Autores
Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
carlosantoniods@ufrrj.br
Júlio Cesar Ribeiro
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Ciência do Solo – UFRRJ
jcragricola@hotmail.com
Margarida Goréte Ferreira do Carmo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UFRRJ
gorete@ufrrj.br
A cultura da alface (Lactuca sativa L.) é muito sensível aos nematoides, que causam prejuízos acima de 85%; porém, um manejo que vem apresentando excelentes resultados é a aplicação de produtos biológicos via solo.
Panorama brasileiro
A alface se destaca como a hortaliça folhosa mais consumida pelos brasileiros, ocupando a liderança nacional nessa categoria. O cultivo dessa espécie tem trazido vantagens econômicas aos produtores em função do ciclo curto de produção e da busca constante do mercado consumidor por alimentos mais leves e práticos.
A grande variabilidade existente dentro da espécie também é importante, e tem possibilitado o alcance de nichos de mercado específicos, aumentando os rendimentos obtidos.
Desafios
A produção de alface a campo apresenta alguns desafios, que necessitam ser manejados com atenção. Dentre estes, destaca-se a ocorrência de nematoides como um fator limitante ao cultivo e causador de perdas que podem chegar a 100%. Em condições de cultivo intensificado a campo ou de cultivo protegido, a presença desses fitoparasitas no solo também pode resultar na inviabilização de áreas destinadas à produção de hortaliças.
As características climáticas brasileiras com relação à temperatura e umidade, associadas ao cultivo sequencial de espécies hospedeiras, são favoráveis ao ciclo de vida dos nematoides do solo, sendo ideais para a reprodução e alimentação desses fitoparasitas.
Os nematoides são geralmente polífagos, isto é, são capazes de infectar uma ampla gama de culturas agrícolas. Este fator, aliado à baixa disponibilidade de cultivares resistentes a determinadas espécies e raças, favorece o aumento da densidade populacional no solo, o que resulta, consequentemente, no aumento das perdas.
O grupo conhecido como nematoides das galhas, Meloidogyne spp., em especial as espécies M. incognita e M. javanica, têm sido os agentes mais frequentes e danosos à cultura da alface e demais hortaliças.
Sintomas e prejuízos
Os nematoides atacam as raízes por meio da ação mecânica exercida por uma estrutura pontiaguda denominada de “estilete”, que auxilia na retirada de substâncias nutritivas, ou injeção de enzimas que promovem a degradação dos tecidos, facilitando sua penetração nas raízes.
Os sintomas do ataque por nematoides geralmente são notados inicialmente na parte aérea, apresentando as plantas menor crescimento e amarelecimento ou murchas nas folhas em função do comprometimento radicular.
A partir do arranquio de plantas, o produtor poderá observar que o ataque de nematoides é bem evidente nas raízes, pela formação de estruturas diferenciadas denominadas de galhas e/ou pelo escurecimento dos tecidos.
Estas condições afetam a absorção de água e de nutrientes, influenciando no desenvolvimento das plantas atacadas. Além disso, podem favorecer o aparecimento de doenças causadas por bactérias e fungos potencialmente invasores.
Quando o ataque por esses fitoparasitas é superior ao nível de dano econômico da cultura, perdas significativas na produção das hortaliças são observadas, além da redução do valor comercial do produto. Estas perdas também têm sido acentuadas em outras hortaliças folhosas, como chicória, couve e repolho; hortaliças-fruto, como abobrinha, berinjela, tomate e pepino; e em hortaliças tuberosas, como beterraba, cenoura, batata, inhame e mandioquinha salsa, dentre outras.
Controle
O manejo dos nematoides deve ser visto sob uma concepção preventiva e integrada. Estratégias como o uso de cultivares resistentes, quando disponíveis, além da utilização de mudas de qualidade, rotação com espécies não hospedeiras, pousio das áreas ou alqueive, manejo adequado da fertilidade do solo, controle biológico, limpeza dos implementos e máquinas e a adição de matéria orgânica ao solo, são práticas que necessitam ser encorajadas e utilizadas de forma conjunta.
Além destas, também deve-se considerar a utilização de espécies que afetam negativamente a população dos nematoides, como as crotalárias, por exemplo. O controle químico é pouco indicado para o manejo de nematoides por possuir custo elevado e ser agressivo à microflora benéfica do solo, ao meio ambiente e ao ser humano.
Ativos biológicos
Devido aos danos causados pelos nematoides e às dificuldades no seu manejo, outras possibilidades, como o controle biológico, têm sido desenvolvidas nos últimos anos e vêm sendo utilizadas no campo.
O controle biológico envolve o uso de organismos benéficos, considerados inimigos naturais dos nematoides. Estes agentes benéficos agem protegendo as raízes das plantas dos ataques de nematoides com efeito sobre a fase reprodutiva destes fitoparasitas, reduzindo a população na fase juvenil e na massa de ovos no sistema radicular das plantas atacadas, evitando, ainda, a entrada de doenças por meio do tecido vegetal atacado.
Atualmente, no mercado brasileiro e mundial existem diversos formulados biológicos com pronunciado efeito sobre o controle de nematoides, como por exemplo, estratégias biológicas contendo os fungos Paecilomyces lilacinus, Pochonia chlamydosporia, Trichoderma spp., ou bactérias como Bacillus amyloliquefaciens, e Bacillus subtilis.
Estes agentes de biocontrole têm sido indicados para o controle de nematoides de importância para agricultura brasileira, como as espécies pertencentes aos gêneros Meloidogyne, Pratylenchus, Heterodera, e Rotylenchulus, por exemplo.
Viabilidade
A utilização de biológicos para o controle de nematoides do solo tem se consolidado na agricultura mundial como fruto de grandes investimentos em pesquisa para a escolha e validação de agentes com eficiência notável.
A utilização dessas ferramentas vai de encontro às demandas atuais da agricultura, tendo em vista a importância dos organismos benéficos presentes no solo, e por serem consideradas estratégias mais limpas e sustentáveis.
Dicas importantes
Por serem organismos vivos, a utilização de produtos biológicos exige alguns cuidados visando a garantia da eficiência da aplicação. Em um primeiro momento, é necessário que o produtor conheça as espécies de nematoides presentes na sua área a partir da coleta e envio de amostras de solo a laboratório credenciado. O conhecimento dessas espécies será importante para a escolha do biológico que melhor atenda às suas demandas.
A aplicação na cultura da alface costuma ser feita em área total, no momento do transplantio. É recomendado que o produto seja aplicado nos horários mais frescos do dia, utilizando pulverizadores devidamente calibrados, limpos e isentos de resíduos.
Caso o produtor tenha alguma dúvida sobre como proceder, deverá consultar o rótulo do produto e as recomendações técnicas feitas por um engenheiro agrônomo, que poderá auxiliá-lo na definição das doses, épocas e formas de aplicação.
Vantagens do controle biológico
A utilização de biológicos para o manejo de nematoides, associado às práticas preventivas e de manejo integrado anteriormente mencionadas, vem ganhando espaço nas lavouras brasileiras em função da eficiência e custo-benefício apresentados.
Os resultados a campo nas principais áreas de produção de alface do Brasil têm sido satisfatórios, o que viabiliza a continuidade da produção de hortaliças nestas áreas e redução das perdas causadas.
Com isso, o produtor poderá obter melhor rendimento no empreendimento, fornecendo ao mercado hortaliças de melhor qualidade e produzidas com menor impacto ao meio ambiente.
“ A ocorrência de nematoides é um fator limitante ao cultivo de alface e causador de perdas que podem chegar a 100%”
“ O conhecimento das espécies de nematoides existentes na área será importante para a escolha do biológico que melhor atenda às suas demandas”