Marla Silvia Diamante
Engenheira agrônoma e doutoranda em Horticultura/Agronomia (UNESP)
Mônica Bartira da Silva
Engenheira agrônoma e doutora em Horticultura/Agronomia (UNESP)
Santino Seabra Jr.
Engenheiro agrônomo e doutor em Horticultura/Agronomia (UNESP) – Departamento de Agronomia/UNEMAT-Nova Mutum/MT
Franciely S. Ponce
Engenheira agrônoma, mestranda em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola (UNEMAT)
Luiz Felipe Guedes Baldini
Engenheiro agrônomo e mestre em Horticultura/Agronomia (UNESP)
Por vezes, a polÃtica de sustentabilidade tem causado certo “espanto ou receio“ devido à necessidade de adoção de algumas mudanças no sistema produtivo. Contudo, determinadas mudanças podem ser introduzidas sem gerar grandes transtornos.
Um dos sistemas de produção que contribui com a sustentabilidade é o plantio direto, que permite melhorar a produção agrícola, mesmo com pouco tempo, devido à eficiência na otimização dos recursos naturais disponíveis, uma vez que as plantas utilizadas no sistema plantio direto possuem o sistema radicular mais agressivo, alcançando os nutrientes que percolaram para camadas mais profundas.
Essa técnica tem origem no conceito de “no till“ que em inglês significa justamente a prática de cultivo inserido diretamente na terra, sem a necessidade de revolver o solo.
Os primeiros estudos foram iniciados por ingleses e norte-americanos a partir da década de 1950, que o consideraram como um avanço tecnológico fundamental. Para entender melhor o conceito adotado no plantio direto, basta comparar a técnica ao mesmo processo que ocorre naturalmente em uma floresta – da mesma forma que o material orgânico que cai das árvores se transforma em adubo natural, a palha decomposta de safras anteriores por macro e microrganismos é transformada em adubo para o solo.
A essência do SPD
A expressão Sistema Plantio Direto (SPD) surgiu por volta dos anos 1980, em consequência da percepção de que a viabilidade da “semeadura direta” em regiões tropical e subtropical precisava ser abordada com uma base conceitual mais ampla do que simplesmente o abandono do preparo intenso de solo.
A partir daà a “semeadura direta” precisava ser entendida e praticada como um “sistema de manejo”, e não como um simples método alternativo de preparo reduzido de solo. Nesse contexto, a expressão “Sistema Plantio Direto” passou a ser, consensualmente, conceituada como um complexo de processos tecnológicos destinado à exploração de sistemas agrícolas produtivos, compreendendo:
- Mobilização de solo apenas na linha ou cova de semeadura,
- Manutenção permanente da cobertura do solo e,
- Diversificação de espécies, via rotação e/ou consorciação de culturas.
No início dos anos 2000 essa base conceitual foi aprimorada, passando a incorporar o método colher-semear, visando reduzir o intervalo entre colheita e semeadura, o que possibilita aumentar o número de safras por ano agrícola, construir e manter o solo fértil.
A partir desses conceitos o sistema de plantio direto apresenta como vantagens: redução no uso de máquinas; melhoria da estrutura do solo; aumento da infiltração e da retenção de água no solo; redução das perdas de água por evaporação e escoamento superficial; melhoria do desenvolvimento do sistema radicular das plantas; melhoria no controle de plantas invasoras; redução da erosão e do impacto da chuva ou da irrigação por aspersão; aumento da eficiência no uso de água pelas plantas, quebra de ciclo de doenças e pragas, além de possibilitar menores danos nas folhas da saia (em plantas de alface), devido ao menor contato das mesmas com o solo.
Avanços no Brasil
Embora o Brasil tenha feito importantes avanços no plantio direto para as grandes culturas, na horticultura ainda há a necessidade de ajustes, já que existe a predominância de elevado revolvimento do solo, principalmente em culturas como a alface.
Para a adoção do Sistema Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) é importante lembrar que as hortaliças, em geral, não proporcionam resíduos de palhada em quantidade adequada à manutenção do sistema, o que torna necessário incluir plantas de cobertura na sucessão de cultivos com as hortaliças.
A escolha das plantas de cobertura é um fator importante neste sistema. Entende-se por plantas de cobertura espécies com elevado potencial de produção de matéria seca e com sistema radicular profundo e vigoroso, que têm a capacidade de reciclar nutrientes e de, após sua decomposição, tornar o solo leve e poroso, promovendo bom enraizamento do cultivo subsequente.
Alguns produtores optam por plantas de cobertura que podem ser utilizadas como cultura comercial, como é o caso do milho, trigo ou sorgo.Contudo, ao se fazer a escolha da espécie de cobertura a ser adotada no SPDH, é importante observar a durabilidade da palhada (relação C/N), alelopatia, disponibilidade de semente e adaptabilidade da espécie.
É relevante, ainda, se atentar ao ciclo da planta de cobertura, sendo a dessecação da palhada feita antes que as plantas emitam sementes, para não se tornar uma espécie competidora com a cultura de interesse, no caso a alface.
Opções para o SPD
De maneira geral, as principais espécies utilizadas no SPDH para a formação de palhada (cobertura morta) são: milheto (Pennisetum glaucum (L.) R. Brown), o sorgo forrageiro (Sorghum bicolor L. Moench) e o capim pé-de-galinha (Eleusine coracana (L.) Gaertn).
Algumas leguminosas, como o amendoim forrageiro, também podem ser utilizadas no sistema de plantio direto sobre cobertura viva. Na região sudeste, geralmente, se utiliza o milheto como cobertura na época do verão, assim como o milho e a crotalária. No período de inverno, o uso de aveia preta e aveia amarela são predominantes.
 Dentre essas culturas citadas, o milheto se destaca por apresentar vantagem competitiva devido ao seu rápido crescimento, quando comparado a plantas daninhas e alta produção de biomassa, sendo observadas reduções médias de até 96% da infestação de algumas plantas daninhas.