Andreia Aker
Engenheira agrônoma e mestra em Ciências Ambientais
Em solos tropicais a acidez é um dos principais fatores capazes de reduzir o potencial produtivo das culturas. Geralmente são solos que apresentam em seus atributos reação ácida com baixo pH (menor que 5,5), alta concentração de alumÃnio ou de manganês, além de baixos teores de cálcio e magnésio, atingindo tanto a camada superficial (0-20 cm de profundidade) como a camada subsuperficial (profundidade maior que 20 cm).
A acidez de um solo é devida aos íons de hidrogênio livre (H+), gerados por componentes ácidos presentes nos solos, tais como fertilizantes nitrogenados e ácidos orgânicos.
Dessa forma, a correção de todo o perfil de solo se faz necessária para melhorar o aproveitamento dos fertilizantes, fazendo com que o sistema radicular das culturas explore maior volume de solo, de modo que a planta absorva água e nutrientes para seu crescimento e desenvolvimento. Para que ocorra a correção, é realizada a aplicação de substâncias capazes de neutralizar (diminuir ou eliminar) os prótons da solução do solo.
Os corretivos de solo
Para ser considerado corretivo de solo, o produto deve obedecer à legislação vigente, que leva em consideração a granulometria do material e dos teores de cálcio e magnésio em sua constituição. A ausência ou teores muito baixos desses elementos indicam que o produto não é corretivo de acidez dos solos.
Essa determinação fornece os teores desses constituintes de forma simples em suas embalagens, ou seja, Ca e Mg; no entanto, são expressos, por convenção, como CaO e MgO em todos os corretivos.
Opções
Os materiais utilizados como corretivo de acidez são basicamente os óxidos, hidróxidos, silicatos e carbonatos. Assim, de acordo com a natureza quÃmica de cada constituinte originam bases fracas, de ação mais lenta (carbonatos e silicatos), ou apresentam base forte com ação mais rápida e enérgica (hidróxido).
Por isso, os corretivos devem ser comercializados com a sua correta denominação, seguindo as normas da legislação brasileira, a fim de que o consumidor, conhecendo-os, saiba como utilizá-los corretamente. Dentre os produtos disponíveis no mercado, temos:
Calcário: produto natural obtido pela moagem da rocha calcária. Composto por carbonato de cálcio (CaCO3) e carbonato de magnésio (MgCO3). São classificados de acordo com o teor de MgCO3 em sua constituição: quando apresentam teor de MgCO3 inferior a 10% são classificados como calcÃticos; teor mediano de MgCO3 (entre 10 e 25%) são classificados como magnesianos; e dolomÃticos quando apresentam teor de MgCO3 acima de 25%.
Em função do material de origem, os calcários ainda são classificados em sedimentares quando são mais friáveis ou “moles“ e metamórficos, que são mais “duros“, porém, ambos apresentam comportamento agronômico semelhante quando bem moÃdos.
Cal virgem agrícola: produto obtido industrialmente, resultante da calcinação ou queima completa do calcário. Apresenta-se como um pó fino e seus constituintes são óxido de cálcio (CaO) e óxido de magnésio (MgO). Quando reage, a cal virgem libera cálcio, magnésio, calor e todos os hidróxidos rapidamente, conferindo característica de base forte.
Cal hidratada agrícola ou cal extinta: produto obtido industrialmente pela hidratação da cal virgem. Seus constituintes são o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) e hidróxido de magnésio (Mg(OH)2) e também se apresenta na forma de pó fino. Tem ação neutralizante semelhante à da cal virgem. Contudo, a cal virgem se hidrata com a água contida no solo, enquanto o processo de hidratação da cal hidratada é industrial.
Calcário calcinado: produto obtido industrialmente pela calcinação parcial do calcário. Seus constituintes são o carbonato de cálcio (CaCO3) e o carbonato de magnésio (MgCO3) não decompostos do calcário, óxido de cálcio (CaO) e óxido de magnésio (MgO) e também hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) e hidróxido de magnésio (Mg(OH)2) resultantes da hidratação dos óxidos pela umidade do ar. Possui características intermediárias ao calcário e a cal virgem,apresentando-se também na forma de pó fino. Sua ação neutralizante é devido à base forte OH– e à base fraca CO32.
Calcário “filler“: calcário que apresenta granulometria fina.
Escórias de siderurgia: subprodutos da indústria do ferro e do aço, mostrando-se como uma alternativa para o aproveitamento de parte desses subprodutos acumulados pelas indústrias. Seus constituintes neutralizantes são os silicatos de cálcio (CaSiO3) e de magnésio (MgSiO3-).
O mecanismo de correção da acidez pela escória resulta na formação de SiO32-, que reage com a água e libera íons OH–, que neutralizam o alumÃnio fitotóxico. Apresentam o mesmo comportamento dos calcários e contêm teores relativamente elevados de micronutrientes, mas não têm sido muito utilizados.
Carbonato de cálcio: produto obtido pela moagem de margas (depósitos terrestres de carbonato de cálcio), corais e sambaquis ou calcários marinhos (depósitos marinhos de carbonato de cálcio). Sua ação neutralizante é semelhante à do carbonato de cálcio dos calcários.