outros de menor ou nenhum interesse, mas que fazem parte da constituição da rocha.
Outro fator que não pode ser esquecido é que, dependendo da composição da rocha, elementos indesejáveis como alumÃnio e metais pesados podem ser disponibilizados no solo.
Assim, diferente dos fertilizantes solúveis, o uso da rochagem requer estudos locais sobre fontes regionais de material, custo de transporte, tecnologia de aplicação e, principalmente, estequiometria (quantidade) e cinética (velocidade) de liberação dos elementos de interesse, e em alguns casos, de elementos potencialmente tóxicos.
Atuação no solo
O pó de rocha atua liberando elementos químicos, nutrientes de plantas ou não, por meio do intemperismo dos minerais constituintes da rocha. Por isto, uma análise da composição quÃmica total da rocha (por fluorescência de raios-X, por exemplo) não informa qual a quantidade nem a taxa de liberação dos elementos químicos que serão disponibilizados pela decomposição da rocha. Alguns elementos podem ser solubilizados em questão de meses, enquanto outros podem levar dezenas ou centenas de anos.
Além disso, temos observado nos experimentos de campo efeitos sinérgicos e indiretos, o que é difícil de quantificar e exige mais pesquisa em áreas, como controle de pragas, de doenças de plantas, fisiologia e anatomia vegetal, citologia vegetal, uso eficiente da água, etc.
Um exemplo simples é a diminuição do Ãndice de acamamento em algumas culturas, devido aos efeitos da absorção de silício na estrutura/arquitetura da planta.
Modificações no solo
Em teoria, o efeito da rochagem pode alterar o solo de várias maneiras. Quimicamente, se a rochagem for bem planejada, o efeito mais desejado é o aumento na saturação de bases, podendo haver também um pequeno aumento de pH, já que o silicato é uma ânion de ácido fraco, da mesma forma que o carbonato presente nos calcários, porém, devido à diferença em sua constante dissociação, tem efeito menos pronunciado que o carbonato.
Além disso, sabe-se que o silicato compete com os sÃtios de fixação de fósforo no solo, induzindo uma diminuição deste fenômeno.
Fisicamente, como a rochagem é, de certa forma, uma remineralização do solo, pode-se esperar os mesmos efeitos, porém, em menor escala, do próprio processo de formação dos solos.
Assim, a formação de argila e/ou de areia, modificando levemente a textura do solo, é também uma possibilidade, se considerarmos um período de tempo mais longo, da ordem de vários anos.
Além disso, em termos biológicos, a disponibilidade dos grãos minerais como fonte multinutriente pode reativar comunidades microbiológicas no solo, mais específicas para este tipo de substrato.