Os “créditos verdes“ são uma espécie de moeda gerada a cada tonelada de soja produzida de forma sustentável. Esse crédito é, basicamente, comprado por empresas da Europa que precisam compensar seus impactos ambientais
A realidade agrícola mudou. Não existe mais condição de se ter agricultura sem sustentabilidade. A afirmativa é do diretor da Céleres, Anderson Galvão, que não se atém somente ao quesito preservação da natureza. “Não podemos esquecer que a sustentabilidade do ponto de vista conceitual está baseada em um tripé, que é a sustentabilidade ambiental, econômica e social. É preciso estar de acordo com essas três vertentes para então questionar se a agricultura é sustentável. Sem um desses pontos, a atividade deixa de ser viável“, considera.
Para ele, até mesmo grandes projetos têm uma visão de sustentabilidade focando apenas o quesito ambiental, e esquecendo-se do social e do econômico, que são os geradores de renda, empregos e desenvolvimento. “É essencial equilibrar esse tripé“, ressalta.
Para quem alinhou os pilares, a recompensa financeira por produzir soja de forma sustentável chegou, como é o caso de nove produtores rurais de Sorriso (MT), a capital Nacional do Agronegócio. Depois de mostrarem que são comprometidos com o plantio sustentável de soja, os agricultores receberam, pela primeira vez, a bonificação pela venda de créditos negociados na plataforma RTRS, sigla em inglês para a RoundTableonResponsibleSoyAssociation.
As fazendas certificadas e que receberam a bonificação são: Jaborandi, São Felipe, Dakar, São Marcos, Santana, Videirense, Cella, Berrante de Ouro e Santa Maria da Amazônia, que juntas totalizam 21.342 hectares.
Cid Sanches, consultor externo da RTRS no Brasil, explica que a sustentabilidade é um conceito muito amplo que pode ser entendido praticamente como o “core bussiness“ (negócio principal) da empresa, pois é composto do tripé ambiental, social e econômico. “Assim, para a atividade agrícola, que depende do clima, solo e fatores naturais, é mais importante ainda. Todas as atividades precisam ser ambientalmente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis“, considera ele, que acredita que se estas três condições são atendidas o negócio é lucrativo, e assim irá sobreviver e remunerar as futuras gerações que irão depender da agricultura para seu sustento.
“Todas as outras atividades, como indústria, comércio e serviços devem ter este conceito de sustentabilidade em seus negócios, pensando na longevidade das empresas, porém, na agricultura isto é primordial e deve ser encarado como o primeiro objetivo no planejamento estratégico de novos negócios e atividades dentro de uma fazenda“, reafirma.
A realidade
Nas últimas três décadas, a agricultura foi o único setor da economia que teve aumento deprodutividade. Para Anderson Galvão, nos outros setores a produtividade decaiu porque, além dos brasileiros estudarem pouco, estudam mal, ou seja, sem foco ou qualidade.
“Ainda que a agricultura brasileira esteja se destacando, as questões fiscais tributárias dificultam muito para o produtor fazer negócios, além dos obstáculos trazidos pela péssima condição de logÃstica, com grandes custos. Diante disso, o agronegócio teve que ser reinventado, abrindo as portas para a concorrência externa. Assim, alguns setores quebraram, mas os que sobreviveram tiveram que se fazer competitivos e profissionais“, avalia o especialista.
Foi o que aconteceu com a cotonicultura, que no final da década de 70 chegou a ter mais de quatro milhões de hectares plantados, atividadeque era protegida internamente, com baixo uso de tecnologias e qualidade muito inferior, abastecendo apenas a própria indústria têxtil brasileira.
Em virtude da estrutura econômica brasileira, o plantio de algodão simplesmente foi extinto, e ainda na primeira metade da década de 90 o Brasil deixou de exportar algodão para começar a importar. “Isso foi algo,de certa maneira, positivo, porque o algodão que surgiu depois desse período e vem até a atualidade é extremamente competitivo. Ganhamos em qualidade dos americanos e dos australianos. Diante do cenário de crise, nosso algodão nasceu muito mais forte e profissional“, destaca Anderson Galvão, que ressalta a busca constante por eficiência, produtividade física e econômica como a chave que abriu essa porta.
Quanto à soja, ele diz que a eficiência produtiva refletiu na melhora do cuidado com o meio ambiente. “Resumindo, se formos produzir as 230 milhões de toneladas com a mesma produtividade do começo da década de 1980, os agricultores brasileiros plantariam 186 milhões de hectares, e não os 61 milhões de hectares previstos para este ano. Para mim, essa é uma das maiores evidências do quão relevante foram os ganhos de produtividade/eficiência na agricultura brasileira e como isso se traduziu em benefícios ambientais para toda a sociedade. Em outras palavras, estamos deixando de usar, ou poupando para o futuro, mais de 120 milhões de hectares“, analisa o diretor da Céleres.
Fonte: Conab/Céleres | Estimativas 2016/17: Céleres
Mudanças que trazem benefícios
Para Anderson Galvão, as companhias agrícolas têm mudado, trazendo consigo um melhor gerenciamento de processos e de informações sobre os insumos utilizados, a data de plantio, as especificações das cultivares, entre outros. “Esse tipo de mudança requer esforço econômico num primeiro momento, mas depois de implementado, o custo se torna muito viável“, afirma.
Juntando toda essa revolução à produção de forma sustentável, a pergunta que fica é: “o preço a mais que o produtor ganha por saca de soja cobre todo o custo que ele tem para fazer a produção sustentável?“. Segundo o diretor da Céleres, o produtor é quem deve responder a esta pergunta para se pautar numa produção profissional e certificada.
A RTRS têm um programa de capacitação de soja, chamado Soja Plus, para melhoria contÃnua nas propriedades em que o produtor utiliza as ferramentas e indicações do programa se quiser “É o maior programa de certificação de polÃticas de práticas sustentáveis do Brasil, adaptado às nossas condições. Eles têm feito um bom trabalho de transferência de conhecimentos para os produtores de diversos Estados“, elogia Anderson.
Existem outros projetos de instituições em andamento no Brasil que dão apoio aos produtores rurais, como é o caso da Fapcem em Balsas (MA), a Aliança da Terra em Goiás, a Sustenágil em Minas Gerais e também empresas privadas que apoiam a certificação, como é o caso da Amaggi, Bayer, Syngenta e alguns sindicatos rurais. Todas essas instituições citadas fazem trabalhos de apoio ao produtor para este conseguir a certificação RTRS como meta final.
Â