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sábado, setembro 21, 2024
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Tomatec – Produção ecológica e lucrativa

 

José Ronaldo de Macedo

jose.ronaldo@embrapa.br

Cláudio Lucas Capeche

Adoildo da Silva Melo

Pesquisadores da Embrapa Solos

 

Crédito Shutterstock
Crédito Shutterstock

O desenvolvimento do sistema de produção do Tomate Ecologicamente Cultivado (Tomatec®) se originou de projetos da Embrapa em parceira com outras instituições em duas regiões administrativas do Estado do Rio de Janeiro, como a Centro-Sul Fluminense e Noroeste Fluminense, esta última marcada pelos baixos valores no IDH ““ Índice de Desenvolvimento Humano.

Nestas regiões destacam-se alguns municípios produtores de tomate de mesa, como Paty do Alferes, Cambuci, Itaocara e São José do Ubá, cujas lavouras têm características itinerantes e calcadas em um sistema de produção tradicional baseado em técnicas de manejo do solo e água, que impactam negativamente as condições ambientais locais.

Como funciona

O cultivo dessa olerícola é feito tradicionalmente no sentido “morro abaixo“ (preparo do solo e plantio no sentido de cima para baixo nos terrenos declivosos), com uso indiscriminado de insumos químicos (corretivos, fertilizantes e agrotóxicos) e irrigação que utiliza pesadas mangueiras sem controle da quantidade d`água, isso em regiões já naturalmente carentes desse recurso natural, devido às condições climáticas e redução da vazão dos mananciais.

Em muitos casos essa situação resulta na perda de solo provocada pela erosão nas encostas, com o consequente assoreamento e possibilidade de contaminação dos rios.

Visando reduzir os impactos ambientais decorrentes do plantio de tomate no sistema tradicional, foi desenvolvido o Sistema Tomatec®, que consiste na utilização de boas práticas agrícolas para produzir um fruto de alta qualidade, garantindo a segurança alimentar e voltado para a obtenção do certificado de origem e do selo de “acreditação“.

Preparo do solo e plantio no sentido de cima para baixo nos terrenos declivosos - Crédito José Ronaldo de Macedo
Preparo do solo e plantio no sentido de cima para baixo nos terrenos declivosos – Crédito José Ronaldo de Macedo

Parceria

O Tomatec® foi desenvolvido em conjunto com agricultores familiares, respeitando-se as necessidades socioambientais e atendendo a um contexto atual em que a sociedade demanda, cada vez mais, alimentos de qualidade e com menor impacto ambiental durante sua produção, gerando mercados diferenciados.

O Sistema Tomatec® utiliza técnicas agronômicas conservacionistas de solo e água, como plantio direto, o tutoramento vertical das plantas com fitilho, o controle de pragas, tendo como base o Manejo Integrado de Pragas (MIP); a fertirrigação por gotejamento e o ensacamento das pencas com sacos de papel granapel (usado na fruticultura), que oferece uma proteção física do fruto contra o ataque de insetos e do contato com o agrotóxico aplicado durante a condução da lavoura.

A base do sistema é o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e o ensacamento das pencas com sacos de papel granapel - Crédito José Ronaldo de M
A base do sistema é o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e o ensacamento das pencas com sacos de papel granapel – Crédito José Ronaldo de M

Realidade

Ao longo das ações de pesquisa da Embrapa e instituições parceiras, no município de São José de Ubá, nas lavouras dos produtores Sílvio Vieira, Juvenil e Paulo Adão, as análises laboratoriais realizadas nos frutos de tomate constataram a ausência de resíduos de agrotóxicos nos mesmos.

Os laudos técnicos laboratoriais que comprovaram, em 2006, a ausência de agrotóxicos nos frutos, foram emitidos pela equipe do laboratório do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde INCQS/FIOCRUZ, parceiro da Embrapa.

Foi fundamental para o sucesso desse resultado a proteção das pencas/frutos utilizando o ensacamento. Também, o emprego do MIP reduziu em até 60% o número de aplicações de agrotóxicos para eliminação das pragas ao longo do ciclo da cultura.

Outro fato importante é que o ensacamento, além de impedir o contato dos frutos com o agrotóxico aplicado, reduz em até 99% o ataque das pragas conhecidas como “broca pequena“ (Neoleucinodes elegantalis) e “broca grande“ (Helicoverpa zea), e, portanto, os danos à produção (perdas inferiores a 1% da produção total) e os reflexos dos agrotóxicos usados na lavoura (redução de até 60%).

Atualmente, esse sistema de produção agrícola está registrado com a marca Tomatec®, que indica que os frutos de tomate produzidos neste sistema são livres de agrotóxicos.

Detalhe da lavoura no sistema Tomatec com fitilho - Crédito José Ronaldo de Macedo
Detalhe da lavoura no sistema Tomatec com fitilho – Crédito José Ronaldo de Macedo

Produção brasileira

 O Tomatec® está sendo produzido nos principais municípios do Rio de Janeiro que cultivam tomate de mesa. Em Nova Friburgo (RJ), o produtor Lyndon Jonhson produz desde 2011 e duas produtoras irmãs – Silvania e Marilsa – já adotaram a tecnologia.

Em Itaocara, o produtor Roberto Ferreira também produz no sistema Tomatec® desde 2012. No município de Trajano de Moraes, três produtores tiveram, em 2015, o primeiro contato com esse sistema e, de acordo com seus relatos, “a tecnologia agradou“.

Outro iniciante interessado de 2015 é produtor tradicional de tomate do município de Cambuci. Além do Rio de Janeiro, o Tomatec® já foi testado com sucesso nos estados do Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Goiás e São Paulo.

 Ninho de passarinho no sistema Tomatec - Crédito José Ronaldo de Macedo
Ninho de passarinho no sistema Tomatec – Crédito José Ronaldo de Macedo

Vantagens

O sistema Tomatec® proporciona ao produtor benefícios na contenção da erosão do solo, no uso racional da água e na diminuição aproximada de 50% no uso de adubos e agrotóxicos, contribuindo com ganhos de produtividade que chegam a 30% e redução de custos de produção em até 10%.

O uso do MIP, combinado ao ensacamento do fruto, também tem seu lado ecológico, pois reduz a aplicação de agrotóxicos e seus danos ao meio ambiente, sem falar nos benefícios econômicos para o agricultor, que reduz os danos à produtividade causados pelas pragas.

Segundo alguns autores, Leal (2006) e Ferreira (2013), as perdas na produtividade no cultivo orgânico de tomate podem ser superiores a 50%. Nos cultivos tradicionais, as perdas de frutos giram entre 20 e 30% da produção.

Para os consumidores, o maior benefício é poder adquirir um produto de qualidade e livre de agrotóxicos, e também o fato de saber que na área rural existe uma tecnologia agrícola que busca produzir alimentos saudáveis, de forma sustentável, com uma oferta mais consistente durante a maior parte do ano, garantindo a saúde do agricultor, de sua família e do meio ambiente.

Devido à maior produtividade e oferta de produtos, haverá um preço mais acessível, menor do que o do orgânico e maior do que o convencional.

 

Crédito Shutterstock
Crédito Shutterstock

Essa é parte da matéria de capa da revista Campo & Negócios Hortifrúti, edição de agosto. Adquira a sua para leitura completa!

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