José Donizeti Alves
PhD. e professor de Fisiologia Vegetal da Universidade Federal de Lavras
O segredo para se atingir o sucesso na cafeicultura é tentar reter o fruto no cafeeiro até que ele atinja um tamanho tal que se traduza em peneiras elevadas com cafés muito bons em qualidade, aspecto e bebida, prontos para serem colhidos.
A queda de frutos no cafeeiro é um problema que assusta os cafeicultores, e com razão, pois após uma boa florada a expectativa é de uma alta produção. Entretanto, há que se considerar que desde a floração até a colheita, muitas coisas vão acontecer e é bom ficar atento para tentar minimizar desordens fisiológicas como a queda de frutos, que por certo irá acontecer em maior ou menor grau, a depender da condição fisiológica da lavoura.
Pode parecer estranho dizer que a queda de frutos de café sempre acontece, mas temos que entender que ela é um produto da evolução da espécie Coffea arábica L., e está intimamente associada à sua origem, que se deu em condições de sub-bosque da Etiópia permanentemente sombreadas, onde predominam temperaturas amenas, baixas luminosidades e boa oferta de água. Nesse ambiente ele vegeta abundantemente e produz baixa carga de frutos.
No Brasil, todas as cultivares descendem de cafeeiros introduzidos dessa região e, na maioria das vezes, são cultivadas a céu aberto e, portanto, sujeitas ao calor e altas luminosidades e, não raro, passando por períodos de seca. Ainda que nessas condições não sombreadas a produção de frutos seja alta, o seu desenvolvimento vegetativo é severamente afetado, uma vez que a maior parte das cultivares ainda preserva atributos fisiológicos de plantas sombreadas e não desenvolveram mecanismos para manter sua carga de frutos balanceada com a disponibilidade de carboidratos.
Essas condições são determinantes para acentuar a bienalidade de produção, reduzir seu ciclo de vida e acentuar a queda de flores e frutos.Desse modo, temos que entender que a queda de frutos do cafeeiro é um fenômeno natural.
 O caso é que ela pode ser agravada por fatores bióticos e abióticos e aà sim, tem-se que recorrer a tecnologias para atenuar o problema reduzindo-o a níveis mÃnimos, de modo a garantir altas produtividades.
Produção potencial do cafeeiro
Uma questão que sempre ocorre é: qual é a capacidade máxima de produção de uma planta de café? Para responder esta questão temos que entender a fisiologia reprodutiva do cafeeiro com foco nos ramos plagiotrópicos ou laterais, que são os ramos produtivos.
Na axila de cada folha presente em cada nó encontram-se, em média, cinco gemas. Cada gema irá se diferenciar em quatro flores que, teoricamente, renderão no futuro quatro frutos que, multiplicados por cinco, formarão um conjunto de 20 frutos.
Como cada nó possui duas folhas, um glomérulo de 40 frutos/roseta será formado. Logicamente a produtividade da lavoura dependerá do número de nós/ramos plagiotrópicos, do número de ramos plagiotrópicos/planta e do número de planta/ha.
Entretanto, é importante destacar que, dependendo das condições ambientais em que ocorreu a diferenciação das gemas reprodutivas, da cultivar e da condição fisiológica da planta e do clima, o número de frutos/roseta poderá ser maior ou menor.
Pegamento da florada e queda de frutos
Na literatura cafeeira encontram-se publicados resultados de várias pesquisas científicas sobre esse tema. Apenas para ilustrar e para se ter a real dimensão do quanto a queda de flores ou de frutos contribui para a queda da produção da lavoura, compilei vários artigos cientÃficos que podem ser assim resumidos nas seguintes situações:
â–º Um mês após a florada foram computados, em média, 25 frutos em ramos onde havia, inicialmente, 67 flores. Isso significa que somente 37,3% das flores transformaram-se em chumbinhos. Essa percentagem pode ser muito menor, quanto mais desfolhado estiver o cafeeiro.
Apesar desses números assustadoramente pequenos, a produtividade da lavoura chegou a 40,0 sc/ha. Esses resultados mostram que houve um crescimento compensatório dos frutos remanescentes na planta, o que pode ser atribuÃdo à maior área foliar fotossinteticamente de ativa disponível para cada fruto.
â–º Cafeeiros que apresentaram, em média, 58 flores/roseta, tinham nas diversas fases de crescimento dos frutos 20 chumbinhos/roseta, 16 frutos em crescimento ativo, 14 frutos granados e 12 frutos cerejas aptos para serem colhidos. Esses números revelam que somente 34,5% das flores vingaram, e que apenas 60% dos chumbinhos permaneceram na planta até a colheita. Se formos considerar os números desde a floração até a colheita, a queda foi, em número redondo, de 80%.
A partir desses números é possível fazer algumas importantes considerações. A primeira é de que um grande número de frutos em uma roseta pode não ser necessariamente a melhor opção. Isto porque haverá uma menor área foliar disponível para cada fruto. Com isso, as reservas de carboidratos produzidos pelas folhas e que são fontes importantes para a formação e crescimento das sementes serão quantitativamente menores.
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