Anderson Carlos Marafon
DSc. e pesquisador em Fisiologia Vegetal da Embrapa Tabuleiros Costeiros – UEP Rio Largo/AL
A boa utilização do enxofre (S) é fundamental para os sojicultores obterem maior produtividade. A principal função do S nas plantas é estrutural, na composição de alguns aminoácidos (cisteÃna, cistina, metionina, taurina) e, devido a isso, está presente em todas as proteínas vegetais, inclusive enzimáticas, estando envolvido também na formação da clorofila.
O constante uso de fertilizantes que não contêm S, aliado ao baixo teor de matéria orgânica de alguns solos, pode resultar em limitação desse nutriente para a cultura da soja. Altos rendimentos podem ser alcançados mediante o suprimento de S via adubação. Trabalhos já revelaram incrementos produtivos da ordem de 100 a 500 kg/ha em resposta à aplicação de 25 a 75 kg ha-1 de enxofre.
Importância do enxofre para a soja
Atualmente, a deficiência de enxofre (S) em solos cultivados tem sido cada vez mais frequente. Dentre as principais razões que têm tornado o nutriente limitante às culturas estão: aumento da produtividade (maior extração do S), aumento do uso de fertilizantes concentrados (que contêm pouco ou nenhum S), menor uso de agrotóxicos contendo o elemento e imobilização do S da matéria orgânica no caso dos sistemas conservacionistas (plantio direto e cultivo mÃnimo).
Nas leguminosas produtoras de grãos alimentÃcios, o enxofre está ligado diretamente ao aumento no teor de óleos e proteínas.
Os grãos de soja [Glycinemax (L.) Merrill] apresentam elevados teores de óleos (20-22%)e de proteínas(40-42%), por isso, a espécie é exigente em enxofre, requerendo do solo aproximadamente 8,2 kg de S para cada tonelada produzida, enquanto o milho e o trigo exigem 2,6 kg e 4,3 kg por tonelada, respectivamente.
Cerca de 40% do S absorvido pela soja é exportado pelos grãos. Estes teores de S entre 2,5 e 3,0 g kg-1 são com base na matéria seca. A relação N/S dos grãos gira em torno de 30/1.
Baixos teores do enxofre no solo podem afetar a nutrição da soja, especialmente em solos pobres neste nutriente, provocando reduções na produtividade, na qualidade dos grãos e na tolerância aos fatores ambientais adversos (bióticos ou abióticos).
Efeitos do S
O S é absorvido predominantemente como Ãon divalente (SO42-), com transporte à longa distância, ocorrendo, principalmente, via xilema, com baixamobilidade no floema. Por isso, os sintomas de deficiência consistem em clorosenas folhas mais novas, incluindo os feixes vasculares, semelhante à deficiência de nitrogênio (N), porém, no caso do N a clorosetem início nas folhas mais velhas.
A deficiência de S ocorre com maior frequência em solos tropicais ácidos, com baixa quantidade de matéria orgânica e textura arenosa. Além disso, o uso intensivo de calcárioe de fertilizantes que não contêm enxofre em sua composição torna estenutriente ainda mais escasso às culturas. Solos com menos de 20 g kg-1 de matéria orgânica são os que comumente apresentam deficiência de enxofre.
As principais entradas de S no solo são provenientes da mineralização do S orgânico, de emissões atmosféricas (chuvas ácidas) e do aporte de formulaçõesde fertilizantes NPK contendo S.
Já as principais formas de perda de S nos solos acontecem pela adsorção do sulfato aos óxidos de Fe e Al e às argilas, lixiviação, erosão, exportação das culturas e, em menor quantidade, pela volatilização do S, no caso de solos alagados(Lucheta&Lambais, 2012).
Quando aplicar
Malavolta (2006) afirma que mais de 90% do S total do solo está na forma orgânica e que as maiores concentrações de S estão nas camadas mais profundas devido ao pH ser mais baixo. Por isso, para a análise de solo é importante efetuara amostragem nas camadas de 0 a 20 e 20 a 40 cm do perfil.
As recomendações de adubação com S em função da interpretação da análise de solovariam entre as regiões do País.Nos Cerrados,teores de S inferiores ou iguais a 4 mg dm-3 são considerados baixose demandam adubação sulfatada (Alvarez et al., 1983).
Já noRio Grande do Sul e emSanta Catarina, teores de S menores ou iguais a 2 mg dm-3são considerados crÃticos (CFS-RS/SC, 1994).No estado do Paraná,os níveis crÃticos de S são de 10 e 35 mg dm-3 para solos com teor de argila maior que 40% e de 3 e 9 mg dm-3 para solos com teor de argila menor que 40%, considerando-se as profundidades de 0-20 cm e 20-40 cm, respectivamente(Sfredo et al., 2003).
Como as análises químicas do solo nem sempre avaliamprecisamente a deficiência de S, a determinação dos teores deste nutriente emtecidos pode ser mais precisa.Divitoet al. (2015) determinaram teores crÃticos de enxofre de 2,65 g S kg-1 para folhas, de 2,06 g S kg-1 para os colmos e de 3.93 g S kg-1 para os grãos de soja, ambos tecidos coletados entre os estágios R1 e R3 (Fehr&Caviness, 1977).
Em geral, os teores de S nas folhas de soja são considerados suficientes quando estão entre 2,0 a 4,0 g kg-1. Se a deficiência em enxofre for detectada via diagnose foliar ainda nos estádios vegetativos, a aplicação de enxofre elementarvia foliar em associação com outros nutrientes (N, P e K) na fase de enchimento de grãospode proporcionar ganhos produtivos e de qualidade.