Geraldo J. Silva Junior
Pesquisador do Fundecitrus
A podridão floral dos citros (PFC) é conhecida popularmente como “estrelinha“ ou Colletotrichum. Esse último é o nome do gênero do fungo causador da doença. Nos anos em que as condições climáticas são muito favoráveis para a doença, há redução de até 80% na produção de laranja da área afetada. O prejuízo ocorre porque a doença causa a queda prematura dos frutos, deixando apenas os cálices retidos nos ramos, que são conhecidos como estrelinhas.
Regiões atacadas
A podridão floral ocorre em todas as regiões onde o florescimento das plantas de citros coincide com chuvas. As epidemias da doença são esporádicas, e não ocorrem todos os anos. Há maior frequência nos países das Américas. No Brasil, a podridão floral está presente em todas as regiões citrícolas, com danos severos já observados em pomares dos estados de São Paulo, Sergipe, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná.
A última epidemia registrada no Estado de São Paulo foi em 2009, com os maiores danos sendo observados em pomares localizados no sudoeste paulista, região que inclui importantes municípios produtores de citros como Capão Bonito, Itapetininga, Avaré e Santa Cruz do Rio Pardo.
Condições para o ataque
Os sintomas da podridão floral são observados nas flores quando o período de molhamento é igual ou superior a 12 horas. As epidemias severas de podridão floral ocorrem nos anos em que as chuvas são frequentes e acarretam aumento do período de molhamento por mais de 24 horas em vários momentos durante o florescimento.
Sendo assim, quando o florescimento coincide com dois ou mais dias de chuvas consecutivas, as perdas são mais acentuadas. Se essas chuvas acontecerem mais de uma vez durante o florescimento, o prejuízo será ainda maior, uma vez que o fungo, além de conseguir infectar maior quantidade de flores, aumenta a quantidade de sintomas no pomar.
Como reconhecer os sintomas no campo
O reconhecimento dos sintomas é relativamente simples. Eles ocorrem em todas as variedades comerciais de citros. São lesões alaranjadas ou marrons nas pétalas, ou lesões marrons ou negras no estigma e no estilete das flores. Algumas semanas após a queda das pétalas das flores infectadas ocorre a queda dos frutos e retenção dos cálices, sintoma conhecido por estrelinha. As folhas dos ramos afetados ficam retorcidas, amareladas e brilhantes.
Controle
O manejo da podridão floral é realizado principalmente por meio da aplicação de fungicidas de forma preventiva durante todo o florescimento. A maioria dos citricultores adota o sistema de calendário com pulverizações a cada 7-14 dias, o que contribui para o aumento dos custos de produção e pode acarretar em pulverizações desnecessárias nos anos mais secos, quando o molhamento não ultrapassa 12 horas durante o florescimento das plantas de citros.
Uma estratégia de manejo é uniformizar e antecipar o florescimento com a irrigação. Manter a sanidade do pomar e a nutrição equilibrada das plantas também contribui para reduzir os danos da doença.
Sistema online x podridão floral
O sistema online desenvolvido pelo Fundecitrus em parceria com pesquisadores da Esalq/USP, da Universidade da Flórida e do CPTEC/INPE funciona baseado em uma equação que estima a quantidade de esporos do fungo germinados em função da temperatura e do molhamento.
Experimentos com essa equação comprovaram que a partir de 20% de germinação de esporos há “Risco Alto“ da doença e a região é avisada. Alertas também são emitidos com germinação de 15%, indicando “Risco Moderado“.
Com esses avisos o produtor pode decidir se vai pulverizar ou não seus os pomares que estão na fase suscetÃvel à doença. A indicação é pulverizar os locais com botões florais em expansão e flores abertas. Pomares mais velhos, com histórico de podridão floral ou localizados em áreas mais úmidas de baixada podem ser pulverizados quando o alerta for moderado.
Além desses dois alertas, outro alerta de “Risco Extremo“ é emitido quando a germinação do fungo atinge 50%, indicando que o citricultor deve fazer a reaplicação do fungicida, pois essa condição é muito favorável para a ocorrência de epidemia da doença.
Com base nos testes de campo, uma plataforma online do sistema foi desenvolvida, possibilitando que o citricultor tenha acesso às informações de volume de chuva, temperatura, período de molhamento das plantas e risco de ocorrência da doença no momento e para os próximos três dias.
Se estiver cadastrado no sistema, o citricultor será avisado por mensagem de e-mail ou celular sobre o momento correto de aplicar fungicidas para o controle da podridão floral. Ao receber o alerta, ele deve acessar o sistema e informar o estágio de florescimento das plantas de seu pomar para verificar a necessidade de pulverização.
Com esse novo sistema desenvolvido, o citricultor poderá planejar as aplicações de fungicida com antecedência, quando a previsão indicar condição favorável para a doença, e eliminar pulverizações desnecessárias.