Manoel Ibrain Lobo Junior
Engenheiro agrônomo e auditor GlobalGAP IFA (Boas Práticas Agrícolas)
Podendo atacar mais de 200 espécies de plantas em todo o mundo e com um custo anual de controle estimado em mais de US$ 5 bilhões, a Helicoverpa armigera é atualmente considerada a “praga“ mais nociva de todo o planeta.
Em todos os países do mundo com grande potencial agrícola existem inseticidas eficientes, mas a cada safra a Helicoverpa armigera cria resistência, sendo necessários grandes investimentos emergenciais em pesquisas por novas moléculas químicas, produtos orgânicos e biológicos.
No Brasil, a presença desta praga já levou o Ministério da Agricultura (MAPA) a decretar situações de emergência fitossanitária nos Estados do Mato Grosso, Goiás e no Oeste da Bahia.
Características
Com grande capacidade de dispersão, essa nova praga pode alcançar grandes distâncias. Os adultos podem migrar até 1.000 km. Cada fêmea tem a capacidade de ovipositar de 1.000 a 1.500 ovos sobre talos, flores e folhas, preferencialmente no período noturno, momento em que se encontram em maior movimento no terço superior das culturas, possibilitando, dessa forma, o controle químico e biológico mais efetivo.
De maneira geral, é possível estimar que, em mais de 90% dos casos, quando acontecem falhas nas aplicações de defensivos agrícolas químicos e biológicos objetivando o controle de plantas invasoras, insetos, doenças fúngicas e bacterianas, as causas são devido às incorretas técnicas e tecnologias de aplicação empregadas.
Pelo mundo afora
Tenho realizado trabalhos de consultoria na área de tecnologia de aplicação, ministrando treinamentos e palestras em todo o Brasil e também em todo o Paraguai. Normalmente no Paraguai os produtores realizam as aplicações diurnas de herbicidas e preferem realizar as aplicações de inseticidas e fungicidas no período da noite, quando conseguem uma maior eficiência no controle dos insetos, incluindo nessa extensa lista a Helicoverpa armigera, em função de seus hábitos alimentares noturnos, momento de maior movimentação nas culturas.
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Pulverização
Por meio de monitoramentos das aplicações de inseticidas em campo, foi possível constatar que existe ainda um conceito antigo que, para atingir com maior facilidade e controlar as pragas localizadas no terço inferior das plantas, é necessário serem aplicados altos volumes de calda em altas pressões nas pulverizações terrestres.
No Brasil convencionou-se que altos volumes de calda variam entre 100 a 200 litros (por hectare), médios volumes entre 50 a 100 litros e baixos volumes, menos que 50 litros aplicados.
Tenho acompanhado e participado de reuniões técnicas com grandes produtores do Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Tocantins, Paraná, dentre outros Estados, que realizam aplicações de agroquímicos e produtos naturais em altÃssimos volumes de calda, acima de 200 litros/ha. Mesmo assim, reclamam da funcionalidade e da eficiência no controle de vários produtos.
São produtores com bom nível de conhecimento em tecnologia de aplicação e que monitoram as deposições de gotas nos baixeiros das plantas, por coletores de gotas (papéis sensÃveis à água), mas reclamam que mesmo aplicando altos volumes e atingindo esses coletores, não conseguem controlar a Helicoverpa.
Por meio de trabalhos de desenvolvimento e implementação de novas técnicas e tecnologias sustentáveis para as pulverizações aéreas e terrestres, objetivando atender às necessidades desses produtores com relação a esses novos limitantes de produtividade, foi possível constatar que os melhores controles aconteceram quando foram aplicados produtos (químicos, orgânicos e biológicos) em volumes entre 60 litros/ha a 100 litros/ha, selecionando bicos e produzindo tamanhos de gotas com diâmetros entre 80 a 120 micra, tamanhos semelhantes ao diâmetro de um fio de cabelo.
Resultados
A explicação para os melhores resultados dos controles das pragas localizadas nas folhas dos baixeiros das plantas com menores volumes de calda é simples: água não controla as pragas, pois ela nada mais é que o veículo para as moléculas dos produtos químicos, orgânicos ou biológicos atingirem os alvos.
Sempre devemos aplicar as doses recomendadas pelas empresas fabricantes de agroquímicos, produtos naturais ou orgânicos e nunca devemos reduzir as doses desses produtos nas aplicações aéreas ou terrestres. Entretanto, é possível afirmar que quanto maior a concentração desses produtos (ingredientes ativos) sobre os alvos, mais rápido e maior será o controle, por mais tempo.
Aplicados em menores volumes de água na calda, os defensivos serão mais eficientes, porém, esse volume está condicionado à massa foliar das culturas. Quanto mais massa foliar nos terços superior e médios das culturas a serem superadas e transpostas pelas gotas finas e muito finas, maior será a necessidade de maiores volumes de calda.
Na prática, não existe uma “receita de bolo“, uma recomendação “engessada“ sobre os volumes a serem aplicados, em função das diferentes arquiteturas foliares de diversas variedades de plantas de soja, algodão, milho, etc (por ex.), diferentes condições meteorológicas das áreas de aplicação, diferentes níveis de tecnologias empregadas, etc.
Baseado nos trabalhos realizados em campo em todo o Brasil e também em todo o Paraguai, posso afirmar que os melhores resultados no controle da Helicoverpa foram conseguidos quando os produtores aplicaram produtos (químicos, naturais ou orgânicos) utilizando bicos (pontas) de pulverização convencionais (sem indução de ar) de jato tipo plano simples ou duplo, bicos de jato tipo cone vazio ou cheio.