Autores
Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com
Herick Fernando de Jesus Silva
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
herickfernando@gmail.com
A ameixeira pertence à família Rosaceae, à subfamília Prunoidae e ao gênero Prunus, dentro desse gênero se encontram as duas mais importantes espécies de ameixeiras cultivadas atualmente: Prunus salicina Lindl. e Prunus domestica L.
As hibridações que ocorreram entre estas duas espécies durante o processo de desenvolvimento da cultura proporcionaram o cultivo da ameixeira em diversas regiões do mundo, com exceção de regiões com predominância de clima mais quente (trópicos) ou muito frios (zona polar).
No que se refere à propagação, comercialmente a principal forma de produção de mudas da ameixeira é por enxertia, que pode ser definida como uma associação íntima entre duas partes de diferentes plantas (cavalo ou porta-enxerto e o cavaleiro ou enxerto) que continuam seu crescimento como um ser único (Ribeiro et al., 2005).
Dessa forma surge no contexto o emprego de outra cultivar, que pode estar englobada ou não na mesma espécie. Assim, não apenas aspectos ligados à escolha da cultivar que originará o enxerto e futuramente irá compor a copa das plantas deverão ser observados no momento da aquisição das mudas.
É fundamental a escolha da cultivar mais adequada para compor o porta-enxerto, em que se deve optar por aquela que se adapte bem às condições edafoclimáticas locais, possibilite o bom desenvolvimento das plantas e proporcione altas produtividades na copa.
A enxertia da ameixa
Dentre as principais vantagens da propagação da ameixeira por enxertia podemos destacar: a facilidade de obtenção da muda, o vigor do porta-enxerto, a longevidade da planta e, principalmente, o rendimento em viveiro.
Além disso, as plantas propagadas por enxertia apresentam benefícios como a redução do período de juvenilidade, ou seja, antecipação do primeiro ciclo de produção, quando comparadas com plantas propagadas por sementes, e mantêm as características da planta mãe pelo fato de serem clones, ou seja, são geneticamente idênticas à planta que lhes deu origem, com as características agronômicas da cultivar.
Vale ressaltar que os porta-enxertos favorecem também o florescimento mais intenso e produção mais precoce das plantas, além de apresentar resistência a doenças como nematoides e fungos presentes no solo.
Contudo, o sucesso da técnica requer cuidados como habilidade do enxertador e apresenta inconvenientes, como o maior tempo gasto para obtenção da muda, a variabilidade das plantas em função da propagação sexuada do porta-enxerto, dentre outros.
Porta-enxertos mais utilizados
Como já mencionado, o melhor porta-enxerto é aquele que se adapta bem às condições edafoclimáticas do local de cultivo por assegurar a nutrição mineral da planta. Dessa forma, deve-se optar por aquele com as melhores caraterísticas que promovam o bom desenvolvimento da planta.
Nos cultivos brasileiros, a produção de mudas é feita com porta-enxertos provenientes do gênero Prunus, como já citado, mesmo gênero da ameixeira, sendo a principal espécie a Prunus pérsica, na qual estão inseridos os pessegueiros, que geralmente são obtidos por meio de sementes.
Dentre os principais grupos de porta-enxerto podemos destacar:
► Mirabolanos: neste grupo estão os porta-enxertos para ameixeira mais difundidos nas principais regiões produtoras devido à afinidade de enxertia com as cultivares europeias e japonesas, pela adaptação a diversos tipos de solo e facilidade na produção de mudas.
► Pessegueiro: considerados excelentes porta-enxertos para ameixeira, as cultivares desse grupo podem conferir precocidade de frutificação, aumento no tamanho de frutos e podem, inclusive, proporcionar antecipação da maturação quando comparados aos do grupo anterior. Contudo, apresenta maior exigência em melhores condições de solo.
► Ameixeira: estes porta-enxertos, em geral, apresentam boa adaptabilidade a solos com elevado teor de argila.
Também podem ser utilizados híbridos interespecíficos e o umezeiro ou damasqueiro japonês, considerado um porta-enxerto rústico, adaptado a invernos mais brandos.
‘Okinawa’
O porta-enxerto ‘Okinawa’ é resultado de seleção da espécie Prunus persica e foi obtido pelo Programa de Melhoramento da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Apresenta bom desempenho como porta-enxerto para pessegueiro, nectarineira e ameixeira e constitui a principal cultivar utilizada como porta-enxerto para ameixeira na região sudeste do Brasil.
Além disso, esta cultivar é muito utilizada devido à sua resistência a nematoides, elevada produtividade e excelente capacidade de germinação apresentada pelas sementes, característica essencial para utilização de uma cultivar como porta-enxerto.
Manejo
Para se obter o máximo sucesso da técnica, atenção deve ser dada desde o processo de obtenção dos porta-enxertos, ou seja, começar pela semeadura. É comum as sementes de fruteiras de clima temperado apresentarem dormência, requerendo um período de estratificação sob frio úmido que varia de acordo com cada espécie.
As sementes de pessegueiro requerem uma estratificação por meio da submissão às temperaturas frias (5 a 12ºC) em substrato umedecido por algumas semanas antes da semeadura. A quebra da dormência pode ser efetuada por duas formas:
ü Estratificação de caroços: dentro de recipientes de aproximadamente 60 x 40 x 50 cm os caroços devem ser colocados em camadas alternadas com substrato constituído de areia, serragem curtida ou solo misturado com areia ou serragem.
Cada camada deve receber tratamento com fungicida Captan (240 g/100 L) ou Tebuconazole (100 mL/100 L). Logo após, esses recipientes devem ser mantidos em geladeira ou em ambiente com temperatura amena por um período de 60 dias, com o cuidado do material ser umedecido sempre que necessário. Depois dessa fase, procede-se com a quebra do caroço (endocarpo) com o auxílio de um martelo ou torno manual para a obtenção da amêndoa.
ü Estratificação de amêndoas: esse método oferece a vantagem de favorecer uma quebra de dormência mais rápida, em torno de 30 a 40 dias. Antecedendo a estratificação os caroços são quebrados para a obtenção das amêndoas que, em seguida, são tratadas com Captan (240 g/100 L)/Tebuconazole (100 mL/100 L) e posteriormente acondicionadas em bandejas com camadas umedecidas de algodão, papel filtro ou vermiculita.
Esse material deve ser mantido em geladeira ou em um ambiente que proporcione uma temperatura na faixa de 05 – 10ºC por 30 a 40 dias. Esse método ainda pode ser aprimorado com o pré-tratamento das sementes com ácido giberélico (20 mg L-1), elevando o percentual de germinação.
Próximo passo
Assim que for quebrada a dormência, esse material já pode ser semeado na sementeira em sulcos com 02 – 03 cm de profundidade, espaçados 20 cm entre si e as amêndoas distantes de 08 a 10 cm dentro dos sulcos.
Em seguida esse material deve ser coberto com camada de areia seguida de uma camada de palha, que deve ser mantida até o início da emergência das plântulas. O viveiro é o ambiente em que os porta-enxertos se desenvolverão de fato, por isso, o substrato utilizado deve oferecer maior suporte nutricional a essas plantas.
Para isso, utiliza-se uma mistura de solo, areia e esterco curtido na proporção 2: 1: 1. Os caroços devem ser dispostos num espaçamento de 1 a 1,40 m entrelinhas e 170 a 200 caroços/metro linear. Depois de emergidas essas plantas devem ser raleadas, mantendo uma densidade de 20 cm entre mudas dentro da linha.
Outra possibilidade é a semeadura em recipiente, utilizada especialmente para amêndoas. Nesse caso, utilizam-se tubetes, bandejas de isopor e sacos plásticos. O substrato utilizado deve ser poroso e capaz de reter água em quantidade adequada, bem como não conter fontes de inóculo de patógenos ou propágulos de plantas espontâneas.
Assim que emergidas, as plântulas provenientes das sementeiras devem imediatamente passar pelo processo de repicagem (transferência para o recipiente definitivo), devendo ser plantadas na mesma profundidade que se encontravam na sementeira. Já as mudas produzidas em recipientes podem ser repicadas com altura aproximada de 15 cm, por serem transferidas com torrão.
Cuidados
Após a obtenção dos porta-enxertos, cuidados básicos devem ser praticados para se alcançar o ponto ideal de enxertia, com plantas apresentando bons atributos agronômicos. Dentre os principais cuidados, pode-se destacar:
→ Desbaste: mudas em excesso competindo por um mesmo espaço resultam em plantas com porte desuniforme e pouco desenvolvidas. Por isso o ideal é selecionar as mais vigorosas e descartar as demais.
→ Desbrota: visa retirar os ramos laterais e conduzir uma haste única, proporcionando, posteriormente, aporte de água e nutrientes somente para a copa do enxerto.
→ Adubação: adubações nitrogenadas devem ser efetuadas em torno de 30 a 80 dias após a repicagem a fim favorecer um desenvolvimento mais efetivo das plantas.
→ Controle de plantas invasoras, pragas e doenças: são fatores bióticos que carecem de atenção por causarem danos diretos e indiretos nas mudas e que se não controlados podem resultar em perda da rentabilidade da produção.
→ Irrigação: deve ser realizada sempre que necessário, tendo-se o cuidado de não ser efetuada em excesso.
Quando adquirir ou produzir mudas?
A aquisição da muda ou a produção da mesma pelo próprio fruticultor é uma decisão importante a ser tomada, quando definida a implantação do pomar. Para tomada desta decisão, alguns critérios devem ser considerados:
→ Custo de aquisição ou de produção da muda;
→ Possibilidade de obter material propagativo (caroços ou estacas de porta-enxertos e borbulhas) com sanidade certificada;
→ Estrutura de produção para viveiro (mão de obra, instalações, área adequada, irrigação, dentre outros);
→ Registro do viveirista junto à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento e definição de responsável técnico pelo viveiro, no caso de interesse de comercializar as mudas produzidas. A lei 10.711 de 05/08/2003 exige o registro das matrizes e do viveiro no RENASEM/Decreto 5153 de julho de 2004.
A falta de qualquer uma destas características implica em limitações técnicas para a produção de mudas de qualidade, razão pela qual, neste caso, deve-se optar pela aquisição da muda. Além disso, em função da produção de mudas em escala comercial pelo viveirista, frequentemente é mais viável adquirir a muda ao invés de produzi-la.