João Dimas Garcia Maia
PatrÃcia Ritschel
Joelsio José Lazzarotto
Pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho
A demanda de uvas de mesa no Brasil corresponde a um volume muito próximo da produção nacional. Isso porque os volumes de importação e exportação desse tipo de fruta são também muito próximos.
Em 2015, a produção total de uvas no Brasil foi de cerca de 1,50 milhão de toneladas. Dessa produção, em torno de 48% (0,72 milhão de toneladas) corresponderam a uvas de mesa, ou seja, uvas para consumo in natura. O restante (52%) foi destinado ao processamento, para elaboração de diversos produtos, como vinhos e sucos.
Considerando-se que em 2015 a produção nacional de uvas de mesa foi ao redor de 720 milhões de quilos, o consumo per capita anual da fruta no País foi de cerca de 3,6 kg. Esse consumo pode ser considerado baixo, o que evidencia que ainda existe um grande potencial para o mercado interno brasileiro.
Exportação
A região do Vale do Rio São Francisco já iniciou as exportações da uva BRS Vitória para o Reino Unido. Surpreendentemente, houve boa aceitação naquele mercado, o que abriu possibilidades de exportação fora dos períodos do ano nos quais a exportação brasileira de uvas é tradicional: em abril, no primeiro semestre (abril), e em outubro/novembro, no segundo semestre (outubro/novembro).
A cultivar BRS Vitória, por ser cultivada apenas no Brasil, não sofre concorrência com outros países. Assim, o Brasil poderá exportar uvasBRS Vitória praticamente o ano todo, ampliando as janelas de mercado para os exportadores nacionais.
Ainda é pequeno o volume de uvas de mesa exportado pelo Brasil. Em 2015, correspondeu a apenas cerca de 5% do total produzido, mostrando que há um grande potencial de expansão. Em 2015, foram exportadas uvas de mesa para 16 países, destaques para Holanda, Reino Unido e Alemanha, que importaram 51,9%, 27,8% e 9,5%, respectivamente, do total de uvas de mesa exportado pelo Brasil.
Exigências de mercado
O consumidor brasileiro busca, em primeiro lugar, a doçura e o sabor nas uvas de mesa. Quanto mais doces e menos ácidas são as uvas, mais o consumidor brasileiro gosta. Em alguns países, as preferências são similares às dos brasileiros. Por isso, temos conseguido exportar a BRS Vitória com facilidade.
Para quem aprecia sabor e doçura, o maior tamanho de cachos e das uvas não tem muita importância. A grande aceitação da uva BRS Vitória é uma prova disso: a nova cultivar quebrou alguns paradigmas, porque os atacadistas sempre valorizam mais as uvas de cachos e bagas de tamanho grandes.
Nesse sentido, para se conseguir uvas e cachos grandes, muitas vezes se faz uso de hormônios vegetais que melhoram a aparência geral, mas prejudicam a doçura e o sabor.
Os consumidores brasileiros, além de apreciar muito os sabores aframboesados das uvas Isabel, Niágara Rosada, e agora BRS Vitória, apreciam também o sabor moscatel, como das uvas Itália e Itália Muscat, e especialmente as de cor rosada e/ou vermelha com sabor moscatel (Rubi, Redmeire).
Uva BRS Vitória
Para o consumidor, a BRS Vitória é uma uva muito doce, saborosa e sem sementes, sem equivalência no mercado, além de ser mais sadia, devido à menor intensidade de aplicações de defensivos.
Para o produtor, é uma uva com menor custo de produção (demanda menos mão de obra e defensivosdo que as uvas finas com sementes, do grupo Itália), com maior preço de venda, portanto, commaior retorno econômico, além do seu cultivo proporcionar menores riscos ao viticultor, ao consumidor e ao meio ambiente.
Características
A uva BRS Vitória é totalmente sem sementes, e traz como principais características a ampla adaptação climática, a elevada produtividade, o alto teor de açúcares e o sabor especial (tipo aframboesado), único no mundo.
Além disso, é tolerante à principal doença da videira no Brasil, o míldio, causada por um fungo que ataca as folhas, ramos e cachos, podendo causar perdas de 100% à produção em variedades sensÃveis.Outra característica importante é que a cultivar BRS Vitória possui tolerância às chuvas durante a maturação, o que permite sua produção no primeiro semestre, quando é tradicional chover na região do Vale do São Francisco.
A produtividade média obtida nas regiões onde se pratica duas safras por ano (Vale do Rio São Francisco e região norte do Paraná) é em torno de 20 a 22 toneladas por ciclo, ou seja, 40 a 44 toneladas/hectare/ano. Já na região sudeste, onde se pratica duas podas/ano, porém com apenas uma safra, a produtividade é de 30 toneladas/hectare/ano.