Mirtes Freitas Lima
Engenheira agrônoma, Ph.D. em Fitopatologia e pesquisadora da Embrapa Hortaliças
Miguel Michereff Filho
Engenheiro agrônomo, D.Sc. em Entomologia e pesquisador da Embrapa Hortaliças
O tomateiro é afetado por diversas doenças, entre as quais as viroses são as mais complexas, pela ausência de tratamento curativo e pelos prejuízos resultantes na produção e na qualidade dos frutos. Os principais grupos de vírus que infectam o tomateiro são os geminivírus (gênero Begomovirus; família Geminiviridae) e os crinivírus (gênero Crinivirus; família Closteroviridae) ambos transmitidos por mosca-branca e os orthotospovírus (gênero Orthotospovirus; família Tospoviridae) transmitidos por tripes.
As orthotospoviroses são mais conhecidas pela denominação de “vira-cabeça“. Constituem um dos principais grupos de doenças de grande importância econômica para a cultura do tomateiro pela severidade dos sintomas que causam em cultivares suscetÃveis, assim como também pelos prejuízos, com redução da produção e qualidade dos frutos e ainda pelo aumento dos custos de produção devido às medidas de controle adotadas.
O nome vira-cabeça foi originado do sintoma típico de curvatura do ponteiro, que pode ser observado em plantas infectadas com esses vírus. A doença é causada por espécies de orthotospovírus cujos vetores são os tripes. Várias espécies de tripes são capazes de transmitir esses vírus de maneira eficiente.
A ocorrência do vira-cabeça é verificada na cultura,em especial, nos meses mais secos do ano e emmuitos casos pode resultar em perdas severas.Diversos fatores dificultam o controle da doença,como as várias espécies de plantas presentes nocampo que podem atuar como hospedeiras dosorthotospovírus e dos insetos vetores (tripes), o plantio de cultivares suscetÃveis, presença de elevadas populações de tripes em campo, além da eficiência do vetor na transmissão dos vírus. Todosestes fatores interferem de maneira significativa,favorecendo a ocorrência de surtos epidêmicos dadoença no campo.
Os orthotospovírus são considerados um dos principaisproblemas fitossanitários do tomateiro, tendose tornado causa de sérias perdas na cultura no passado. Entretanto, vêm sendo detectados emelevada incidência em lavouras de tomateiro emdiversos Estados brasileiros, causando perdasmesmo em cultivares tidas como resistentes à doença.
Sintomas da doença
Os sintomas causados pela doença podem variar segundoa cultivar, estádio de desenvolvimento daplanta na época da infecção, espécie do vírus,além de condições ambientais. Estesconsistem em bronzeamento de folhas apicais edesenvolvimento de inúmeras lesões necróticaspequenas de coloração marrom escura.
Essas lesões coalescem resultando naformação de extensas áreas necrosadas no limbofoliar. O ápice da planta pode se curvar e se apresentar completamente necrosado, morrendoposteriormente. Observa-se, ainda, redução do limbo foliar e a presença de anéiscloróticos e/ou necróticos, às vezes concêntricosnas folhas.
Sintomas de arroxeamento podemsurgir em folhas de plantas doentes. Manchasnecróticas escurecidas e de tamanho irregularsurgem em pecíolos de folhas, cálicee pedúnculos de frutos e também emhastes. Plantas afetadas pela doença podemapresentar drástica redução no desenvolvimento.
Quando a infecção das plantas ocorre nos estádiosiniciais de desenvolvimento, os sintomas são maisseveros e incluem além de manchas necróticas e/oucloróticas em folhas e frutos, necrose e curvatura do ápiceda planta e nanismo acentuado. Nesta condição, aprodução é significativamente afetada, podendo aplanta não produzir frutos comercializáveis e, muitofrequentemente, a infecção precoce pode resultarem morte da planta.
Entretanto, quando a infecção ocorre após o pegamento dos frutos,os danos resultantes podem ser menos severos. Neste caso, os frutos podem apresentar qualidade inferior devido à presença de lesões cloróticas e/ou necróticas em frutos ainda verdes ou quando maduros, comprometendo a comercialização.
É possível que o desenvolvimentoda doença possa ocorrer de forma assimétrica, emque severas distorções foliares estejam presentesem apenas um lado da planta. Em tomateiro, adoença pode ser causada por pelo menos quatroespécies de orthotospovírus (Tomatospottedwiltvirus““TSWV; Groundnutringspotvirus““ GRSV; Tomatochlorosis spot virus““ TCSV; Chrysantemumstemnecrosisvirus – CSNV). Os orthospovírus são transmitidos por tripes de maneira circulativa propagativa, na qual, o vírus é adquirido pelo inseto, nos primeiros estádios larvais e se multiplica dentro do corpo do inseto. Entre as espécies do vetor capazes de transmitir o vírus, Frankliniellaschultzeié a mais importante no Brasil (Tabela 1).
Entretanto, a diferenciaçãoentre as espécies de orthotospovírusnão é possível apenas deacordo com a avaliação de sintomas presentes emplantas infectadas, considerando-se que induzemsintomas muito similares em tomateiro. Dessaforma, para sua correta identificação devem-seutilizar ferramentas moleculares e/ou sorológicasespecíficas.
Tabela 1. Espécies de tripes e as respectivas espécies de orthotospovírus transmitidas por esses insetos vetores
Tripes (espécie) | Orhtotospovírus(espécie) |
 Frankliniellaoccidentalis* |
Chrysanthemum stem necrosis virus |
Groundnut ringspot virus | |
Tomato chlorotic spot virus | |
Tomato spotted wilt virus | |
Frankliniellaschultzei* |
Chrysanthemum stem necrosis virus |
Groundnut ringspot virus | |
Tomato chlorotic spot virus | |
Tomato spotted wilt virus | |
Frankliniellafusca | Tomato spotted wilt virus |
Frankliniellaintonsa |
Groundnut ringspot virus |
Tomato chlorotic spot virus | |
Tomato spotted wilt virus | |
Frankliniellabispinosa | Tomato spotted wilt virus |
Frankliniellagemina | Tomato spotted wilt virus |
Groundnut ringspot virus | |
Frankliniellacephalica | Tomato spotted wilt virus |
Thripstabaci* | Tomato spotted wilt virus |
Thripssetosus | Tomato spotted wilt virus |
*Espécies de tripes já relatadas no Brasil.
Fonte: adaptado de Riley et al. (2011).