André Luís Teixeira Fernandes
Doutor em Engenharia de Água e Solo, e professor da Uniube
Roberto Santinato
Engenheiro agrônomo do MAPA Procafé
Reginaldo de Oliveira Silva
Gerente do Campo Experimental Izidoro Bronzi, Araguari (MG)
EusÃmioFelisbino Fraga Júnior
Engenheiro agrônomo, doutor e professor da UFU
Para que a irrigação seja uma prática viável, justifica-se adotar práticas que promovam a produtividade, o lucro e a sustentabilidade. O gotejamento tem sido comprovadamente uma técnica que economiza água e insumos.
Todavia, problemas relacionados com o entupimento de mangueiras e a precipitação de sais inviabilizam o seu uso em algumas regiões, principalmente onde as águas provêm de rochas calcárias. Também se aumenta em muito o desperdÃcio de água e energia elétrica do sistema devido a esta situação.
Neste contexto, surge como alternativa o tratamento da água por campo magnético, que é um método sem utilização de produtos químicos ou energia elétrica (KRONENBERG, 2016).
Acredita-se que a água tratada utilizada para a irrigação pode melhorar a produtividade da água, conservando assim o abastecimento para a futura escassez de água. Este trabalho teve como objetivo avaliar a utilização da água magnetizada no crescimento e produção do cafeeiro irrigado por gotejamento.
Experimento
Instalou-se o ensaio no campo experimental da ACA (Associação dos Cafeicultores do Cerrado), em lavoura de café situada na Fazenda Chaparral, às margens da Rodovia do Café, km 09, município de Araguari (MG), latitude 18º38´, altitude 820 m. O clima é classificado pelo método de Köppen como Aw, tropical quente e úmido, com inverno frio e seco.
A precipitação anual é de 1.606 mm e a temperatura média anual é de 21,9ºC. O sistema de irrigação é o de gotejamento, com emissores autocompensantes. O café é da variedade Catuaà IAC 62 amarelo, idade de 11 anos, no espaçamento 3,70 x 0,70 m.
Foi utilizado o dispositivo comercial Sylocimol Rural para a magnetização da água.
Os tratamentos utilizados foram: Tratamento 1: irrigação com água sem tratamento; Tratamento 2: irrigação com aplicação de água magnetizada uma vez por semana (50% da necessidade de água da cultura do café) e Tratamento 3: irrigação com aplicação de água magnetizada duas vezes por semana (100% da necessidade de água da cultura do café).
O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, com três tratamentos e cinco repetições, totalizando 15 parcelas experimentais. Cada parcela contou com 20 plantas, sendo consideradas úteis as 10 plantas centrais. Os dados foram submetidos à análise estatÃstica com nível de significância de 5% de probabilidade.
As avaliações constaram de medidas biométricas (número de nós e comprimento de internódios), produtividade e qualidade. Para o beneficiamento, foram retiradas amostras de 1,0 kg de grãos em coco de cada tratamento, que passaram por uma máquina elétrica vibratória, depois a classificação das peneiras foi realizada manualmente (malhas de diâmetros 19, 18, 17, 16, 15, 14, <14).
Ao final da terceira colheita foi feita a análise quÃmica da água por tratamento, e também uma análise quÃmica dos grãos de café colhidos. Durante toda a condução do experimento, monitorou-se o teor de nutrientes nas folhas e no solo.
Resultados e conclusões
Na Tabela 1 constam os resultados de análise de solo e folha durante os quatro anos de condução do experimento. A saturação de bases está baixa nos três tratamentos, embora com aumentos significativos após a condução do experimento, principalmente nos tratamentos 2 e 3.
Não foram verificadas diferenças significativas nos resultados de análise de folha, ao longo dos quatro anos.
Tabela 1 ““ Evolução da fertilidade do solo e da folha, quatro anos de condução do experimento, Campo Experimental IzidoroBronzi, Araguari (MG)
Analisando-se os resultados de produtividade (Tabela 2), observa-se que houve aumento de até 16 sacas na média de três anos, comparando-se com a testemunha, para o tratamento com utilização de 100% de água magnetizada com o dispositivo comercial Sylocimol Rural.
Nos valores de hoje do café este acréscimo representa um retorno econômico maior para o cafeicultor, de R$ 8.000,00/ha/ano. Em experimento com alface, utilizando também o Sylocimol Rural para o tratamento magnético da água, Putti et al. (2015) obteve ganhos de produtividade de 63%.
As principais mudanças que ocorrem na água, conforme Putti et al. (2015) são a maior adsorção da água na superfície do solo, a cristalização e a precipitação de sais, a solubilização de alguns minerais e aumento da tensão superficial. A água, quando submetida a um campo magnético, aumenta a permeabilidade do solo, o que, consequentemente, aumenta a eficácia da irrigação.
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Tabela 2 ““ Produtividade em três safras, de tratamentos de água magnetizada, Campo Experimental IzidoroBronzi, Araguari (MG)
Em termos de maturação, existe tendência a aumento dos frutos cereja com a utilização de água magnetizada (Tabela 3).
Tabela 3 ““ Maturação dos frutos, quatro anos de condução do experimento, Campo Experimental IzidoroBronzi, Araguari (MG)
Na Tabela 4 constam os resultados da análise de água em agosto de 2015, após a colheita da terceira safra. Não foram verificadas diferenças significativas nos valores de pH, ferro e manganês.
Tabela 4 ““ Resultados da análise de água nos três tratamentos, coleta em agosto de 2015
Tratamentos | pH (H2O) | Fe (mg kg-1) | Mn (mg kg-1) |
Trat. 01 – Água sem tratamento (100% NC Irrigação) | 6,0 | 0,302 | 0,21 |
Trat. 02 – Água Magnetizada (50% NC Irrigação) | 6,4 | 0,348 | 0,322 |
Trat. 03 – Água Magnetizada (100% NC Irrigação) | 6,2 | 0,354 | 0,218 |
Após quatro safras consecutivas, concluiu-se que:
- A utilização da água magnetizada pelo Sylocimol Rural promoveu significativos aumentos na produtividade do cafeeiro, de 29 (metade da água aplicada) a 46% (toda a água aplicada).
- Em termos de qualidade, também se verificaram maiores percentagens de frutos cereja nos tratamentos magnetizados.
- A tecnologia da magnetização da água para irrigação produz novas possibilidades para o aumento da produção e redução do consumo de água na agricultura.