O panorama para produção da safrinha ainda é uma incógnita, porque o atraso das chuvas poderá impactar diretamente em uma redução da área plantada na safrinha e, como consequência, uma menor produção
A 2ª safra de milho, também conhecida como safrinha, se tornou, nos últimos anos, a segunda cultura temporária mais importante do Brasil, perdendo em produção apenas para a soja. Na campanha agrícola 2016/17, a produção de milho na 2ª safra respondeu por 30% da produção brasileira de grãos.
Nos últimos 10 anos, avalia Leonardo Sologuren,engenheiro agrônomo, mestre em economia e sócio-diretor da HorizonCompany e da Zeus Agrotech,a produção brasileira da 2ª safra registrou um crescimento de 146,1%, enquanto a safra de verão recuou 41,6%. Segundo ele, o aumento da área cultivada com a 2ª safra pode ser explicado por diversos aspectos, entre os quais podemos destacar:
Ãœ A necessidade de geração de caixa pela máxima ocupação possível da terra ao longo do ano. A geração de caixa melhora o retorno sobre o ativo (ROI) e ajuda a diluir os custos fixos da atividade agrícola;
Ãœ Melhora das condições agronômicas pelo aumento da matéria orgânica do solo via plantio direto e redução da pressão de fitoparasitas, como nematoides que atacam a soja. O cultivo da 2ª safra em sucessão à soja tem resultados cientÃficos comprovados de aumento da produtividade da oleaginosa;
Ãœ Necessidade de ganho de escala. Atividades de exploração em commodities exigem o constante aumento da produção, seja via horizontal (aumento da área) ou vertical (aumento da produtividade). Nesse contexto, a 2ª safra ganhou importância na região centro-oeste do Brasil, onde as áreas cultivadas possuem módulos superiores aos da região sul do País.
“Com ao aumento da produção de milho 2ª safra, o Brasil elevou sua oferta do cereal de forma significativa nos últimos anos, ajudando o País a se consolidar como o segundo maior exportador global do cereal, perdendo apenas para os Estados Unidos“, afirma Leonardo Sologuren.
Leonardo Lucio Amorim Mussury, professor de Economia da Unigran ““ Centro Universitário da Grande Dourados, concorda. “O ano agrícola 2016/17 foi excepcional para o setor agrícola brasileiro. O Brasil alcançou a maior safra de milho, que beira as 97 milhões de toneladas.Na soja, 114.075 milhões de toneladas. Feijão, arroz e algodão também acompanharam essa evolução, pois pequenas alterações de volume produzido podem ser justificadas por reduções de área plantada, ou até mesmo menor investimento em tecnologia. É preciso entender que os problemas polÃticos acabam por minar a capacidade e as expectativas dos produtores na hora de definir o que plantar, como plantar e quando plantar. De toda forma, foi um grande ano para a agricultura brasileira“, avalia o especialista.
O milho
O Brasil vem, ao longo da última década, aumentando a área plantada de milho. “A tÃtulo de exemplificação, plantávamos uma safra total (safra verão e safrinha) em 2007/08 de cerca de 14 milhões de hectares (Conab 2017/18) e hoje, na safra 2017/18, temos a perspectiva de plantar 17.255 milhões de hectares, com forte impacto na safrinha, que sofreu uma evolução nesse mesmo período de aumento de área, perto de 130% no mesmo período. Ou seja, plantávamos 5.130 milhões de hectares em 2007/08 e estimamos para 2017/18 um plantio de 12.109 milhões de hectares. Não há como negar esse crescimento vertiginoso no milho“, aponta Lucio Mussury.
Para ele, a safrinha com certeza já se tornou um safrão, o que se deve basicamente às condições climáticas que estimulam o plantio desse cereal, fugindo da janela que ameaça o período climático indesejado, em que ocorrem geadas e queda de temperatura.
Isso também acontece graças ao desenvolvimento de pesquisas e manejos que induzem novas variedades de ciclos muito curtos, que vão desde o plantio até a colheita e a resistência a todo e qualquer tipo de intempérie climática e pragas. Necessário notar que a safra verão vem se perpetuando em algumas regiões em que o milho é de forte apelo na composição da renda de algumas famílias e a vocação regional em detrimento da soja, por ser e ter um forte apelo da agricultura de subsistência.
Ganhando espaço
De acordo com Leonardo Sologuren, com o mundo demandando cada vez mais proteÃna animal, países hoje autossuficientes na produção de milho, como a China, devem ser tornar importadores do cereal muito em breve. Essa realidade abre um espaço enorme de oportunidades ao Brasil, que já se consolidou como o segundo maior exportador global de milho.
Frente a essa perspectiva, espera-se um aumento contÃnuo da área a ser cultivada com a 2ª safra no Brasil. A rentabilidade da cultura está atrelada à produtividade do produtor, a qual cresceu de forma expressiva nos últimos anos.
Na última década, Sologuren informa que a produtividade média da 2ª safra registrou um incremento de quase 60%. O produtor do Centro-Oeste já não faz a conta isolada de ganho da soja no verão e do milho na 2ª safra, mas sim do sistema produtivo soja-milho.
LucioMussury explica que o milho buscou e ganhou uma competitividade internacional, dada a forte necessidade por busca de proteínas mais baratas, como no caso da produção de frango e de suÃnos. Em segundo lugar, porque a taxa de câmbio tem produzido uma relação que estimula a exportação de excedentes que, alinhados à qualidade dos produtos in natura, ou carne pronta, são reconhecidamente de qualidade.