Autores
Talita de Santana Matos
Pós-doutoranda PPG – Ciência do Solos – Universidade Rural do Rio de Janeiro
Elisamara Caldeira do Nascimento
Pós Doutoranda PPG – Agricultura Tropical – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
elisamara.caldeira@gmail.com
Glaucio da Cruz Genuncio
Professor adjunto – Fitotecnia – UFMT
As florestas plantadas ocupam uma área de 10 milhões de hectares (IBGE). O Brasil lidera o ranking global de produtividade florestal, com uma média de 35,7 m³/ha/ ano para os plantios de eucalipto e 30,5 m³/ha/ano de pinus (Indústria Brasileira de Árvores, 2016).
Esses valores são quase duas vezes maiores do que a produtividade das florestas em países do hemisfério norte. Apesar de ocupar uma pequena parcela do território nacional (aproximadamente 1% da área), o setor é responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País.
Em 2016, último ano do levantamento do IBGE, o valor da produção primária florestal alcançou R$ 18,5 bilhões, superando em 0,8% o montante obtido no ano anterior. A silvicultura segue ganhando espaço, respondendo por 76,1% desse total, enquanto o extrativismo vegetal teve uma participação de 23,9% (IBGE). Neste mesmo ano, o setor empregou diretamente 510 mil pessoas.
Demanda
A demanda por produtos florestais do Brasil, de forma geral, cresceu consistentemente nos últimos 10 anos, embora com diferentes taxas por segmentos. Aqueles com maior crescimento de demanda de 2006 a 2016 foram: painéis (7,7% a.a.), celulose (4,3%), papel (3,2%), enquanto madeira serrada teve crescimento baixo (1,1%), e as cadeias de energia (0,5%) e carvão vegetal (-5,1%) encolheram. Os fatores que determinam a demanda também variam.
Entretanto, há décadas vem crescendo a possibilidade de uso dessa madeira para fins mais nobres do ponto de vista do uso direto, em que ela é valorizada como produto e não como matéria-prima, alcançando remunerações bem maiores. Isto se torna mais interessante com a redução da oferta e apelo por manejo sustentável de madeiras nativas e seu consequente encarecimento, o que naturalmente gera demanda nas florestas plantadas.
Um exemplo é a existência, hoje, de áreas consideráveis de eucalipto e pinus de várias empresas, com volumes significativos de madeira com potencial para serraria, que já vem há bastante tempo sendo manejada para esse fim, por diferentes métodos.
Surge, assim, a oportunidade de explorar adequadamente esses recursos, criando novas e valiosas opções de mercado, para aumento de receita ou para conciliar a produção florestal com restrições de uso por motivos ambientais. Estas novas situações permitem a adoção de novos modelos para as atividades florestais, direcionando parte dos reflorestamentos à produção de madeira em ciclos mais longos, o que permite o uso do ambiente florestal com outras atividades, de forma mais conveniente do que o tradicional corte raso em áreas extensas.
Conceito
A função de produção (benefício direto) passou a ser dissociada das funções de proteção e recreação (benefícios indiretos). O conceito de uso múltiplo da floresta, porém, é o conjunto de todas estas funções. A produção inclui a extração e utilização de outros produtos da floresta, além da madeira: folhas, flores, sementes, casca, resinas, galhos, etc.
Multiprodutos da floresta ou subprodutos da madeira e do carvão, ou benefícios indiretos da floresta em pé, passam a assumir importância econômica principalmente em épocas de busca de otimização, eficiência e harmonia entre produção e conservação do ambiente, conjugando lucro com benefícios sociais.
A produção de madeira serrada é feita em escala comercial por muitas empresas do Sudeste e do Sul, principalmente as verticalizadas, que a utilizam na composição de outros produtos finais, como painéis, portas, divisórias e forros. Entre as espécies mais utilizadas estão Pinus elliottii e Eucalyptus saligna hibridado, geralmente resultantes de desbastes sucessivos em ciclos longos (20 a 30 anos). Neste setor têm-se alta interação do genótipo com a qualidade final da madeira serrada.
A produção de goma resina é realizada em grande escala, tradicionalmente explorando florestas de Pinus elliotlii em processo de desbaste e destinadas às serrarias. A destilação da goma em diversos subprodutos de alto valor permitiu a formação de indústrias químicas que fornecem breus e resinas indispensáveis às empresas de papel, tintas e vernizes, cosméticos e alimentos.
Como a maioria das empresas verticalizadas possui áreas de produção de sementes e pomares clonais para auto abastecimento e comercialização de sementes de diversas espécies de eucalipto e pinus, o Brasil acabou tornando-se exportador para países como Indonésia, Venezuela e China. Este novo mercado vem tomando destaque nos últimos anos e as vendas alcançando cada vez mais mercados.
Multiplicidade
Dentro do conceito de uso múltiplo, existem ainda benefícios diretos pouco explorados e que representam benefício social importante, principalmente a pequenos produtores. É o caso da utilização da madeira para construção civil, ferramentas, embalagem, transporte, construção naval, energia.
Deve-se considerar, ainda, a utilização industrial para fins medicinais, essências, produtos químicos e resinagem. Nesta modalidade, podemos enquadrar alguns produtos regionais de importância econômica, como erva-mate, no Sul e castanha-do-Brasil, babaçu, borracha e outros, no Norte do País.
Neste sentido, existe o manejo florestal comunitário que é o manejo florestal elaborado e realizado por uma comunidade, que acerta os interesses comuns e divide as tarefas e os ganhos entre todos.
De maneira isolada, fica difícil e custoso para uma família elaborar e protocolar um plano de manejo florestal sustentável. Unidas, as famílias têm maior poder para negociar contratos e conseguir assistência técnica.
O manejo de uso múltiplo propõe que as comunidades possam usufruir dos benefícios florestais, durante todo o ano, respeitando os períodos de colheita e descanso da floresta. Este manejo garante também a continuidade de remuneração às famílias, pois os períodos de safra dos diversos produtos se alternam.
Organização
A legislação brasileira permite que as pessoas se organizem de diversas formas. No caso do manejo florestal comunitário, as associações e cooperativas são as mais apropriadas.
Existem inúmeros produtos indiretos produzidos a partir da exploração florestal. A produção de mel de abelhas é tradicionalmente feita por algumas empresas, para consumo dos funcionários, comercialização e como amostra de cortesia. Outras empresas têm iniciado criadouros restritos de diversas espécies, incluindo aves.
O arrendamento de áreas reflorestadas para criadores de gado é tradicional no meio florestal, que obtém os benefícios de reduzir o sub-bosque e auxiliar no controle de gramíneas invasoras nos aceiros e bordaduras. Produtos agrícolas (grãos) têm sido gerados na fase de implantação florestal, em consórcio nas entrelinhas de eucalipto, pinus, araucária e nativas, prosseguindo os estudos para desenvolver sistemas agroflorestais adaptados a situações edafoclimáticas e regionais favoráveis.
A produção de água em microbacias reflorestadas é considerada um importante produto, pouco divulgado, mas que cada vez mais será valorizado para abastecimento rural e até urbano, conjugado ou não com piscicultura para lazer e comercial.
A educação ambiental tem sido praticada por algumas empresas, junto com escolas básicas ou secundárias, visando uma integração com a comunidade local, ao propiciar o contato do homem com a floresta e seus integrantes, de maneira prática. As empresas têm obtido o reconhecimento da sua importância em conservar a natureza e produzir recursos naturais renováveis.
Os estudantes se sentem estimulados a uma tomada de consciência geral sobre os problemas ambientais, compreendendo melhor as causas e consequências que afetam o homem como indivíduo e sociedade, a nível regional ou internacional.
Também há que se considerar que a valorização do carbono da cadeia de base florestal pode ser um forte indutor de demanda adicional por florestas plantadas e meio de implementação de diversas políticas públicas, de modo economicamente sustentável. Nesse contexto, ganha relevância o aproveitamento de mecanismos de valorização econômica do carbono em nível internacional e nacional, por meio de sistema de precificação de carbono.
É importante promover o uso da madeira em diferentes atividades produtivas, que sirvam como vetores de demanda, economicamente viáveis, capazes de estimular e sustentar eventuais aumentos de oferta da produção florestal e os consequentes benefícios climáticos associados.
Gases de efeito estufa
Em 2009, durante a COP-15 da Convenção do Clima, em Copenhague, o governo brasileiro anunciou o compromisso voluntário de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) entre 36,1% a 38,9%, até 2020.
No setor agropecuário, o governo prometeu cortar as emissões de GEE entre 133 milhões e 166 milhões de toneladas, de 2010 a 2020, por meio da recuperação de pastagens degradadas, ampliação dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Sistemas Agroflorestais (SAF), sistema de plantio direto na palha, da fixação biológica de nitrogênio, da área com florestas plantadas e do manejo de dejetos animais.
Para o Acordo de Paris (COP-21 da Convenção do Clima), o Brasil apresentou metas mais ambiciosas que em 2009. Seu compromisso de redução de emissões de GEE foi ampliado para 37% até 2025 e para 43% até 2030 (nível de referência, ano de 2005) no documento denominado ‘Contribuição Determinada Nacional’ (NDC, sigla do inglês National Determined Contribution).
O Brasil apresentou também uma série de ações a serem adotadas internamente para atingir tais metas. Uma delas é promover a restauração e o plantio de 12 milhões de hectares de florestas nas próximas décadas.
Em 2015 a ONU lançou os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS, como sequência dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, como parte da Agenda Global 2030. São 17 objetivos e 169 metas, que atuam em todos os segmentos de vida na Terra.
O objetivo mais obviamente conectado com a atividade florestal é o ODS 15 – Vida Terrestre’, que visa proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.
Entre as metas está a 15.2, que visa promover a implementação da gestão sustentável de todos os tipos de florestas, deter o desmatamento, restaurar florestas degradadas e aumentar o florestamento e o reflorestamento globalmente até 2020.
São exemplos de ações relacionadas ao segmento florestal e que contribuem com estas metas: renda doméstica de famílias locais favorecida pela produção florestal; manejo de plantas medicinais oriundas da floresta; produção de água a partir da conservação de florestas; produção de energia limpa; construções ecológicas com madeira; conservação de áreas verdes em propriedades florestais; contribuição das florestas plantadas para a estabilização do clima.
Fomento
As florestas plantadas são, portanto, um destacado setor da economia brasileira, muito competitivo, fundamentado em bases sustentáveis e com grande potencial de expansão. No entanto, alguns desafios necessitam ser superados para gerar maior atratividade de investimentos para a atividade como um todo.
Entre eles, incluem-se maiores fomentos às atividades de plantio e manejo de florestas plantadas, além de pesquisas relacionadas à inserção do componente florestal em atividades agrícolas, como a Integração Lavoura-Pecuária-Pastagem e Agroflorestas.