Elen de Lima Aguiar Menezes
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), depto. de Entomologia e Fitopatologia, Centro Integrado de Manejo de Pragas
Uma nova proposta de controle biológico de larvas (lagartas) de lepidópteros, que são pragas das lavouras, consiste em distribuir cartelas ou cápsulas carregadas de ovos da vespa Trichogramma pela lavoura. A fêmea dessa vespa, depois de acasalada, parasita os ovos desses lepidópteros, e mata a praga antes que ela se transforme em lagarta. Assim, evita o dano na lavoura e impede a multiplicação da praga.
De acordo com experimentos em campo, a técnica reduz a infestação de 40% a 95%, dependendo da espécie praga e da cultura.
Já disponíveis
Existem empresas brasileiras que atuam no ramo do controle biológico de pragas e já produzem e comercializam duas espécies de Trichogramma: T. gallloi, que é específica para o controle de ovos de Diatraeasaccharalis (broca da cana-de-açúcar) e T. pretiosum, que parasita ovos de uma variedade de espécies de lepidópteros-pragas de diferentes culturas agrícola, entre elas Helicoverpaarmigera, Helicoverpazea (lagarta da espiga do milho ou conhecida também como a broca grande do tomate), Heliothisvirescens (lagarta da maçã do algodoeiro), Neoleucinodeselegantalis (broca pequena do tomate), Spodopterafrugiperda (lagarta do cartucho do milho), e Tuta absoluta (traça do tomateiro).
A Embrapa Milho e Sorgo também comercializa T. pretiosum para controle de ovos da Spodopterafrugiperda.
A multiplicação
Em geral, essa vespinha é multiplicada em laboratórios especializados usando ovos de um hospedeiro alternativo (ovos da mariposa Anagastakuehniella, mais conhecida como traça da farinha de trigo, que não é praga em lavouras).
Os ovos dessa mariposa são esterilizados em geral com radiação ultravioleta, sendo ofertados para as fêmeas do Trichogramma, as quais os parasitam. Os ovos dessa mariposa, depois de parasitados pela vespinha, são acondicionados em embalagens especiais, como cápsulas biodegradáveis ou cartelas de cartolina ou papelão, com subdivisões conhecidas como células ou subcartelas destacáveis, para serem vendidos como produto biológico contendo Trichogramma.
Dentro de cada subdivisão da cartela existe uma cola especial onde são fixados os ovos de A. kuehniella parasitados pela vespinha. A quantidade de ovos parasitados por cartela varia com o fabricante.
Em campo
A atuação das vespinhas Trichogramma no campo é resultado da necessidade de reprodução da espécie. Para se reproduzir, independente da espécie de Trichogramma, a fêmea dessa vespinha, depois de fecundada pelo macho, voa pela lavoura procurando os ovos de lepidópteros pragas (seus hospedeiros).
Ao encontrá-los, deposita seus ovos no interior dos ovos de suas pragas hospedeiras, quando então dizemos que os ovos dessas pragas foram parasitados. Todo o ciclo de vida da vespinha (ovo-larva-pupa-adulto) ocorre dentro do ovo da praga. A larva da vespinha, que é carnÃvora, dentro do ovo da praga vai se alimentar do embrião deste, portanto, levando à sua morte, inviabilizando o desenvolvimento da praga em lagarta, portanto, controlando a praga antes que sejam causados danos às lavouras.
Ao terminar o ciclo de vida, quando a vespinha se tornar adulta, ela abre um orifÃcio no corion (casca) do ovo da praga, por onde sai do seu interior. Todo o ciclo de vida da vespinha leva de sete a 15 dias, dependendo da temperatura do ambiente (dura cerca de 10 dias, Ã temperatura de 25°C) e é notado que o ovo que lhe serve de hospedeiro vai adquirindo coloração escura mais ao final do ciclo, culminando com a saÃda de um novo adulto da vespinha (parasitoide).
Como resultado, observa-se que, para cada ovo da praga, tem-se a emergência não de uma lagarta, mas de um ou mais adultos da vespinha que reiniciarão o processo de busca por outros ovos de seus hospedeiros e, consequentemente, de sua atividade de parasitismo.
Os adultos das vespas se alimentam do néctar e pólen das flores, vivendo em torno de três a cinco dias no campo. Nesse tempo, o novo parasitoide (vespinha adulta) se multiplicará na cultura utilizando o ovo da praga para sua reprodução em campo.
As fêmeas de Trichogramma são capazes de colocar de 70 a 120 ovos, variando com a espécie, durante um período médio de 10 dias de vida, tendendo a morrer após esse tempo, principalmente na ausência de alimento (especialmente néctar e pólen), e geralmente colocam um ovo por ovo do hospedeiro.