Autores
Raphael Augusto de Castro e Melo
Alice Maria Quezado-Duval
Larissa Pereira de Castro Vendrame
Ailton Reis
Pesquisadores da Embrapa Hortaliças
Josefa Neiane Goulart
Doutoranda em Fitopatologia – Universidade de Brasília (UnB)
Os insetos-praga que atacam a couve-flor são comuns às outras brássicas. Inicialmente, deve-se observar a presença de lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) antes do plantio das mudas para evitar perdas e grandes falhas na lavoura. Essa lagarta tem alto potencial de dano, pois ela tem o hábito de cortar a plântula na base, não havendo possibilidade de rebrota.
Danos
Apesar do seu tamanho diminuto e dos danos iniciais parecerem pouco prejudiciais, a traça-das-crucíferas (Plutella xylostella L.) pode inviabilizar a colheita de um grande percentual da lavoura caso seu controle não seja efetuado. Seus ovos são muito pequenos e após a eclosão as lagartas começam a raspar a face debaixo das folhas.
A cera e furos que causam danos podem ser vistos claramente. Caso o controle não seja realizado, as lagartas formam pupas e logo novos adultos começam a ovipositar e a população pode crescer rapidamente, sair do controle e prejudicar a boa formação da inflorescência.
Os pulgões das brássicas (Brevicoryne brassicae) são insetos sugadores que se alimentam da seiva, principalmente das folhas das plantas. Temperaturas altas e baixa umidade relativa do ar favorecem o seu desenvolvimento e disseminação.
A elevada infestação leva ao subdesenvolvimento, contaminação por viroses, amarelecimento, encarquilhamento e até à morte da planta. Além disso, pode ocorrer o desenvolvimento de fumagina em consequência do melaço (honey-dew) excretado pelos pulgões, o que resulta na redução da área foliar e atividade fotossintética.
A lagarta mede-palmo (Trichoplusia nii e outras Plusiinae) e a vaquinha (Diabrotica speciosa) também são pragas da couve-flor, mas ocorrem esporadicamente e causam perdas pouco significativas. Identificada inicialmente em lavouras de soja e milho, em regiões de ampla produção das grandes culturas, a espécie Helicoverpa armigera se destacou pela voracidade, capacidade de destruição e ampla gama de culturas alvo.
Pragas da couve-flor
A couve-flor é uma das culturas atacadas pela praga em diversos países. Cuidados especiais devem ser dados ao monitoramento de lagartas e mariposas, já que com a entrada dessa espécie em território nacional, que apresenta alto grau de polifagia, o consumo dos primórdios florais da cultura pode causar danos significativos na lavoura.
Portanto, faz-se importante considerar o Manejo Integrado de Pragas (MIP), com controle químico realizado de maneira racional a partir de produtos seletivos assim que registrados, já que não prejudicam a ocorrência de inimigos naturais nas áreas agrícolas.
Recomenda-se, ainda, o controle biológico com bioinseticidas à base de bactérias ou vírus que eliminam lagartas e estejam registrados para a cultura e disponíveis no mercado.
Manejo acertado
As brássicas são hospedeiras de vários patógenos, principalmente de fungos e bactérias. As principais doenças são a hérnia das crucíferas, causada pelo fungo Plasmodiophora brassicae, que ocorre notadamente nas regiões serranas de clima ameno, e a podridão negra, causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. campestris, que predomina nos cultivos de verão.
O sintoma inicial da podridão-negra é a presença de áreas escuras de aspecto encharcado (anasarca) nas folhas, notadamente ao longo da borda, onde se acumula mais água, principalmente devido ao fenômeno da gutação nos hidatódios (aberturas naturais das folhas ao final das nervuras).
Em situações de irrigação por aspersão constante e/ou de chuvas, esses sintomas também podem ser notados no limbo foliar, pois a infecção pode ocorrer pelos estômatos, por ferimentos causados por insetos mastigadores, chuva de granizo ou implementos agrícolas.
As áreas infectadas vão aumentando e tornam-se amareladas e disformes até secarem. No caso da infecção pelos hidatódios, é comum a observação de lesões necróticas em formato de “V” a partir das bordas das folhas, característica da doença e que auxilia na sua diagnose na lavoura.
A infecção da bactéria geralmente também alcança os tecidos vasculares da planta, inclusive nas inflorescências e raízes, que tomam um aspecto escuro, de cor negra – daí o nome da doença. A bactéria pode infectar as sementes, onde sobrevive por muitos anos.
Além das sementes e mudas, restos culturais e plantas daninhas hospedeiras podem ser fontes de inóculo inicial da doença na lavoura. Em condições favoráveis de alta umidade relativa, respingos e aerossóis, a disseminação é rápida. Temperaturas elevadas também favorecem a multiplicação da bactéria.
Assim, as principais medidas de controle para essa doença são a rotação de cultura, o plantio de sementes e mudas sadias, o emprego de cultivares com algum nível de resistência, o emprego de bactericidas cúpricos registrados no MAPA e a eliminação de restos culturais.
O tratamento das sementes com água a 50°C por 15-20 minutos reduz o nível da infecção, mas pode variar em efeito de controle e no vigor, de acordo com a variedade, a idade do lote e condições de armazenamento.
Como identificar a doença
As plantas infectadas por P. brassicae ficam subdesenvolvidas, murcham e apresentam formação de galhas nas raízes, devido à hipertrofia das células. As plantas apresentam um aspecto normal de sanidade, mas murcham nos períodos mais quentes e secos do dia, recuperando-se durante a noite.
Se a infecção é muito severa nos primeiros dias, pode levar à morte da planta. O agente causador, P. brassicae, habita o solo como parasita obrigatório que tem estruturas de resistência com uma longevidade nesse ambiente de até 20 anos, mas que completa parte de seu ciclo de vida dentro das raízes da planta hospedeira.
A infestação do solo pode ocorrer pela aquisição de mudas já contaminadas, pela água da irrigação ou de drenagem e pelo uso de implementos agrícolas ou qualquer outro material que esteve em contato com áreas infestadas.
O desenvolvimento da doença é favorecido por condições de solos ácidos, o que não significa que condições alcalinas consigam inibir seu desenvolvimento, mas podem reduzir a taxa de multiplicação do patógeno e a disseminação da doença.
Desafios
O controle da hérnia das crucíferas tem sido um dos maiores desafios das principais regiões produtoras de brássicas em todo o mundo e no Brasil. Assim, a escolha da área, a calagem do solo e o uso de mudas sadias que podem ser tratadas com fungicidas registrados são medidas preventivas recomendadas.
Em casos de infestação do solo e ocorrência da doença, faz-se necessário a rotação de culturas ou o pousio, deixando o solo sem cultivo de brássicas por pelo menos três anos, mas também sem a infestação de plantas espontâneas da mesma família, como a mostarda.
Outras doenças causadas por fungos são a murcha de esclerócio, o míldio e a alternariose, ou mancha de alternaria. O míldio (Peronospora parasitica) pode afetar toda a parte aérea das plantas com lesões cloróticas redondas, que evoluem para áreas necrosadas. O uso de mudas sadias, rotação de culturas e eliminação de restos culturais podem ser utilizados como formas de controle.
Podridão de raízes
A murcha de esclerócio ou podridão de raízes é causada por Sclerotium rolfsii, que também é um patógeno de solo com uma ampla gama de plantas hospedeiras, inclusive de inúmeras plantas daninhas.
A principal fonte de inóculo são áreas onde foram plantadas anteriormente espécies hospedeiras, mas também pode se dar por meio do plantio de sementes provenientes de lotes contaminados, implementos e dispersão por água.
O principal sintoma em couve-flor consiste na murcha seguida de morte da planta, com presença de micélio (bolor) no caule e aparecimento de escleródios escuros e redondos. A longevidade do patógeno no solo é de três a quatro anos e, portanto, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, como as gramíneas, e controle das plantas daninhas são as principais formas de controle.
Alternariose
A alternariose ou mancha de alternaria caracteriza-se pela presença de manchas de coloração cinza em forma de alvos nas folhas mais velhas. Esse patógeno causa danos maiores quando ocorre na fase de sementeira, provocando necrose dos cotilédones, hipocótilo e tombamento, o que acarreta a destruição das mudas e inviabiliza o transplantio.
Em plantas adultas, os sintomas ocorrem inicialmente nas folhas mais velhas, caracterizados por lesões pequenas e necróticas e, posteriormente, em todas as folhas, apresentando lesões circulares, concêntricas e com halo clorótico.
Essas lesões podem coalescer e em ataques mais severos as folhas amarelecem e secam. As sementes infectadas, quando jovens, são destruídas ou ficam chochas, enquanto as sementes maduras podem ser infestadas e infectadas, contendo o micélio dormente do fungo.
Nos restos culturais, comumente deixados na área nas diversas regiões produtoras, A. brassicicola sobrevive dentro e entre locais de plantio, tendo em vista que suas estruturas de reprodução são facilmente disseminadas pelo vento.
Em longos períodos com condições favoráveis à doença, tais como temperaturas amenas, umidade relativa do ar elevada e pouco molhamento foliar, seja por irrigação ou baixas precipitações, as estruturas de reprodução originadas de poucas lesões produzem grande número de novas infecções e podem causar danos severos à cultura dentro de um tempo relativamente curto.
O manejo da alternariose pode ser realizado pelo uso de agrotóxicos e pela incorporação dos restos foliares infectados no solo, à profundidade mínima de 10 cm, combinado com rotação de culturas envolvendo outras espécies, visando um intervalo mínimo de dois meses entre o plantio de brássicas na área.
Outra medida de manejo associada ao controle é o uso de quebra-ventos para isolamento das áreas de cultivo. O quebra-vento atua como barreira à dispersão do fungo, sendo opção para essa finalidade o capim-elefante, entre outras plantas. Porém, é de extrema importância à aplicação desse manejo regionalmente, evitando-se cultivos sucessivos de brássicas e áreas com diferentes estágios de desenvolvimento em propriedades vizinhas, o que pode inviabilizar essa prática caso não seja efetuado corretamente.
Podridão mole
Outra doença bacteriana é a podridão mole, que pode ser causada por bactérias do gênero Pectobacterium spp. e por Pseudomonas marginalis pv. marginalis e tem ocorrência principalmente no verão, com temperatura e umidade elevadas, quando as condições ambientais são favoráveis para o seu desenvolvimento.
Em regiões de clima tropical, tem elevada importância econômica pelos danos na lavoura e, com mais severidade, no transporte e armazenamento, em função da capacidade de propagação do patógeno pelos respingos de água, ferimentos provocados por insetos e implementos agrícolas e danos mecânicos no transporte em caixas contaminadas.
Os ferimentos nas folhas facilitam a penetração da bactéria, que se espalha e provoca manchas encharcadas. Os sintomas aparecem na inflorescência da couve-flor após dias de chuva, favorecendo a umidade constante nos primórdios florais e a colonização pelas bactérias e provocando o apodrecimento com pequenas manchas marrons que podem se espalhar rapidamente em condições favoráveis e exalar um odor desagradável.
Como medidas de controle recomenda-se evitar o plantio em áreas de baixadas, o adensamento das plantas, excesso de água na irrigação, controlar insetos mastigadores e realizar rotação de culturas. Além disso, a eliminação dos restos culturais, desinfecção dos instrumentos utilizados na colheita e os cuidados com os danos mecânicos pós-colheita também evitam a contaminação.
Colheita e pós-colheita
A maior parte da couve-flor colhida é comercializada fresca em mercados diversos, tais como verdurões, supermercados e centrais de abastecimento. Para tanto, a inflorescência é colhida com as folhas mais novas para proteger os primórdios florais do impacto mecânico durante o transporte e do dano da exposição à luz, que ocasiona o escurecimento do produto.
A utilização da embalagem para a comercialização da couve-flor fresca, com a finalidade de prolongar a vida pós-colheita, vem crescendo de forma constante. A rastreabilidade do produto embalado segue o mesmo caminho, garantindo assim um melhor controle do sistema de produção e a segurança do alimento para o consumidor final.
O congelamento prolonga sua vida pós-colheita e permite o transporte para regiões mais afastadas dos centros de produção. As indústrias de congelamento estão localizadas principalmente nas regiões sul e sudeste, com produtores que possuem contrato para a comercialização da produção recebendo assistência técnica durante o ciclo da cultura. O produto é enviado para a indústria em forma de floretes, facilitando o processo de congelamento.
Demanda
A área plantada com couve-flor nacionalmente é estimada em mais de 11.000 hectares, com volume de produção de 329.047 toneladas. As variações na oferta refletem claramente as limitações das cultivares atualmente disponíveis.
Cultivares resilientes e aptas a tolerar as oscilações bruscas de temperatura nos meses de meia estação, seja na transição verão/outono ou inverno/primavera, poderiam reduzir a estacionalidade da oferta dessa cultura no mercado.
No verão, a produção de couve-flor é baixa, reflexo das precipitações e das altas temperaturas que ocasionam perdas por doenças durante o cultivo e danos após a colheita. Assim, a oferta nesse período em que o estabelecimento de uma área é arriscado, ainda que os preços sejam mais altos, faz com que haja volumes de produção menos expressivos, condicionando parte dos agricultores a plantar em condições mais favoráveis.
Rentabilidade
A couve-flor é uma hortaliça de valor agregado, com possibilidade de oferecer boa rentabilidade aos produtores, especialmente aos que optam pela utilização de tecnologias durante o cultivo. A necessidade de cultivares adaptadas e do emprego de tecnologias para o manejo atualmente se deve às instabilidades nas condições climáticas, o que tem acarretado perdas significativas. Diante dessa conjuntura de alterações a cada ano, o custo de produção pode variar de R$ 20.000 a R$ 24.000 por hectare.