Diarly Sebastião dos Reis
Assistente técnico de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos
Diego Tolentino de Lima
Engenheiro agrônomo, mestre em Produção Vegetal e doutorando em Agronomia ““ ICIAG-UFU
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – UFV
Os insetos-pragas atacam a cultura da soja desde a semeadura até a fase final de enchimento de grãos, começando pelas pragas iniciais, seguido pelos insetos desfolhadores e brocas e, finalmente, pelos sugadores.
Pragas iniciais
As pragas iniciais, a maioria subterrâneas, são aquelas que ocorrem nos primeiros estádios de desenvolvimento da cultura, podendo destruir a semente em processo de germinação ou até as plântulas (com até 25 a 30 dias), reduzindo o estande ou afetando o desenvolvimento da planta. As principais pragas iniciais são corós, percevejo-castanho, cochonilha-da-raiz, lagarta-elasmo, lagarta-rosca, lagarta Spodoptera, caramujo, lesma, grilo, gafanhoto e vaquinha.
As variedades de soja Bt são altamente eficazes contra os insetos-alvo da tecnologia, que são as lagartas desfolhadoras, incluindo a lagarta-da-soja (Anticarsiagemmatalis) e a falsa-medideira (Chrysodexisincludens); as lagartas das vagens, espécies dos gêneros Helicoverpa e Heliothis; broca-dos-ponteiros ou das-axilas (Epinotiaaporema); e também a lagarta-elasmo (Elasmo palpuslignosellus), que causam danos às plântulas (embriões vegetais) recém-brotadas.
Muitas pragas iniciais na cultura da soja são consideradas secundárias, ou seja, ocorrem em populações baixas, porém, se não forem controladas podem gerar prejuízo.
Soja Bt
A utilização da soja Bt reduz a quantidade de inseticidas aplicados para controle das pragas principais (desfolhadoras), o que pode ocasionar maiores infestações de pragas secundárias, menos suscetÃveis às toxinas de Bt. Nesse caso, as infestações de pragas secundárias acarretariam a necessidade de aplicações suplementares de inseticidas químicos.
Um bom exemplo de praga secundária que se tornou principal é a lagarta C. includens. Nas últimas safras de soja, o aumento populacional se sobrepôs sobre a A. gemmatalis, que passou a ser classificada como a principal lagarta desta cultura em muitas regiões do País.
O local que as lagartas se encontram na cultura, no terço inferior das plantas, dificulta que o inseticida aplicado atinja o alvo e resulte em controle adequado. Além disso, essas lagartas se mostram tolerantes a vários inseticidas utilizados recentemente.
Diferentemente, a A. gemmatalis se localiza na parte superior das plantas, e, além disso, é uma espécie bastante sensÃvel aos inseticidas utilizados nas lavouras do Brasil. Esses dois fatos associados sugerem que seu manejo é geralmente mais fácil.
Controle fitossanitário de pragas iniciais
O monitoramento das pragas iniciais da soja deve começar antes da semeadura, no interior e na superfície do solo. A adoção de medidas de intervenção é recomendada sempre que as pragas estiverem em nível de controle.
É recomendado o tratamento de sementes para pragas subterrâneas e que atacam o colo da plântula logo após a emergência. Caso necessário, indica-se a dessecação antecipada com uso de inseticidas para eliminar populações de pragas na área.
Quando o controle for necessário, pode ser feito também pela pulverização de inseticidas sobre a cultura.
Importância do tratamento de sementes para a soja Bt
O tratamento de sementes desempenha um papel fundamental para o sucesso da emergência de plântulas de maneira uniforme e manutenção da população desejadade plantas. É feito para proteger as sementes no início do desenvolvimento da cultura de doenças e pragas que afetam a emergência das plântulas e o seu desenvolvimento inicial.
Apesar de a soja Bt controlar a lagarta-elasmo, o tratamento de sementes com inseticidas é uma prática recomendada para proteger a semente das demais pragas iniciais que não são alvo dessa tecnologia.
Já que normalmente, pela utilização da soja Bt, o controle químico é reduzido, tendendo a aumentar a população de pragas secundárias, o tratamento de sementes contribui para que estas infestações tenham menor necessidade de aplicações suplementares de inseticidas químicos durante o decorrer do ciclo.
Especificamente para o gênero Spodoptera (S. cosmioides, S. eridania e S. frugiperda), que não é alvo da tecnologia Bt, por ser naturalmente resistente à proteÃna Cry1Ac (Bernardi et al., 2014), o tratamento de sementes tem se mostrado fundamental no controle da infestação inicial, principalmente nas situações onde há lagartas na palhada antes do plantio.
Eficiência da técnica
Ensaios conduzidos com novos inseticidas para tratamento de sementes, como da classe quÃmica das diamidasantranÃlicas, nas safras 2015/16 e 2016/17, mostram que sementes da soja Bt tratadas resultam em controle superior das principais pragas foliares e de solo da cultura,podendo aumentar a produtividade.
O produto age paralisando rapidamente a alimentação dos insetos, tem efeito residual prolongado e alta seletividade a inimigos naturais.A associação entre a tecnologia do inseticida e a soja Bt protege plântulas durante todo o processo de germinação, emergência e estabelecimento do estande da cultura.
Há um sinergismo entre os efeitos das duas tecnologias, ou seja, o controle até mesmo das pragas-alvo do Bt é potencializado pelo tratamento de sementes com inseticida, o que também contribui para a manutenção dos traits de organismos geneticamente modificados disponíveis no mercado nacional.