Autores
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br
Eder Matsuo
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Genética e Melhoramento e professor na UFV – Campus Rio Paranaíba
edermatsuo@ufv.br
Atualmente, a cultura da soja (Glycine max (L.) Merr.) é uma commodity de grande importância socioeconômica, sendo o Brasil o segundo maior produtor ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Além da posição do destaque que a cultura ocupa no mercado, o desenvolvimento de tecnologias para a produção e a alta demanda e liquidez, culminaram no expressivo aumento de área e produtividade.
A soja é valorizada principalmente por seu alto teor de proteína, que é superior ao de outras oleaginosas e, também, apresenta 2% a mais de proteína quando comparada com a soja americana. Por isso, o grão tornou-se matéria-prima indispensável para produção de farelo proteico, utilizado principalmente na fabricação de rações para aves, suínos, bovinos e animais de pequeno porte.
O grão de soja apresenta em sua composição em média 40% de proteínas e 20% de óleo e composição química quase completa para alimentação, pois é fornecedor de proteínas, ácidos graxos saturados e insaturados, algumas vitaminas e composto polifenólicos, tais como as isoflavonas.
O principal interesse sobre o teor de proteína nos grãos de soja está relacionado à alimentação humana e animal. Onde aproximadamente 32% da soja produzida em território brasileiro é transformado em farelo e utilizado para suplementar a alimentação. Além disto, o farelo de soja pode ser destinado à exportação e para isto o produto é classificado de acordo com o teor de proteína: HyPro (>48%), Normal (46%) e LowPro (<43,5%). Para obtenção de farelo de soja Normal e HyPro, são necessárias cultivares que apresentem acima de 41,5% e 43% de proteína nos grãos, respectivamente, com base na matéria seca.
Diferencial competitivo
Na safra 2016/17, o teor médio de proteína nos grãos de soja variou entre 32,03% e 41,35%, sendo possível receber uma bonificação grãos de alta proteína, dependendo do conteúdo de proteína do produto. A maioria dos compradores calcula o preço base nos preços da soja na bolsa de Chicago (Chicago Board of Trade).
Considerando os preços atuais da soja em US$ 28,00 por saca, o diferencial de 5% entre o prêmio e o teto produtivo representaria um aumento de faturamento de US$ 1,40 por saca. Em se considerando uma produtividade média de 50 sacas por hectare, o aumento do faturamento seria de US$ 70 por hectare. Um produtor, com área de 500 ha aumentaria seu faturamento em US$ 35.000,00 na safra. O que, hoje em dia, pode representar a diferença entre lucro e prejuízo no ano agrícola.
Teor de proteínas
No momento, o Brasil não tem feito a valoração econômica da proteína de soja uma vez que o produtor é remunerado por tonelada do grão comercializada, independentemente do teor de proteína. Seria interessante do ponto de vista comercial a valorização da qualidade de proteína, ou seja, se o teor de proteína for superior à média ou à um referencial mínimo, o preço pago poderia ser superior.
No caso de venda do grão de soja para o mercado de óleo e farelo, o conteúdo de proteína e gordura somados no esmagamento do grão de soja é conhecido como pro-fat (protein and fat). Em função de sua importância comercial, este é um dos pontos fundamentais para a valorização e determinação dos preços do grão, que será maior quanto maior for o índice médio obtido.
Exatamente por esse motivo é que o mercado trabalha com denominações diferentes para o farelo de soja: farelo hi-pro (48% de proteína e 2% de gordura) e low-pro (44% de proteína e 2% de gordura).
A não valoração do grão de soja com alto teor de proteína (pagamento de bônus ao produtor) implica no não investimento por parte do melhoramento genético no desenvolvimento de programas que visem a criação de cultivares cujas sementes / grãos apresentem teor elevado em relação às demais.
Isto é, de maneira geral, o produtor não irá comprar sementes de soja de maior teor de proteína e pagar mais caro na implantação da lavoura se não existir a possibilidade de remunerado adicional no momento da venda do produto com diferencial de qualidade. Ou seja, ser pago pelo teor de proteína e não por quilogramas de grãos de soja.
O manejo das cultivares de soja com alta proteína são as mesmas daquelas utilizadas para produção de soja comum, portanto devem ser produzidas de forma separada, para não ocorrer a mistura de grãos e facilitar a comercialização. Deve-se priorizar a mais adequada para o plantio de acordo com a cultivar e região.
Plantios atrasados são considerados de alto risco devido à alta probabilidade de ocorrência de falta de chuva no período de enchimento de grãos (R5 a R7), o que compromete o tamanho e qualidade dos grãos, e o teor de proteína.
Em campo
Apesar de cultivares com alto teor de proteína terem uma redução na sua produtividade em torno de 5% comparada ao convencional, nos Estados Unidos essas cultivares recebe uma bonificação de US$ 1,20 a 4,00 por saca. Representa de 5 a 15% de prêmio em relação à soja convencional.
Em trabalho para avaliar a variação fenotípica dos teores de óleo e proteína nos grãos de genótipos de soja, Finoto e colaboradores reportaram que existe diferença entre os genótipos e identificaram uma linhagem com 48,94% de proteína, sendo que a média do experimento foi de 41,97%.
Então, observa-se que é possível encontrar no germoplasma de soja materiais genéticos que apresentem alto teor de proteína e demais características aceitáveis para o cultivo da soja em larga escala. O uso destes materiais em nível de campo requer refinamento das indicações de cultivo dos materiais já comercialmente registradas e no árduo e prazeroso trabalho do melhoramento genético no lançamento de novas cultivares.
Neste contexto, a associação do uso de seleção fenotípica e genotípica pode contribuir expressivamente na seleção de materiais superiores, ou seja, genótipos de soja com diferencial de qualidade (alto teor proteico).