Thiago Cardoso de Oliveira
Marco Antônio Pereira Ávila
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Energia Nuclear na Agricultura e Ambiente pelo CENA/USP
Antonio Malvestitti Neto
Paula Castanho Borges
Acadêmicos de Engenharia Agronômica do IFSULDEMINAS ““ campus Muzambinho
Ariana Vieira Silva
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia e professora do IFSULDEMINAS ““ Campus Muzambinho
Um elemento químico é classificado como nutriente quando ele é considerado essencial para a planta. O professor Malavolta, em seu manual de nutrição mineral de plantas, divide os elementos em essenciais, benéficos ou tóxicos.
O silício (Si) não é considerado um elemento essencial, mas sim benéfico para as plantas, ou seja, sua ausência não levará a planta à morte, porém, em muitos casos ele aumenta o crescimento e a produção.
O Si contribui para o crescimento das plantas e para o aumento de produtividade de diversas maneiras, tais como melhora das condições morfológicas e bioquímicas, contribuindo diretamente para a nutrição e aumentando a resistência a pragas e doenças, e atuando em várias rotas de estresse na planta.
O professor Epstein, outro grande pesquisador da nutrição vegetal, afirma que não se deve engessar o conceito de essencialidade quando se trata do Si, visto que em situações adversas a falta do elemento causa problemas no desenvolvimento de um grande grupo de plantas. O termo “quase essencial“, consequentemente, tem sido aplicado para o Si.
O caso da cana
A cana-de-açúcar é considerada uma planta acumuladora de silício (Si), extraindo grandes quantidades, superiores até às de potássio e nitrogênio, os dois nutrientes mais absorvidos pela planta.
Nos solos, o Si disponível às plantas tem origem no intemperismo dos minerais primários e, particularmente, dos minerais secundários como os argilossilicatos. O Si está presente na solução do solo como ácido silÃcico ou monossilÃcico (H4SiO4), na forma não-dissociada, em sua maioria, facilmente absorvida pela planta.
De modo geral, as soluções dos solos apresentam teores de Si dissolvidos, variando entre 2,8 e 16,8 mg/L, sendo que o equilíbrio dinâmico do elemento no solo depende do pH.
Dentre as principais fontes de H4SiO4 presentes na solução do solo, podemos citar: a decomposição de resíduos vegetais; a dissociação do ácido silÃcico polimérico; a liberação de Si dos óxidos e hidróxidos de Fe e Al; a dissolução de minerais; a adição de fertilizantes silicatados e a água de irrigação.
Os principais drenos de silício incluem a transformação do H4SiO4 em minerais; a polimerização; a lixiviação; a adsorção em óxidos e hidróxidos de Fe e Al e a própria absorção pelas plantas.
Si na planta
O Si é absorvido do solo por meio das raízes, no seu estado neutro, na forma de ácido monossilício, por fluxo de massa, que não é seletivo, ou seja, juntamente com a entrada de água na planta. Da raiz até a parte aérea da planta, o transporte do Si é feito pelo xilema, pela perda de água para a atmosfera, por meio da transpiração.
O acúmulo do ácido monossilÃcico ocorre principalmente nas paredes das células, contribuindo para o fortalecimento da estrutura da planta e aumentando a resistência ao acamamento e ao ataque de pragas e doenças.
A absorção e acúmulo do Si apresenta variação de acordo com as cultivares, influindo no teor de Si nas folhas, porém, estes giram em torno de 1%. Observa-se a existência de uma relação muito estreita entre os teores foliares e a dose de Si aplicada.
O acúmulo de Si nas folhas aumenta a capacidade fotossintética devido à melhoria da arquitetura da planta, da interceptação da luz solar e resistência ao estresse hídrico.
O uso do Si também aumenta a clorofila das folhas. Trabalhos em que se aplicou 15 t/ha de silicato aumentaram os teores de clorofila em 78 e 65% em cana-planta e cana-soca, respectivamente.
O ataque de pragas, principalmente a broca do colmo, cigarrinha e doenças tais como a ferrugem e outras, é diminuÃdo em cultivares com maiores acúmulos de Si. Em experimento variando a dosagem de silicato de cálcio (0, 2.500 e 5.000 kg/ha, equivalentes a 425 e 850 kg/ha de Si puro, respectivamente), os tratamentos com Si resultaram em significativo aumento da resistência da cana-de-açúcar ao ataque de Eldana saccharina, broca-do-colmo que ataca lavouras na África do Sul.
De modo geral, a massa de brocas e os danos causados pela mesma foram reduzidos em aproximadamente 19 e 33%, respectivamente, quando a dose de Si foi de 2,5 e 5 t/ha.
Em ambientes com déficit hídrico, o acúmulo de Si nas folhas gera uma dupla camada de sÃlica cuticular, onde, pelo aumento da espessura da epiderme da folha, ocorre uma redução da transpiração, diminuindo a abertura dos estômatos e limitando a perda de água das plantas.