Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
Rafael Azevedo Arruda de Abreu
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia/UFLA
A cafeicultura é uma atividade conhecida por sua importância histórica na agricultura brasileira e sua relevância na economia do País. O Brasil é um importante produtor no contexto mundial da bebida, tanto para o consumo interno quanto para exportação.
Segundo o IBGE, a produção brasileira de café Arábica em 2017 foi de 2.095.275 toneladas, enquanto que a estimativa para a safra de 2018 ficou em torno de 2.589.425 toneladas, acréscimo de 23,6% em relação à safra anterior.
Fatores internos ou fisiológicos e externos ou edafoclimáticos estão associados à produção do cafeeiro, e dentre os fatores fisiológicos a bienalidade é um dos principais na cultura. A bienalidade, que nada mais é que a alternância de produtividade ao longo dos anos sob condições de cultivo a pleno sol, ainda pode ser agravada por outro fator extremamente importante que pode comprometer ainda mais a produção: a relação fonte/dreno.
Dessa forma, a nutrição adequada das plantas e o equilíbrio entre componentes vegetativos (ramos e folhas) e produção (frutos) são essenciais a fim de se manter uma produção rentável e de qualidade. Para aumentar a produtividade do café, o florescimento das plantas e pegamento dos frutos precisam ser otimizados.
Assim, o suprimento de nutrientes por meio de fertilizantes é necessário para atingir altas produtividades em cafeeiro. Portanto, torna-se essencial conhecer a relação fonte-dreno, e como esta relação influencia na produtividade do cafeeiro de modo a utilizá-la de forma positiva, visando o pegamento da florada e, consequentemente, a maior produtividade.
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Florescimento x frutificação
A bienalidade de produção do cafeeiro pode estar até certo ponto relacionada à dificuldade de síntese de fotoassimilados suficientes para suprir as demandas da frutificação, e ao mesmo tempo fornecer suprimentos para o crescimento de partes vegetativas.
Os frutos são os drenos preferenciais de fotoassimilados durante o período reprodutivo e observa-se um elevado grau de dependência do estado nutricional da planta e da relação funcional entre folha e fruto.
É necessário que se conheça como ocorre a alocação de fotoassimilados entre folhas e frutos de cafeeiro para que se torne possível identificar os períodos de maior demanda de fotoassimilados durante o estádio reprodutivo. Assim, por meio de práticas culturais seria possível manter a produção de fotoassimilados nos períodos mais crÃticos, com a planta produzindo carboidratos em quantidades suficientes para o desenvolvimento dos frutos e para manutenção do crescimento vegetativo, inclusive amenizando a bienalidade de produção.
Assim, a adoção de práticas como a adubação correta e eficiente e tecnologias para manutenção da sanidade da lavoura para evitar a queda acentuada de folhas auxiliam no pegamento da florada e manutenção dos frutos, proporcionando uma boa relação fonte/dreno.
Suprimento nutricional
Como resultado da fotossíntese, os vegetais acumulam reservas de energia para utilização em seus processos vitais. Durante o processo fotossintético ocorre captação de energia luminosa e fixação dessa energia na forma de carboidratos, onde são utilizados como base o gás carbônico (CO2) do ar e água.
Concomitantemente a essa fixação, os vegetais retiram do solo determinados elementos químicos que são considerados essenciais ao seu metabolismo. A seguir estão listados os elementos considerados essenciais para a nutrição do cafeeiro que recebem a classificação de macro e micronutrientes, de acordo com a demanda em quantidade apresentada pela planta:
_Macronutrientes: nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre (são exigidos em maior quantidade pela planta).
_Micronutrientes: boro, zinco, cobre, ferro, manganês, cloro e molibdênio (são exigidos em menor quantidade pela planta).
Além disso, devemos ponderar conceitos como de extração e de exportação de nutrientes.
–Extração: corresponde à quantidade de nutrientes que a planta, no caso o cafeeiro, retira do solo e fica contida em todas as suas partes (raízes, caule, ramos, folhas, flores e frutos).
–Exportação: é a parte da extração que deixa o local como componente de partes vegetais, como frutos e troncos, no caso de podas.
Esses conceitos são de suma importância quando se fala em nutrição vegetal, pois por meio deles conhecemos um pouco mais sobre o processo de ciclagem de nutrientes no processo produtivo. Uma maneira interessante de reposição de nutrientes no sistema pode ser, por exemplo, a adição na forma de adubo orgânico da casca dos frutos de café produzida após o beneficiamento, pois assim os nutrientes exportados podem ser devolvidos parcialmente às lavouras.
A necessidade de reposição de nutrientes para atender as contÃnuas demandas da cultura de um local de produção aumenta proporcionalmente com a exportação dos mesmos pela retirada dos frutos.