Marcio Funchal
Diretor de Consultoria da Consufor
O cultivo de árvores faz parte da cultura popular do Brasil. Nas variações culturais de nosso país permeiam as raízes de se plantar árvores para as mais diversas finalidades: econômica (exploração de madeira, de frutos, sementes, folhas, resinas, óleos e essências e etc.), ambiental (recuperação de áreas deflorestadas, aumento de produtividade de áreas degradadas e outras), ou simplesmente paisagÃstica.
Pensando estritamente no aspecto comercial (não retirando o mérito das demais finalidades), o País desponta como referência em várias situações. É sabido que nossas condições edafoclimáticas permitem um crescimento florestal bem superior às médias mundiais. Isso propiciou, junto com um contexto de polÃticas e programas públicos do passado, que hoje tenhamos um setor florestal com diversas cadeias produtivas em andamento.
É interessante notar que entre os representantes do setor florestal com fins econômicos excluam parte dos plantios florestais do País. As árvores com fins de produção frutÃfera são vistas como uma produção exclusivamente agrícola, sendo, portanto, desconsiderado qualquer relacionamento com o aspecto silvicultural da floresta em sim.
Outro aspecto que poucos se dão conta é de que a floresta plantada com finalidade comercial só tem razão de existir se houver demanda do mercado consumidor, seja ele qual for: madeira em tora, resíduo florestal, resina, óleo e assim por diante.
Assim, o panorama atual dos plantios florestais comerciais no Brasil está bastante concentrado em gêneros florestais com elevada demanda. Nesse cenário, o eucalipto (em razão da celulose branqueada) e o pinus (em razão de seu uso versátil em múltiplas cadeias produtivas) respondem por mais de 90% da área plantada do Brasil.
Uma parcela menor da área plantada com florestas comerciais no Brasil (8%) é representada por um conjunto de quatro gêneros florestais com aplicações mercadológicas específicas. Nesse grupo, a seringueira é o gênero mais importante.
Figura 1 ““ Composição da Área de Florestas Plantadas no Brasil
Fonte: IBA
Figura 2 ““ Composição da área de florestas plantadas no Brasil
(Apenas os outros gêneros da figura 1)
Fonte: IBA
Importância econômica
A área total plantada da silvicultura no País é da ordem de 7,7 milhões de hectares. Em termos agregados, essa área tem crescido a uma taxa pouco superior a 2% ao ano (Figura 3). Em um contexto mais recente, o país tem observado um crescimento mais acelerado da área plantada de eucalipto (3.6% a.a. – motivado prioritariamente pela celulose) e de gêneros florestais alternativos que não o eucalipto e o pinus (3,7% a.a. ““ principalmente pela aposta em novos gêneros com mercados a serem desenvolvidos), conforme mostra a Figura 4.
Figura 3 ““ Composição da área de florestas plantadas no Brasil (Total)
Figura 4 ““ Composição da área de florestas plantadas no Brasil (apenas os outros gêneros da figura 1)
 Fonte: IBA
Evolução da atividade
Apesar do crescimento contÃnuo, a silvicultura no Brasil ainda possui um elevado grau de concentração, tanto pelo lado do produtor florestal como do consumidor industrial.
Segundo o banco de dados da CONSUFOR, a concentração de grandes áreas de plantios florestais em poucos proprietários é tão elevada que apenas os cinco maiores detentores de florestas representam quase 25% da área plantada total do país (Figura 5).
Em outro enfoque, cerca de 70% do plantios florestais estão concentrados em pouco mais de 80 proprietários, mostrando assim que esse grupo é formado por produtores florestais de grande porte. Em termos setoriais, quase a metade das florestas plantadas do Brasil pertencem às indústrias de celulose e papel, numa demonstração evidente de estratégia de verticalização da produção.
Figura 5 ““ Área de Plantios Florestais no Brasil e seus Proprietários
Em termos de gêneros florestais, a Figura 6 mostra quem são os principais proprietários dos gêneros florestais de maior relevância no contexto nacional, o eucalipto e o pinus fortemente atrelados à indústria de celulose e papel. A acácia e a teca têm forte presença de produtores florestais independentes. A araucária e o paricá possuem relação direta com as indústrias que processam suas madeiras.
Figura 6 ““ Principais proprietários de florestas plantadas no Brasil
Oportunidades
Em termos de oportunidades, o produtor florestal precisa conhecer em detalhes o mercado consumidor que pretende atender. Na agricultura, um erro de escolha de mercado e manejo de uma safra pode ser corrigido facilmente na próxima safra (num período de no máximo um ano).
Na silvicultura, um erro de escolha de mercado ou de manejo inadequado pode imputar um custo financeiro num horizonte superior a 10 anos. Assim, a seguir se apresenta um breve resumo das oportunidades mercadológicas que o produtor florestal encontra ao escolher os gêneros florestais de maior relevância no Brasil:
“¢ Pinus: é o gênero com maior quantidade e variedade de consumidores industriais (praticamente todas as cadeias produtivas do setor florestal brasileiro) e de todos os portes (do micro ao grande consumidor). A rentabilidade do produtor é muito influenciada em razão da localização das fazendas e características no mercado regional.
Há opções de ser um fornecedor regular de madeira no mercado aberto, atender demanda contratual regular de consumidores industriais e também participar de programas de produção cooperada, tais como fomento e parceria florestal com indústrias de grande porte. Regionalmente, as melhores oportunidades estão no Sul e Sudeste do País, embora já tenha tido expressividade até mesmo na região Nordeste.
Â
“¢ Eucalipto: a demanda de maior expressão é da indústria de celulose, o que limita a participação de pequenos produtores florestais em mercados concentrados unicamente nesse tipo de consumidor (o pequeno produtor representa um custo elevado de logÃstica para o grande consumidor).
Há diversos outros polos consumidores de eucalipto no Brasil, concentrados em madeira para energia (lenha ou carvão vegetal), mas a remuneração ao produtor nesse tipo de mercado é um tanto limitada. Apesar dos esforços, o País ainda não demonstrou capacidade de replicar polos consumidores de multiproduto para o eucalipto (manejo de ciclo longo), tais como os existentes na região Sul.
Pensando no micro produtor, há oportunidades em todas as regiões do país. Para o médio e grande produtor, as mais relevantes são o Sudeste e Centro““Oeste, embora também haja apostas no Nordeste e Sul.
Â
“¢ Acácia: o mercado mais proeminente é o sul do Brasil (Rio Grande do Sul), que após uma recente crise de demanda ganhou novas perspectivas com a criação de um novo mercado de exportação de pellets para a Europa, ainda que o mercado regional atual esteja bastante desequilibrado entre oferta e demanda.
Na região Amazônica os plantios foram previstos para atendimento de demandas industriais que não se consolidaram. Até o momento não foram identificados mercados prósperos para os plantios já implementados.
“¢ Araucária: teve seu auge de exploração comercial nos anos 60 e 70, baseada então no corte de mata natural. Com a proibição da supressão da mata atlântica para fins madeireiros, alguns plantios comerciais homogêneos foram implementados, mas sempre com forte reticência dos órgãos fiscalizadores (possivelmente pela incapacidade de confirmar se a madeira cortada seria oriunda de plantio comercial ou corte ilegal de mata natural).
A realidade atual é que o mercado consumidor de araucária é muito restrito, uma vez que o país deixou de promovê-la comercialmente tanto no exterior como no próprio País.
“¢ Paricá: os plantios comerciais estão concentrados principalmente no Estado do Pará e atendem a uma única indústria de chapas de madeira reconstituÃda e diversas outras pequenas e médias companhias de compensados e laminados. Seu crescimento comercial está limitado geograficamente (é uma espécie adaptada ao clima amazônico), e, portanto, depende da evolução do parque industrial lá instalado.
“¢ Teca: os plantios mais representativos foram instalados no Centro-Oeste em razão da adaptação climática. O mercado nacional ainda carece de desenvolvimento, uma vez que os poucos grandes produtores exportam praticamente toda a produção, onde a Índia se consolida como o grande consumidor industrial da madeira em tora e/ou com desdobro primário.