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Aplicação antecipada do fósforo e potássio a lanço no feijão

Alfredo Scheid Lopes

Engenheiro agrônomo, mestre, PhD e professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA)

ascheidl@dcs.ufla.br

 

Crédito Cristiano de Oliveira
Crédito Cristiano de Oliveira

A aplicação do conceito dos 4C’s (produto certo, local certo, dose certa e época certa) é o que garante o sucesso da prática da adubação. Na maioria das vezes, princípios desenvolvidos décadas atrás ainda se aplicam para que as adubações alcancem os objetivos propostos quanto à produtividade das mais variadas culturas e com mínimos impactos ao meio ambiente.

Nesse sentido, para as culturas anuais, como o feijoeiro, a adubação correta, na maioria das vezes, seria aplicar no sulco de semeadura, 5 cm ao lado e 5 cm abaixo da semente, 1/3 do nitrogênio, todo o fósforo e todo o potássio. Entre 25 e 30 dias após a emergência seria realizada a adubação em cobertura com nitrogênio, aplicando 2/3 da dose de N recomendada.

Nos últimos anos, entretanto, tem ocorrido uma tendência generalizada de antecipação da adubação fosfatada e, em alguns casos, da adubação potássica, com aplicação de fertilizantes a lanço em área total. Essa estratégia de manejo é utilizada para permitir maior agilidade na posterior operação de semeadura da cultura.

A antecipação da adubação fosfatada e potássica no feijoeiro pode oferecer bons resultados - Crédito Ana Maria
A antecipação da adubação fosfatada e potássica no feijoeiro pode oferecer bons resultados – Crédito Ana Maria

No ponto certo

A antecipação da adubação fosfatada e potássica no feijoeiro pode oferecer bons resultados em relação à produção e produtividade da cultura, mas isso não é regra geral e merece uma discussão mais detalhada, levando-se em conta os seguintes pontos:

â–º O fósforo e o potássio fornecidos pelos fertilizantes são supridos às plantas principalmente pelo processo de difusão, o que significa que esses nutrientes não se movimentam mais do que poucos milímetros do ponto de aplicação para chegar às raízes e serem absorvidos pelas plantas. Isso faz com que seja crucial a distribuição dos fertilizantes contendo esses nutrientes ao longo da linha de semeadura, 5 cm ao lado e 5 cm abaixo da semente.

â–º Quando um solo está adequadamente suprido de fósforo e de potássio, ou seja, com o decorrer de anos de cultivos e uso de adubações adequadas, a disponibilidade desses nutrientes nas análises de solo estará adequada ou alta (ver tabelas de interpretação de análises de solos). Essa antecipação da adubação fosfatada e potássica poderá ser realizada com a distribuição dos fertilizantes a lanço em área total, sem ocorrer prejuízos à produtividade do feijoeiro.

â–º Entretanto, quando essa antecipação da adubação fosfatada e potássica é realizada em solos deficientes nesses nutrientes, a produtividade poderá ser afetada por dois motivos:

1) No caso da antecipação da adubação fosfatada, com distribuição do fertilizante a lanço em área total, o problema da fixação de fósforo com compostos de ferro e alumínio dos nossos solos será intensificado, diminuindo a disponibilidade de fósforo na solução do solo para a nutrição adequada do feijoeiro.

Esse problema torna-se mais intenso quanto maior for o tempo entre a adubação antecipada de fósforo e a semeadura do feijão. Além disso, o processo é acelerado com a adequada disponibilidade de água no solo no período precedente à semeadura;

2) no caso da adubação potássica, o problema da antecipação está ligado à excessiva diluição das doses aplicadas de fertilizantes potássicos a lanço em áreas deficientes desse nutriente. Não havendo potássio suficiente ao lado e abaixo da semente, a nutrição potássica será afetada para menos.

 

Próximo às tabelas -Crédito Cristiano de Oliveira
Próximo às tabelas -Crédito Cristiano de Oliveira

Otimização

Para otimizar a interpretação da análise de solo em relação à disponibilidade de fósforo no solo são apresentados, na Tabela 1, os critérios relativos ao método de Mehlich-1 (que é adotado na maioria dos laboratórios do Brasil), e na Tabela 2 os critérios pelo método da Resina, utilizado nos laboratórios do sistema IAC.

Na Tabela 1 a interpretação do resultado da análise, para verificar se a disponibilidade de fósforo no solo está adequada (o que aumentaria a probabilidade de sucesso na antecipação da adubação fosfatada) é levado em consideração: se a cultura é de sequeiro ou irrigada; e a percentagem de argila ou do P-remanescente da área a ser cultivada com o feijoeiro. Nesta mesma Tabela 1, a interpretação da disponibilidade de potássio,que deve ser pelo menos adequada, leva em consideração a CTC a PH 7,0 da gleba considerada.

Crédito Shutterstock
Crédito Shutterstock

Tabela 1. Interpretação de análise de solo para fósforo pelo extrator Mehlich1 em função da percentagem de argila ou do nível de P remanescente e para potássio pelo extrator de Mehlich em função de níveis de CTC a pH7,0.

    Fósforo disponível, extrator Mehlich 1 – sistemas de sequeiro
Teor de argila (%) P remanescente Muito

baixo

Baixo Médio Adequado Alto
    ————————————-mg/dm3————————————
≤ 15 46 a 60 0 a 6 6,1 a 12 12,1 a 18 18,1 a 25 > 25
16 a 35 31 a 45 0 a 5 5,1 a 10 10,1 a 15 15,1 a 20 > 20
36 a 60 11 a 30 0 a 3 3,1 a 5 5,1 a 8 8,1 a 12 > 12
> 60 ≤ 10 0 a 2 2,1 a 3 3,1 a 4 4,1 a 6 > 6
    Fósforo disponível, extrator Mehlich 1 – sistemas irrigados
    ————————————-mg/dm3————————————
≤ 15 46 a 60 0 a 12 12,1 a 18 18,1 a 25 25,1 a 40 > 40
16 a 35 31 a 45 0 a 10 10,1 a 15 15,1 a 20 20,1 a 35 > 35
36 a 60 11 a 30 0 a 5 5,1 a 8 8,1 a 12 12,1 a 18 > 18
> 60 ≤ 10≤≤≤ 0 a 3 3,1 a 4 4,1 a 6 6,1 a 9 > 9
Potássiodisponível, extratorMehlich 1
CTC a pH 7,0 (cmolc/dm3) Baixo

 

Médio Adequado Alto
< 4 cmolc/dm3 ≤ 15 16 a 30 31 a 40 > 40
4 a 8 cmolc/dm3 ≤ 25 26 a 50 51 a 80 > 80
> 8 cmolc/dm3 ≤ 40 41 a 80 81 a 120 > 120
         

Fonte: Adaptado de Sousa e Lobato, 2004.

Na Tabela 2 são apresentados os critérios de interpretação da disponibilidade de fósforo e potássio extraídos pela resina, sistema utilizado nos laboratórios que adotam o sistema IAC. Neste caso, a disponibilidade de fósforo e potássio deve estar, pelo menos, na faixa considerada alta para elevar a probabilidade de sucesso na antecipação das adubações fosfatadas e potássicas.

Tabela 2. Interpretação de análise de solo para fósforo e potássio, para culturas anuais, pelo método da Resina

——————————————————-Fósforo———————————————————–
————————————————Produção Relativa (%)———————————————–
0-70 71-90 91-100 > 100 > 100
—————————————————-Fósforo (mg/dm3)————————————————–
Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto
0 a 6 7 a 15 16 a 40 41 a 80 > 80
————————————————-Potássio (mmolc/dm3)————————————————
0,0 a 0,7 0,8 a 1,5 1,6 a 3,0 3,1 a 6,0 > 6,0
         

Fonte: Raijet al. (ed.), 1996.

Essa matéria completa você encontra na edição de maio 2016 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua para leitura integral.

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