As novas tecnologias desenvolvidas para o setor de armazenagem promovem a troca permanente do calor interno pelo ar do ambiente externo, reduzindo drasticamente a presença de calor e umidade, além de evitar a formação de condensação
O Brasil tem uma capacidade de armazenagem de 146,97 milhões de toneladas, o que é insuficiente com relação a uma safra de 193,57 milhões de toneladas, de acordo como último levantamento da Companhia Brasileira de Abastecimento (CONAB) em 2014.
Conforme padrões internacionais de armazenagem, um país deve ter sua capacidade de armazenagem 20% superior à safra colhida. Dessa forma, avalia Adriano Mallet, diretor técnico da Agrocult, o Brasil, com uma safra de 193,57 milhões de toneladas, deveria ter capacidade de estocagem de 232,28 milhões de toneladas.
“Como possuÃmos uma capacidade atual de somente 146,97 milhões, temos um déficit de armazenagem de 85,31 milhões de toneladas. Necessitamos investir em estruturas de armazenagem tanto em relação a cooperativas e armazéns gerais como no que diz respeito à propriedade rural (armazenagem na fazenda)“, afirma.
Armazenagem bem feita
As perdas na armazenagem no Brasil chegam a patamares de até 7%, conforme a cultura, oriundas de perdas qualitativas (fungos, contaminações, grãos quebrados etc.) e quantitativas (por armazenagem de forma inadequada), dentro do processo de armazenamento.
Os produtores investem em correções de solo, novas culturas de sementes, máquinas e implementos agrícolas, e Agricultura de Precisão, ações voltadas ao aumento da produtividade e rentabilidade do negócio no campo. Todos podem ser perdidos quando o produto entra no processo de beneficiamento (limpeza, secagem e armazenagem), por ainda não terem o conhecimento pleno das melhores práticas de armazenamento, garantindo a identidade e a qualidade do produto.
Independentemente da capacidade de estocagem que o produtor investirá, o módulo de armazenagem deverá ser composto de três itens fundamentais para a conservação dos grãos, que não podem ser dispensados pela importância de manter os seus ganhos quantitativos e qualitativos:
üMonitoramento da massa de grãos (termometria);
ü Aeração (ventilação);
ü Sistema de exaustão, considerado item fundamental para a conservação da safra armazenada, por proporcionar ganhos pela eliminação da deterioração dos grãos e equalização da umidade e temperatura da massa, inibindo o surgimento e crescimento das tradicionais pragas na armazenagem, e ganhos (R$) na redução de horas de ventilação.
“Tudo isso pode ser conseguido com um sistema de armazenagem que proporcionesecagem homogênea, menor percentual de impurezas e massa de grãos bem distribuÃda“, indica Adriano Mallet.
Vantagens da uma unidade própria de armazenagem
A instalação de armazenagem bem localizada estrutura para o país uma solução estratégica para o sistema produtivo reduzir seus custos de forma global, na cadeia do agronegócio. Algumas das inúmeras vantagens são apontadas pelo diretor da Agrocult:
ØComercialização da safra de forma parcial e no momento mais adequado, conforme a valorização da cotação;
ØEliminação de pagamento de taxas, quando da entrega do produto para depositar em terceiros;
ØRedução de despesas com frete e diárias, decorrente de esperas em filas para entrega do produto;
ØQualidade de armazenagem, mantendo a identidade preservada dos grãos (redução das perdas quantitativas e qualitativas);
ØPossibilidade de contratação de fretes em períodos de baixa demanda (entressafra), que indica melhor negociação com as transportadoras;
ØAproveitamento dos subprodutos, com a possibilidade de beneficiá-los ou comercializá-los (impurezas, cascas etc.);
ØPrestação deserviços de secagem a terceiros;
ØObtenção de linhas de credito para investimento em estrutura de armazenagem e valorização do patrimônio;
Ø Ganho de prêmio por saca, decorrente de ter um produto de qualidade diferenciada para o processamento industrial, com ausência de fungos, pragas e outros.
Como funciona o sistema de exaustão
Sobre os itens mencionados acima, Adriano Mallet destaca o sistema de exaustão, que é um novo conceito na armazenagem, fundamental para alcançar qualidade. “A aeração natural ou intensificada proporciona equalização do ar entre a massa de grãos e a cobertura do telhado, diminuindo o calor proveniente da radiação solar e eliminando o “˜bolsão de ar quente’ (massa de ar quente e saturada), bem como a condensação sob o telhado, nas chapas laterais dos silos e paredes dos armazéns, e o consequente gotejamento sobre os grãos“, aponta.
Esse sistema proporciona outros benefícios relevantes, como uniformidade na massa de grãos, aeração permanente e contÃnua (extrai calor do ambiente, pó, gases, umidade do ar), evita o apodrecimento (deterioração, mofo, germinação), inibe a proliferação de pragas e, aliado a tudo isso, preserva a estrutura física do ambiente, pois evita a condensação e elimina itens como o surgimento de pontos de corrosão na estrutura metálica do telhado, o umedecimento das correias (borracha) dos transportadores dosarmazéns com carga realizada por correia transportadora (cinta transportadora) e o sobreaquecimento nos acionamentos, aumentando a vida útil destes e suas transmissões.
“O gotejamento em silos e armazéns, ou seja, a condensação, é um fenômeno físicoconsiderado grande inimigo da armazenagem.A taxa de umidade varia conforme a temperatura,isto é, quando o ar quente aumenta sua capacidade de absorver umidade, esta diminui quando o ar esfria. A radiação solar provoca o aquecimento da cobertura (telhado) e, pela condução térmica, aquece o ar interno, baixando a umidade relativa do ar“, explica o especialista.
Temperatura x umidade
Adriano Malletdiz, ainda, que o ar com a temperatura elevada absorve a umidade contida nos grãos armazenados pelo efeito da evaporação. Em contrapartida, quando o ar úmido entra em contato com a cobertura resfriada, pela variação de temperatura externa, a temperatura desse ar cai, elevando a umidade relativa interna. Assim, ela podeultrapassar o ponto de saturação, condensar e gotejarsobre o produto armazenado, gerando o mofo, a deterioração e até a germinação dos grãos na camada superior da massa.
Em alguns casos acontece o gotejamento e, no dia seguinte, com a irradiação da chapa decorrente do sol, seca a camada superior, mas como os grãos são isolantes térmicos, as camadas úmidas mais profundas apresentam mofo e demais consequências já mencionadas.
“Ou seja, há uma camada incrustada e invisÃvel para quem observa a massa numa visão superior““ por cima, grãos de forma bonita (sadios), mas,por baixo, grãos podres.Essa camada deteriorada cria uma grande barreira para a passagem do fluxo de ar quando se realiza a aeração. Dependendo da espessura e dos graus de deterioração dessa faixa, chegamos a uma perda de eficiência de até 60% (medida in loco), reduzindo a vazão de ar que atravessa a massa de grãos,o que compromete a aeração e aumenta as perdas técnicas (qualitativas e quantitativas)“, alerta Adriano Mallet.
Dentro desses novos conceitos e descrição, o profissional considera o sistema de Exaustão fundamental para toda a conservação dos grãos. “A não utilização gerará perda em todos os investimentos anteriores“, afirma.
Foco
As unidades armazenadoras devem focar a sua concepção num projeto que garanta a qualidade final do produto armazenado, segurança, valorização dos benefícios e ferramentas que hoje estão disponíveis aos armazenadores, como automação, sistemas de exaustão e controle à distância da massa de grãos. Aliada a tudo isso, háa capacitação dos operadores.
Diferenciais do sistema de exaustão
O grande diferencial do sistema de exaustão, ressaltado por Adriano Mallet, é a forma construtiva. Ela faz com que o equipamento realize a exaustão sem ter a necessidade de girar mecanicamente.
“A exaustão ocorre por meio de um conjunto de venezianas invertidas que realizaram a retirada do ar do ambiente interno, somente com a movimentação do ar (vento). Desta forma, não há peças de desgaste, não colocando em risco os grãos armazenados (infiltração de água), localizados abaixo do mesmo“, esclarece.
Benefícios do sistema de exaustão
Â
- Elimina a condensação interna em silos verticais e armazéns graneleiros;
- HomogeneÃza a temperatura interna na massa de grãos;
- Contribui para o resfriamento natural dos grãos armazenados;
- Auxilia a aeração forçada;
- Reduz as horas de aeração;
- Economiza aenergia elétrica;
- Contribui para o controle de pragas e micotoxinas, reduzindo a proliferação;
- Evita o surgimento de grãos deteriorados na camada superior da massa;
- Preserva a estrutura física contra a ferrugem, aumentando a vida útil das partes metálicas dos equipamentos;
- Contribui para a manutenção da qualidade dos grãos armazenados a curto, médio e longo prazo.